A guerra comercial está a afectar mais a China do que os EUA
FMI revê em baixa previsões de crescimento para a economia mundial. De Abril para cá, num cenário de subida das taxas alfandegárias, a China foi mais penalizada do que os EUA.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) apresentou esta terça-feira previsões de crescimento mais baixas para a economia mundial face ao que tinha antecipado em Abril, dando a escalada do conflito comercial entre os EUA e a China como a principal razão para o cenário agora mais sombrio. No entanto, olhando para as previsões, é evidente, nesta guerra comercial, que a China está, no curto prazo, a ver a sua economia mais prejudicada do que os EUA.
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O Fundo Monetário Internacional (FMI) apresentou esta terça-feira previsões de crescimento mais baixas para a economia mundial face ao que tinha antecipado em Abril, dando a escalada do conflito comercial entre os EUA e a China como a principal razão para o cenário agora mais sombrio. No entanto, olhando para as previsões, é evidente, nesta guerra comercial, que a China está, no curto prazo, a ver a sua economia mais prejudicada do que os EUA.
Na actualização das projecções económicas para o mundo (que não incluem uma nova previsão para Portugal), a entidade com sede em Washington passou a prever um crescimento do PIB global de 3,2% este ano e de 3,5% no próximo. Nos dois casos, a previsão está agora 0,1 pontos percentuais abaixo da apresentada pelo Fundo no passado mês de Abril.
A razão para a revisão em baixa está, de acordo com o FMI, naquilo que aconteceu entre o passado mês de Abril e agora, nomeadamente o facto de “os EUA terem aumentado as taxas alfandegárias sobre determinadas importações da China e a China ter retaliado ao subir as taxas de uma parte das importações dos EUA”.
O efeito negativo à escala mundial não está, contudo, a fazer-se sentir de forma igual em todo o globo. E os dois principais actores do conflito comercial estão a apresentar desempenhos diferentes nas suas economias. O FMI voltou a rever em baixa a sua previsão de crescimento para a China, passando a taxa de crescimento deste ano de 6,3% para 6,2% e a taxa do próximo ano de 6,1% para 6%. “Na China, os efeitos negativos da escalada de taxas e de uma procura global mais fraca aumentaram a pressão sobre uma economia já no meio de um abrandamento estrutural e a precisar de um reforço da regulação que permita lidar com a elevada dependência à dívida”, diz o Fundo.
Já relativamente aos EUA, e dando argumentos à ideia várias vezes repetida por Donald Trump de que é a China que tem muito mais a perder com o conflito comercial, o FMI subiu de 2,3% para 2,6% a sua previsão de crescimento do PIB, mantendo a projecção para 2020 nos 1,9%.
No que diz respeito à Europa, o FMI praticamente não alterou as suas previsões de crescimento, apontando para um crescimento de 1,3% este ano e 1,6% no próximo na zona euro. Uma boa notícia para Portugal (que não faz parte do grupo de países para o qual o FMI faz agora uma actualização das previsões) é o facto de a previsão de crescimento para Espanha (país que é principal parceiro comercial) ter sido revista em alta em 0,2 pontos percentuais este ano.
No caso da Alemanha, o crescimento antecipado para este ano passou de 0,8% para 0,7%, mas relativamente a 2020 o Fundo espera agora uma retoma mais forte, com uma variação do PIB de 1,7% em vez dos 1,4% projectados em Abril.
No entanto, se as suas novas previsões mostram que o impacto da guerra comercial parece para já ter estabilizado nos EUA, a verdade é que o FMI não poupa nas críticas à política comercial seguida pela administração norte-americana. O Fundo – cuja nova liderança deverá ser escolhida durante as próximas semanas – defende no relatório publicado esta terça-feira que “os países não devem usar as taxas alfandegárias para tentar alcançar objectivos para os saldos comerciais bilaterais ou como um substituto do diálogo na pressão que é feita para outros realizarem reformas”, um recado claramente direccionado à política seguida pela Casa Branca.
O relatório do FMI é divulgado numa altura em que prosseguem as negociações entre os EUA e a China para a obtenção de um acordo comercial que trave a sequência de subidas de taxas alfandegárias registada durante este ano.