Eles vigiam-nos e têm de ser vigiados
A assunção de culpa do Facebook, as consequências nefastas deste escândalo que não cessam de ter impacto ainda hoje, devem-nos fazer repensar seriamente o papel que estas empresas têm nas nossas vidas.
São 4,5 mil milhões de euros. É um número esmagador, bastante difícil de processar na escala humana em que a maioria de nós vive. Talvez ajude a perceber a dimensão se soubermos que este valor é nove vezes o orçamento do Ministério da Cultura português para 2019 ou que, durante o ano de 2018, a UNICEF gastou “só” três mil milhões de euros no apoio às crianças de 150 países.
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São 4,5 mil milhões de euros. É um número esmagador, bastante difícil de processar na escala humana em que a maioria de nós vive. Talvez ajude a perceber a dimensão se soubermos que este valor é nove vezes o orçamento do Ministério da Cultura português para 2019 ou que, durante o ano de 2018, a UNICEF gastou “só” três mil milhões de euros no apoio às crianças de 150 países.
Mas foi esse valor recorde de 4,5 mil milhões que o Facebook aceitou pagar à Comissão Federal do Comércio dos EUA para cessar as investigações abertas nos últimos dois anos por violação da privacidade dos utilizadores desta rede social. A este número vale a pena ainda acrescentar o meio milhão de euros em que foi multado no ano passado pela agência britânica de protecção, porque o escândalo tem um nome comum dos dois lados do Atlântico: Cambridge Analytica.
Esta foi a empresa que, através de dados recolhidos no Facebook, primeiro ajudou os defensores do “Brexit” a vencer no referendo e depois Donald Trump a conquistar a presidência dos Estados Unidos. Não por acaso, teve como seu vice-presidente Steve Bannon e como financiador o milionário conservador Robert Mercer, que em nada se importam que o caminho para essas vitórias se alicerce na polarização das comunidades onde actuaram.
A assunção de culpa do Facebook, as consequências nefastas deste escândalo que não cessam de ter impacto ainda hoje, devem-nos fazer repensar seriamente o papel que estas empresas têm nas nossas vidas e a forma como utilizam aquilo que se transformou num dos recursos mais valiosos do mundo, os nossos dados pessoais.
Necessitamos de vigilantes mais atentos, de regulamentos aplicados com inflexibilidade e da força de autoridades transnacionais como a União Europeia que, não por acaso, é vista do outro lado do Atlântico como a única entidade capaz de enfrentar estes poderosos gigantes norte-americanos. E esta é também uma corrida contra o tempo, contra a normalização da utilização indevida dos nossos dados, pois a geração que nasceu já com a Internet parece cada menos sensível ao destino que lhes é dado.
É preciso muita força, se calhar até partir o Facebook em bocados, para contrariar a lógica dos números. Porque cinco mil milhões de euros de multa podem parecer-nos muito dinheiro mas, afinal, o que é isso para uma empresa que no primeiro trimestre de 2018 facturava 565 mil euros a cada cinco minutos e meio?