Com maior absoluta, Zelensky é o centro de todo o poder na Ucrânia
Servo do Povo conseguiu resultados melhores do que o esperado nos círculos uninominais, garantindo ao Presidente um apoio histórico no Parlamento.
O partido do Presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, superou as expectativas e, segundo a contagem preliminar dos resultados das eleições legislativas de domingo, alcançou a maioria absoluta. É a primeira vez que um partido consegue chegar a este patamar desde a independência da Ucrânia.
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O partido do Presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, superou as expectativas e, segundo a contagem preliminar dos resultados das eleições legislativas de domingo, alcançou a maioria absoluta. É a primeira vez que um partido consegue chegar a este patamar desde a independência da Ucrânia.
As projecções conhecidas logo no domingo já mostravam que o Servo do Povo – o partido fundado por Zelensky – iria ser a formação mais votada, com uma confortável distância face aos restantes. Porém, havia dúvidas quanto à prestação do partido nos círculos uninominais, onde as máquinas partidárias e os recursos financeiros mais fazem a diferença.
A divulgação dos resultados oficiais, esta segunda-feira, mostrou que os estreantes do Servo do Povo foram igualmente bem-sucedidos nos círculos uninominais. Com quase 70% dos votos contabilizados, os candidatos do partido presidencial lideravam em 125 das 199 corridas eleitorais – um resultado semelhante ao registado nas listas proporcionais.
Atrás do Servo do Povo ficou a Plataforma da Oposição – Pela Vida, um partido pró-Moscovo que foi o mais votado nas regiões do Leste do país, seguido do Solidariedade Europeia, do ex-Presidente, Petro Poroshenko, e o Pátria da ex-primeira-ministra, Iulia Timochenko. O último partido a garantir entrada no Parlamento foi o Voz (Golos), liderado por Sviatoslav Vakarchuk, um dos músicos mais conhecidos da Ucrânia.
Caso o cenário se confirme, Zelensky será o primeiro Presidente ucraniano a dispor de apoio maioritário no Parlamento, sem necessitar de acordos de coligação para formar Governo. Balasz Jarabik, analista do Centro Carnegie de Moscovo, escreveu no Twitter tratar-se de um dia “histórico” para a Ucrânia, que passa a ser “uma república presidencial de facto, dado que todo o poder está consolidado nas mãos de Zelensky”.
Com uma maioria absoluta na Rada Suprema, Zelensky poderá escolher livremente os membros do Governo e, acima de tudo, não terá de negociar as suas medidas mais ambiciosas, como o fim da imunidade parlamentar. No domingo, no seu discurso de vitória, o Presidente indicou que as suas prioridades são “acabar a guerra, receber os prisioneiros e derrotar a corrupção que persiste na Ucrânia”.
Vitória dos reformistas
O novo Governo não deverá desviar-se do rumo do anterior e mantém como um dos objectivos estratégicos a aproximação à União Europeia e à NATO. “Foi uma vitória dos reformistas – cerca de três quartos dos eleitores apoiaram partidos pró-ocidentais e pró-reformas”, notou o analista britânico Timothy Ash, numa nota enviada a investidores, citada pela Rádio Europa Livre.
Uma das dúvidas que persistem é saber se, mesmo com uma maioria na Rada Suprema, o Servo do Povo irá procurar entendimentos com outras forças políticas para assegurar ainda mais apoio à sua agenda. No domingo, quando ainda não era óbvio que a maioria absoluta fora alcançada, Zelensky disse estar disponível para negociar um acordo com o Voz, um partido que também fez da crítica à classe política tradicional uma bandeira eleitoral.
Já esta segunda-feira, com os resultados mais consolidados e a maioria absoluta no horizonte, o cabeça-de-lista do partido, Dmitro Razumkov, veio dizer que é “cedo” para se estar a falar em coligações.
Com a entrada em força do Servo do Povo e do Voz no Parlamento também se irá dar uma das maiores renovações do hemiciclo, dado que nenhum dos candidatos dos dois partidos tinha passado por cargos políticos. Um deles será o boxeur que participou nos Jogos Olímpicos, Zhan Beleniuk, que vai tornar-se no primeiro deputado negro ucraniano. Em resumo, os eleitores ucranianos foram responsáveis por um “massacre das elites tradicionais”, escreveu Jarabik.