Audição de Mueller no Congresso: guia para perceber o que se passa

O responsável pela investigação à suspeita de interferência da Rússia nas eleições norte-americanas responde esta quarta-feira aos congressistas. É a primeira vez – e talvez a única – que isso acontece desde o início da investigação, há mais de dois anos.

Os congressistas do Partido Democrata e do Partido Republicano têm esta quarta-feira a primeira oportunidade – e talvez a única – para questionarem directamente o principal responsável pelas investigações sobre a suspeita de interferência da Rússia nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA.

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Os congressistas do Partido Democrata e do Partido Republicano têm esta quarta-feira a primeira oportunidade – e talvez a única – para questionarem directamente o principal responsável pelas investigações sobre a suspeita de interferência da Rússia nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA.

Robert Mueller, o antigo director do FBI que foi nomeado para liderar a investigação em Maio de 2017, entregou o relatório final em Março.

Ao fim de dois anos, centenas de entrevistas e 34 acusações em tribunal, Mueller e a sua equipa de experientes investigadores chegou a três conclusões:

  • A Rússia interferiu nas presidenciais de 2016 nos EUA através de uma campanha de desinformação nas redes sociais e de ataques informáticos para divulgação de documentos confidenciais, em ambos os casos com o objectivo de beneficiar o candidato Donald Trump e prejudicar a candidata Hillary Clinton;
  •  Não foram encontradas provas de que essa campanha de desinformação e ataques informáticos tenha sido combinada e coordenada com alguém na equipa do então candidato Donald Trump, nem com qualquer outro cidadão norte-americano;
  •  Não foi possível acusar nem exonerar o Presidente Donald Trump de obstruir a Justiça ao longo da investigação do procurador especial Robert Mueller. No relatório final são descritos dez casos em que seria possível deduzir uma acusação de obstrução da Justiça contra o Presidente se a política do Departamento de Justiça o permitisse – de acordo com a interpretação da Constituição feita pelo Departamento de Justiça (nunca desafiada no Supremo Tribunal do país), um Presidente em exercício não pode ser alvo de uma acusação em tribunal porque isso limitaria o seu poder de actuação.

Mueller vai ser ouvido em duas comissões da Câmara dos Representantes: a Comissão de Justiça (a partir das 8h30 locais, 13h30 em Portugal continental) e a Comissão de Serviços Secretos (a partir das 12h locais, 17h em Portugal continental).

Não se espera qualquer revelação que não esteja no relatório: para além de o próprio Mueller ter dito que prefere que o relatório fale por si, e de ser conhecido por cumprir as regras à risca, o Departamento de Justiça enviou-lhe uma carta a avisá-lo de que deve manter-se colado ao que está escrito no relatório final.

Os congressistas do Partido Republicano vão tentar pôr em causa a actuação dos investigadores, apostando na exposição de supostos conflitos de interesse de alguns elementos com ligações a Hillary Clinton; e os congressistas do Partido Democrata vão tentar que o procurador especial explique ao país – e à esmagadora maioria dos eleitores, que não acompanharam a investigação ou que não lerem o relatório final – que não exonerou Trump da suspeita de obstrução da Justiça, ao contrário do que o Presidente tem afirmado.