Vanessa diz que Rui Rio é melhor que um robô
A minha amiga Vanessa acha que Rio provou que não é um robô e isso é excelente. Os robôs não dizem disparates, estão programados e aquilo funciona. Quanto aos humanos, a coisa é diferente
— Viste o Rui Rio a dizer que as sondagens não servem para nada?
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
— Viste o Rui Rio a dizer que as sondagens não servem para nada?
A Vanessa tinha lido a reacção de Rio à sondagem da Pitagórica para o Jornal de Notícias e a TSF. Confrontado com um resultado aniquilador para o seu amor-próprio, em que o PSD fica com metade dos votos do PS (43,2% contra 21,6%), Rio saiu-se com aquela de que “as sondagens não servem para nada” e enveredou pelo humor, outra das actividades onde revela jeito nenhum: “Com tantas sondagens que saem, pergunto se ainda vale a pena fazer eleições”.
Eu respondi à Vanessa que sim, tinha visto.
— Coitado do homem, suspirou a Vanessa.
— A idade está a pôr-te boazinha, o que é que se passa?
Eu tentei brincar, porque a Vanessa estava com um olhar de comiseração que não era habitual. Pessoalmente, é um dos olhares-tipo que me irritam de morte, principalmente quando me são dirigidos.
— Faz-me impressão. O gajo até foi bom presidente da Câmara do Porto, não foi?
Eu, que não sou do Porto e nunca vivi no Porto (mais a Norte sim) resolvi abster-me.
A Vanessa continuou:
— Eu lembro-me de as sondagens também lhe darem muito maus resultados e depois ele ter ganho as eleições.
— Vanessa, tu lembras-te é do Rui Rio, de cada vez que aparecia uma nova sondagem negativa desde que é líder do PSD, falar nisso. Depois das europeias esse argumento acabou. Agora o que lhe sai são aqueles disparates de que as sondagens não servem para nada ou com tantas sondagens não era preciso existirem eleições.
Ao contrário de mim, a Vanessa mostrava compaixão com os politicamente pobres. É outra variante de exercer o catolicismo ou os preceitos do Dalai Lama.
— Temos que o perceber: se o homem não ficasse assim depois da sondagem do JN/Pitagórica, que dá o PSD com metade dos votos do PS, não era humano.
— Sim, ele é humano.
Eu concordei.
— O homem provou que não é um robô e isso é excelente. Os robôs não dizem disparates, estão programados por gente muito experiente e aquilo funciona. Os humanos passam a vida a fazer e a dizer disparates. Não é só errar que é humano, é mesmo uma quantidade enorme de outras coisas que conduzem a situações desagradáveis. Olha a quantidade de disparates que eu fiz e depois passei tantos maus bocados? E tu? Eu sei bem todos as parvoíces que fizeste porque me lembro de tudo.
Neste momento, senti que a Vanessa estava a ameaçar-me de revelar sei lá o quê que faria as tontarias de Rio parecerem de somenos. Fiquei nervosa.
— Queriam que o PSD fosse liderado por um robô? É bom que o líder seja um humano. Ele é mau? Somos todos maus! Os portugueses são uns génios onde? Eu não conheço tantos génios por aí. Deixem o homem em paz, a curtir a dele.
— Vais votar no Rio, Vanessa?
— Não tens nada a ver com isso. Hei-de votar em quem me apetecer e só decido mesmo em cima da mesa de voto.