Investigadores dizem que há casas reconstruídas em zonas de incêndio que não são antifogo florestal
Equipa de engenheiros do Instituto Superior Técnico diz que as casas que foram reconstruídas em Pedrógão têm “os mesmos erros”: uma cobertura em madeira e sem protecção antifogo.
As casas antifogo florestal devem ter uma cobertura em betão ou em terraço, propõe uma equipa do Instituto Superior Técnico, da Universidade de Lisboa, coordenada pelo engenheiro Fernando Branco. E, se a cobertura for um terraço, deve ter uma torneira para usar em caso de incêndio, diz ao PÚBLICO o coordenador da equipa que desenvolveu uma linha de investigação sobre como construir casas “antifogo” florestal. Depois de analisar as características das casas que foram afectadas pelos grandes incêndios de 2017 (de Pedrógão Grande, em Junho, e de 15 de Outubro), e das causas de ignição, esta equipa chegou à conclusão que aquelas tinham características particulares, afirma o engenheiro: “Tinham cobertura com estruturas de madeira, que era o que alimentava os fogos.”
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As casas antifogo florestal devem ter uma cobertura em betão ou em terraço, propõe uma equipa do Instituto Superior Técnico, da Universidade de Lisboa, coordenada pelo engenheiro Fernando Branco. E, se a cobertura for um terraço, deve ter uma torneira para usar em caso de incêndio, diz ao PÚBLICO o coordenador da equipa que desenvolveu uma linha de investigação sobre como construir casas “antifogo” florestal. Depois de analisar as características das casas que foram afectadas pelos grandes incêndios de 2017 (de Pedrógão Grande, em Junho, e de 15 de Outubro), e das causas de ignição, esta equipa chegou à conclusão que aquelas tinham características particulares, afirma o engenheiro: “Tinham cobertura com estruturas de madeira, que era o que alimentava os fogos.”
Uma tese de mestrado inserida no trabalho desta equipa, de Teresa Tenreiro, que se intitula justamente Repensar as Habitações para os Fogos Florestais, analisa relatórios e entrevista a técnicos das autarquias. “As casas com cobertura em madeira são muito mais vulneráveis não por causa da distância a que estão da floresta mas porque ardem por causa das faúlhas, que chegam a propagar-se a dois quilómetros”, diz Fernando Branco, que orientou a tese. “Não é por se porem as casas afastadas a 50 ou 100 metros da floresta que se evita que as faúlhas lá cheguem. A solução é repensar as casas para evitar que voltem a arder. Chocou-nos quando vimos neste plano de reabilitação que muitas casas estão a ser reconstruídas com os mesmos erros, com a tal cobertura em madeira, sem qualquer protecção antifogo. Quando vier o próximo fogo vão voltar a arder”, garante. Isto porque as faúlhas, quando há um fogo, vão atacar a “estrutura de madeira”, acrescenta.
Uma casa antifogo florestal é assim uma casa que evita que o fogo de uma floresta entre em materiais combustíveis que estão dentro da casa. Isso significa ter um telhado em estrutura de betão e ter protecções nas janelas e portas. As portadas devem ser de alumínio com isolante térmico no interior — porque uma faúlha desfaz uma persiana de plástico: “Há incêndios que começam precisamente através das janelas: os plásticos começam a arder, partem os vidros e depois as faúlhas entram para dentro de casa”, descreve. “O conceito é isolar a casa de modo a que não entrem faúlhas.”
Já na prevenção de fogos em aldeias isoladas — casos em que a protecção civil não chega a tempo e as pessoas são cercadas pelo fogo sem conseguirem fugir — o conceito proposto por esta equipa é ter em cada aldeia pelo menos um abrigo antifogo. “Esse abrigo pode ser uma casa concebida daquela maneira ou então pequenos abrigos com laje de piscina na cobertura.”
A equipa estudou também soluções para casas que têm cobertura de madeira e não arderam e que poderão ser requalificadas seguindo a mesma lógica: proteger a cobertura com sistema de painéis antifogo. “Isso obrigaria a levantar os telhados para colocar essa protecção mas transformávamos casas que correm o risco de arder em casas com protecção antifogo”, especifica.