Electric Shaker quer abanar Lisboa com cocktails de autor
Aqui, não há que ter vergonha de experimentar. Neste novo bar vizinho do Marquês de Pombal, os cocktails são a voz de quem está atrás do balcão.
Tudo começou em Lisboa, no Hard Rock Cafe. Em 2003, Hugo ainda estudava na universidade, mas resolveu saltar para trás de um balcão. Foi ali, no antigo cinema Condes, na Avenida da Liberdade, que o bartending, como já se fazia nas restantes capitais mundiais, primeiro chegou a Lisboa. A elaboração das misturas passava por um processo criativo de experimentação de diferentes espirituosas e ingredientes – desde os aromas às texturas. Daí resultavam cocktails harmoniosamente afinados e aliados a um serviço atento.
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Tudo começou em Lisboa, no Hard Rock Cafe. Em 2003, Hugo ainda estudava na universidade, mas resolveu saltar para trás de um balcão. Foi ali, no antigo cinema Condes, na Avenida da Liberdade, que o bartending, como já se fazia nas restantes capitais mundiais, primeiro chegou a Lisboa. A elaboração das misturas passava por um processo criativo de experimentação de diferentes espirituosas e ingredientes – desde os aromas às texturas. Daí resultavam cocktails harmoniosamente afinados e aliados a um serviço atento.
Mais tarde, Ana e Luís juntaram-se a Hugo na Avenida da Liberdade. Mas os seus caminhos cedo divergiram. Para trás só ficou a amizade entre os três. Fruto dela, nasceu o Electric Shaker, um dos novos bares de Lisboa, em que a atenção dada ao pormenor pretende desmistificar a experiência de fruir uma bebida pensada de raiz. Sem medos.
Hugo Gonçalves, 35 anos, ficou por Lisboa até 2006. Depois, partiu para Londres, onde tomou contacto com a realidade da alta-roda dos bares da capital britânica. Antes disso, ainda pensou que o seu futuro passasse por um trabalho das 9h às 17h, mas a ideia não tardou a cair por terra. Viajou pelo Norte de África, pelo Médio Oriente. Até que rumou à Austrália por mais seis anos, onde ficou encarregue da gestão do Hard Rock para os mercados da Austrália e da Nova Zelândia.
Ana Marques, de 35, sua amiga desde os tempos de meninice, seguiu um percurso diferente. Passou 12 anos a trabalhar na banca, dez deles nas margens do rio Tamisa. Mas o desejo de uma vida fora do escritório falou mais alto. Em Agosto do ano passado, os dois amigos coincidiram em Lisboa. Entre conversas, aperceberam-se de uma aspiração comum. Queriam deixar a vida que levavam e dedicarem-se a um novo projecto. Luís Garcia, da mesma idade, e um dos sócios do espaço, era a peça que faltava. Já se conheciam dos tempos no Hard Rock. Para trás, ficaria também uma carreira em Londres, passada atrás dos balcões dos bares mais renomeados da cidade.
Em Lisboa, começou a delinear-se o futuro. Um restaurante? “O mercado parecia estar sobrecarregado”, notam Ana e Hugo, ao explicarem o processo que culminou na criação do Electric Shaker. O que fazia falta era um bar com bebidas de autor, em que pudessem provar “coisas que aqui não existiam”. Desmistificar produtos como o rum, tequila ou whisky seria um dos pontos-chave do negócio. “Queríamos dar a conhecer um bocado mais do que cerveja e gin tónico”. Acima de tudo, elevar ao estatuto de arte a criação de bebidas. E experimentar muito.
“Queremos explicar às pessoas como podem tomar espirituosas”, conta Hugo. Degustar um rum ou uma tequila “por si” é algo que os portugueses não costumam fazer. Prova disso é que, desde que abriram no final de Maio, têm tido vários clientes a perguntar “como se bebe determinada bebida”. Hugo, Ana e Luís quiseram dar uma resposta. Para provar a “elasticidade de cada bebida” a carta mudará a cada seis meses. Nesse período, haverá uma espirituosa destacada e em torno da qual todos os cocktails serão pensados. Por agora, é o rum em cima da mesa, mas para a temporada de Inverno será a tequila e mais tarde o whisky, com todas as suas variações de bourbon ou malte.
No número 33 da Duque de Loulé, “tudo tem que ver com a parte educativa”. E os clássicos estão sempre presentes. Não fossem eles a base de todas as novas criações. Cocktails por inventar, quase não há, diz Hugo. A magia está em cruzar sabores e ir em busca da melhor conjugação possível. Com o cardápio quase fechado para os próximos seis meses, são os cocktails mais cítricos – o Elizabeth ou o Electric Lady – que mais louros têm recebido.
Em alternativa às misturas, há sempre vinho e cerveja para regar a conversa. Por agora, há três tintos e três brancos disponíveis. Há também rosé e espumante. Mais para a frente, a carta de vinhos e cerveja também rodará e será incluída a opção de vinho a copo. Para picar, fica a promessa de vários petiscos, mas para isso é preciso tempo. Será possível optar por quatro cocktails sem álcool, somente à base de ingredientes naturais. No fundo, dizem, têm “opção para qualquer pessoa”.
Das 206 garrafas expostas na parede por cima do bar, 52 são de diferentes variedades de rum. O que Hugo quer mostrar aos clientes é que, consoante os ingredientes de uma bebida, os sabores podem mudar imenso. Se um “rum tradicional, feito a partir da cana-de-açúcar, é mais suave, um rum da Jamaica, produzido com base em melaços, será mais doce” elucida.
O balcão longo e de inspiração inglesa serve um propósito. “Ter pessoas que se sentem ao balcão e se sintam à vontade para falar com os nossos bartenders”, refere Ana. “Os bares são um sítio muito social, não tanto só para beber”. Em Lisboa, há muitos bares, mas não um como este. Afinal, no Electric Shaker a mudança está sempre a acontecer e faz-se ao ritmo de um abanão.