Eficaz, seguro e acessível: o copo menstrual é uma boa opção, diz estudo
Um estudo publicado na revista The Lancet Public Health afirma que os copos menstruais são uma alternativa segura, eficaz e acessível aos pensos e tampões e que provocam a mesma quantidade (ou menos) de vazamentos. Cientistas querem que sejam feitas mais investigações.
Ainda não foi inventada a solução perfeita que torna a menstruação numa experiência feliz e divertida para as mulheres e jovens de todo o mundo, mas esta alternativa pode não estar assim tão distante. Um estudo publicado este mês na revista científica The Lancet Public Health conclui que os copos menstruais são uma opção segura para a “gestão da menstruação” e são cada vez mais usados por meninas, jovens e mulheres em todo o mundo como alternativa aos pensos higiénicos ou tampões.
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Ainda não foi inventada a solução perfeita que torna a menstruação numa experiência feliz e divertida para as mulheres e jovens de todo o mundo, mas esta alternativa pode não estar assim tão distante. Um estudo publicado este mês na revista científica The Lancet Public Health conclui que os copos menstruais são uma opção segura para a “gestão da menstruação” e são cada vez mais usados por meninas, jovens e mulheres em todo o mundo como alternativa aos pensos higiénicos ou tampões.
Em termos globais, os autores do estudo estimam-se que 1,9 mil milhões de mulheres (cerca de 26% da população mundial) estavam, em 2017, em idade menstrual, passando em média 65 dias num ano ano a lidar com o fluxo menstrual. Apesar de a menstruação ser uma função normal do corpo e um sinal indicador de saúde reprodutiva, a equipa afirma que são poucas as “soluções disponíveis para a gerir”. “Além disso, a ignorância, o preconceito, os custos e as dúvidas sobre a segurança de alguns produtos podem impedir que meninas e mulheres testem toda a gama de produtos disponíveis”, lê-se na investigação agora divulgada.
Foi principalmente por esta razão que a equipa, que reúne investigadores da Escola de Medicina Tropical de Liverpool, no Reino Unido, e também de instituições de Londres, Bombaim e Nova Deli, na Índia, e Kisumu, no Quénia, decidiu pôr mãos à obra e analisar todos os estudos já publicados sobre o tema para perceber quais as vantagens deste método em comparação com outros mais “tradicionais”. Os académicos analisaram 43 investigações sobre o uso de copos menstruais em todo o mundo que, ao todo, incluíram dados de cerca de 3319 mulheres e jovens.
Uma das grandes conclusões foi que os copos menstruais são tão ou mais eficazes a prevenir vazamentos do que os pensos higiénicos ou e tampões, que são seguros para ser usados por mulheres e jovens e que a sua compra é cada vez mais fácil devido ao aumento do número de empresas que nos últimos anos começaram a comercializar este tipo de produtos — algo que pode também estar associado a uma crescente preocupação com o meio ambiente.
Um bicho-de-sete-cabeças?
Apesar de o copo menstrual já ser uma alternativa aos ditos métodos tradicionais pelo menos desde os anos 30, ainda existem muitas reservas quanto ao seu uso. Por isso, continuam a ser muito pouco populares em comparação com pensos higiénicos e tampões. Este produto tem uma parte que serve para reter o líquido — que em vez de ser um pequeno canudo de algodão como no tampão é um reservatório — e outra que serve para a sua remoção da vagina (em vez de um fio, é uma espécie de pedúnculo).
A mulher tem de moldar o copo (deverá enrolá-lo em forma de tubinho) de forma a poder introduzi-lo na vagina, deixando o pedúnculo perto da entrada da mesma, de maneira a que o possa remover mais tarde. Uma vez dentro do canal vaginal, o copo, sendo moldável, irá abrir-se e “colar-se” às paredes vaginais, ficando em vácuo. Nesse momento ele passará a actuar como uma taça que irá reter o fluxo menstrual. O copo menstrual tem o dobro da capacidade dos tradicionais pensos e tampões.
Quem tem fluxos pouco abundantes consegue estar um máximo de 12 horas sem remover o copo. Para o retirar, basta puxar pelo pedúnculo — que, ao contrário do fio do tampão, deverá ficar igualmente dentro do canal vaginal, embora acessível — , apertar o fundo do copo para acabar com o efeito de vácuo e removê-lo. Depois, basta deitar o fluxo na sanita, limpar o copo com toalhetes ou lavá-lo e ele estará pronto para uma reutilização, daí que este método não tenha tanto impacto no meio ambiente como pensos e tampões, que são de utilização única. Quanto ao material, o copo menstrual é feito em silicone cirúrgico, hipoalergénico. Já existem várias marcas a comercializar o produto no mercado português, sendo que o preço ronda os 30 euros e o copo pode durar até dez anos.
Durante alguns anos, este método foi considerado demasiado invasivo e desconfortável e esteve associado a possíveis problemas de saúde. Em alguns países, por razões religiosas e culturais, acredita-se que é um método inadequado para ser usado por jovens e mulheres.
Em termos de saúde, os investigadores do estudo agora publicado não encontraram sinais de aumento dos riscos associados ao uso de copos menstruais entre mulheres europeias, norte-americanas e africanas. Em quatro investigações que envolveram 507 mulheres, os copos menstruais não tiveram efeitos negativos sobre a flora vaginal (as bactérias que vivem dentro da vagina), que podem levar a infecções ou corrimento vaginal.
Um dos grandes objectivos da equipa foi perceber se este método seria viável para mulheres e jovens de todo o mundo, incluindo aquelas que vivem em países de baixos rendimentos onde o acesso aos copos menstruais pode não ser tão fácil. “Em algumas situações, segundo os estudos de países de baixos e médios rendimentos, a menstruação pode afectar a experiências de meninas, jovens e mulheres nas escolas, universidade e postos de emprego. Também a falta de água, saneamento, higiene e de educação e formação inadequadas fazem aumentar as preocupações com a saúde pública”, referem os autores.
O estudo conclui, no entanto, que grande parte das mulheres de vários países que tentou utilizar o copo menstrual se sentiu confortável e gostou de o usar. Da percentagem de participantes na análise, 73% das mulheres e jovens disseram que iriam continuar a usar este método depois de aprenderem a usá-lo e de o experimentarem durante vários ciclos menstruais.
Apesar das conclusões serem claras, os investigadores referem que serão precisos mais estudos complementares para perceber se existem efeitos para a saúde do uso deste método que ainda não foram descobertos e se o uso dos copos menstruais está de facto a crescer em termos de popularidade. Mesmo assim, a equipa acredita que os copos menstruais deviam ser divulgados como uma “alternativa viável aos métodos tradicionais” pelas organizações de saúde, escolas e Governos, e espera que a publicação deste estudo tenha “implicações inovadoras” para que o copo menstrual seja incluído nas conversas sobre saúde menstrual.