Abbas declara que vai deixar de respeitar acordos com Israel

Líder da Autoridade Palestiniana (AP) reage a demolições levadas a cabo por Israel em território palestiniano. Mas Abbas já fez esta ameaça outras vezes e não a concretizou.

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Mahmoud Abbas anuncia criação de comissão para decidir sobre interrupção de acordos com Israel EPA

O Presidente da Autoridade Palestiniana (AP), Mahmoud Abbas, anunciou o fim de todos os acordos com Israel, dizendo que estava criada uma comissão para decidir como pôr em prática a decisão. A declaração foi feita na sequência da demolição, por Israel, de dezenas de casas palestinianas num bairro de Jerusalém que fica numa zona sob controlo da AP.

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O Presidente da Autoridade Palestiniana (AP), Mahmoud Abbas, anunciou o fim de todos os acordos com Israel, dizendo que estava criada uma comissão para decidir como pôr em prática a decisão. A declaração foi feita na sequência da demolição, por Israel, de dezenas de casas palestinianas num bairro de Jerusalém que fica numa zona sob controlo da AP.

Abbas, 84 anos, já fez esta ameaça antes mais do que uma vez. A cooperação entre Israel e a AP é importante para ambas.

É uma medida que o prejudicaria primeiro a Autoridade Palestiniana e os palestinianos, cuja vida depende muitas vezes da possibilidade de passar pelos checkpoints do exército (muitos deles dentro da própria Cisjordânia) e da cooperação entre as autoridades, desde a distribuição de energia eléctrica e água até aos impostos: é Israel que recolhe a maior fatia dos impostos palestinianos e os entrega à AP.

Mas um rompimento dos acordos deixaria também Israel sem a preciosa cooperação de segurança da Autoridade Palestiniana, que investiga e detém palestinianos que planeiem levar a cabo ataques contra o Estado hebraico.

O veterano negociador Aaron David Miller, um dos maiores especialistas americanos no conflito israelo-palestiniano, comentou no Twitter: “Se isto for mais do que as suas ameaças recorrentes… Houston, Israel tem um problema” (usando a expressão usada pela tripulação da missão Apolo 13 para comunicar um problema tão grave que impediu a planeada aterragem na Lua).

A reacção geral à declaração de Abbas foi de algum cepticismo, mas a emissora alemã Deutsche Welle aponta que raras vezes a ameaça foi proferida com tanta clareza.

“À luz da insistência da autoridade da ocupação [Israel] em negar todos os acordos assinados e as suas obrigações, anunciamos a decisão da liderança [palestiniana] de deixar de trabalhar à luz dos acordos assinados com o lado israelita”, disse Abbas num discurso em Ramallah, na quinta-feira, citado pela agência de notícias Wafa.

“Não vamos curvar-nos perante ordens ou factos consumados em Jerusalém ou noutros locais”, declarou o líder da AP, acrescentando que a demolição de casas que Israel levou a cabo no início da semana “ignora” todos os acordos assinados com a AP.

O primeiro-ministro palestiniano, Mohammed Shtayyeh, considerou a acção de Israel um “crime de guerra e um crime contra a humanidade” por ser “a continuação da deslocação forçada" dos palestinianos de Jerusalém “das suas casas e terras”, dizendo ainda que os palestinianos iriam formalizar uma queixa no Tribunal Penal Internacional.

Israel argumenta que as casas estavam demasiado perto da vedação que separa a Cisjordânia ocupada do seu território, e que assim eram um perigo de segurança. Invoca um acórdão do seu Supremo Tribunal que considerou que as casas não deveriam ter sido construídas.

As casas estavam numa situação muito particular: numa zona sob controlo total da AP mas do lado israelita da vedação de segurança. 

Nenhum representante do Estado hebraico comentou a declaração de Abbas, mas a emissora britânica BBC lembra que Israel disse no passado que um romper dos acordos significaria o fim da Autoridade Palestiniana, criada na sequência dos Acordos de Oslo de 1993 e que funciona como governo palestiniano.