Neil Armstrong morreu por negligência médica? Hospital pagou seis milhões de dólares à família
Documentos aos quais o The New York Times teve acesso revelam que, em 2014, o hospital de Ohio onde o astronauta acabou por morrer pagou seis milhões de dólares à família para evitar “publicidade” negativa.
O hospital norte-americano onde Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar a Lua, morreu em 2012 pagou seis milhões de dólares (cerca de 5,4 milhões de euros, ao câmbio actual) à família do astronauta, em 2014, no âmbito de um acordo confidencial, depois de ter sido acusado de negligência médica.
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O hospital norte-americano onde Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar a Lua, morreu em 2012 pagou seis milhões de dólares (cerca de 5,4 milhões de euros, ao câmbio actual) à família do astronauta, em 2014, no âmbito de um acordo confidencial, depois de ter sido acusado de negligência médica.
O caso remonta a Agosto de 2012, quando Neil Armstrong deu entrada no Hospital Mercy Health-Fairfield, no estado norte-americano do Ohio, para ser submetido a uma cirurgia cardiovascular. Os cirurgiões fizeram um bypass para tratar de quatro bloqueios nas artérias coronárias, depois de terem sido detectados problemas durante análises clínicas feitas na véspera.
Após a cirurgia, tudo indicava que o astronauta, então com 82 anos, se encontrava a recuperar bem, não havendo motivos para preocupações. A mulher de Neil, Carol Armstrong, chegou mesmo a referir à Associated Press que o astronauta era “incrivelmente resiliente” e que já caminhava pelo corredor do hospital.
Até que as enfermeiras removeram os fios do pacemaker temporário que tinha sido implantado a Neil Armstrong e o astronauta sofreu uma hemorragia na membrana pericárdica (que envolve o coração), bem como outras complicações pós-operatórias, avança o The N ew York Times. A 25 de Agosto de 2012, duas semanas depois de ter dado entrada no hospital, morria o primeiro homem a pisar a Lua.
Uma paragem antes da sala de operações
Quando surgiram as primeiras complicações pós-operatórias (incluindo uma hemorragia interna) e a tensão arterial de Neil Armstrong baixou rapidamente, os médicos encaminharam-no para um laboratório de cateterismo, onde drenaram parte do sangue à volta do seu coração. Só depois é que o paciente foi encaminhado para a sala de operações, decisão que mais tarde foi criticada por vários especialistas em cardiologia consultados pela família e pelo próprio The New York Times. Por outro lado, cardiologistas consultados pelo hospital defenderam a ordem de procedimentos dos médicos.
Os documentos jurídicos vindos agora a público confirmam que Armstrong “foi submetido a uma cirurgia cardiovascular, mas surgiram complicações pós-operatórias e ele morreu posteriormente”.
Os filhos do astronauta, Mark e Rick Armstrong, acusaram os profissionais de saúde de negligência médica e o hospital acabou por pagar seis milhões de dólares (mais de cinco milhões de euros) à família para manter em segredo os contornos do falecimento.
O acordo confidencial foi assinado em 2014 e a quantia distribuída por dez familiares de Neil Armstrong, entre os quais os dois filhos — que receberam a maior parte da quantia (5,2 milhões de dólares) —, os dois irmãos e os seis netos do astronauta. Embora tenha também assinado o acordo enquanto testemunha, a mulher, Carol Armstrong, garantiu ao The New York Times que não recebeu qualquer valor proveniente do mesmo.
Uma proposta para finalizar o acordo, redigida em Setembro de 2014, à qual o jornal citado teve acesso, revela que o hospital continuava a defender que o tratamento providenciado ao astronauta tinha sido o mais adequado. No entanto, o hospital, “em seu nome e dos prestadores de cuidados de saúde, concordou com um acordo confidencial de seis milhões de dólares para evitar a publicidade” negativa caso os familiares não tivessem chegado a acordo, destaca o documento.
A porta-voz do hospital, Nanette Bentley, recusou-se a comentar o cuidado prestado a Armstrong. “A natureza pública destes detalhes é muito decepcionante tanto para o nosso ministério como para a família do paciente que desejava manter esta questão legal em privado”, sublinhou em declarações ao jornal The Cincinnati Enquirer.
No sábado, assinalou-se o 50.º aniversário da chegada do Homem à Lua, um “salto gigantesco para a Humanidade” no qual Neil Armstrong assumiu o papel principal, tornando-se o primeiro homem a pisar a Lua. Passados 50 anos, o The New York Times recebeu (de fonte anónima) 93 páginas de documentos — alguns deles estão também disponíveis para consulta pública — relacionados com o tratamento e o caso legal que envolve a morte de uma das figuras mais importantes da astronomia.
James R. Hansen, professor de História da Universidade de Auburn (EUA) e autor da biografia First Man (que inspirou o filme O Primeiro Homem na Lua, estreado em 2018), confessou ao The New York Times estar a par do caso. Porém, Hansen decidiu não incluir tal informação na edição de 2018 da biografia de Armstrong, “por respeito a determinados membros da família”. “Mas acredito que a história completa do que aconteceu deve ser conhecida. A sua história de vida não está verdadeiramente completa até se saber e, mais importante ainda, a história completa da sua morte pode evitar tragédias semelhantes no futuro”, sublinhou Hansen.
Há sete anos, quando Neil Armstrong morreu, a mensagem da família para os fãs do astronauta (numa altura em que os contornos da sua morte eram ainda desconhecidos) foi uma: “Da próxima vez que saírem à rua numa noite clara e virem a Lua a sorrir para vocês, pensem no Neil Armstrong e pisquem-lhe o olho”.