Hóquei em patins português recupera geração de campeões
Portugal interrompeu domínio espanhol e prepara um novo ciclo, sublinhado pelas conquistas recentes na selecção e nos clubes.
Há precisamente uma semana Portugal saboreava a conquista do 16.º Campeonato do Mundo de hóquei em patins. Um banquete perfeito para quebrar um jejum de 16 anos, período em que durou uma espécie de “ditadura” espanhola – oito presenças e sete títulos ganhos nas últimas dez finais. Uma hegemonia a fazer lembrar a portuguesa nos primórdios da modalidade, com dez campeonatos averbados até à queda do Estado Novo.
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Há precisamente uma semana Portugal saboreava a conquista do 16.º Campeonato do Mundo de hóquei em patins. Um banquete perfeito para quebrar um jejum de 16 anos, período em que durou uma espécie de “ditadura” espanhola – oito presenças e sete títulos ganhos nas últimas dez finais. Uma hegemonia a fazer lembrar a portuguesa nos primórdios da modalidade, com dez campeonatos averbados até à queda do Estado Novo.
A vitória lusa foi sublimada pelo facto de ter sido reclamada em plena catedral da modalidade, no coração da Catalunha, apesar de, pela primeira vez, se ter assistido a uma final sem golos, decidida no sortilégio dos penáltis - que em 2017 negara à selecção portuguesa a felicidade suprema. Portugal revelou-se mais frio e competente do que a Argentina, campeã em 2015.
Assim, depois do título de campeão da Europa e da vitória do Sporting na Liga Europeia, prova dominada pelas equipas portuguesas, com FC Porto, Benfica e Barcelona a juntarem-se aos “leões” na fase final, parece pacífica a ideia de que o hóquei português está, finalmente, determinado a recuperar o brilho do século passado, com os seus 14 títulos mundiais, mesmo que apenas conte três no último quartel.
A afirmação é reforçada pela voz insuspeita de Edo Bosch, catalão de 43 anos convertido ao nosso país sob a bandeira portista, onde viveu 18 anos de glória, logo depois da conquista (ainda nos italianos do Noia) da Taça CERS, a que somou 13 campeonatos (dez consecutivamente) e sete Taças de Portugal, mais nove supertaças “António Livramento”, e que agora se sagrou, pela primeira vez e ironicamente em casa, campeão do mundo como adjunto do seleccionador Renato Garrido, que já o convencera a trocar o FC Porto pela Juventude de Viana, em 2016.
“Há dois ou três factores potenciadores deste título. O primeiro foi o investimento dos principais clubes portugueses, que, ao contratarem os melhores jogadores, elevaram o nível e aumentaram a concorrência. Esse efeito conjugado com uma grande geração, como é inegavelmente o caso, deixou Portugal mais próximo da conquista do título, que, aliás, esteve iminente em 2017, logo depois da vitória do Europeu. Notava-se que mais tarde ou mais cedo chegaria o momento”, explica Edo, enquanto observador privilegiado, simultaneamente na perspectiva de “português”, de estrangeiro e ex-internacional por Espanha.
“Estes ciclos não costumam ser tão pronunciados. A Espanha conseguiu uma geração de enorme qualidade, que demonstrou um grande profissionalismo. Conjugados, estes factores são imbatíveis. E é isso que vejo nesta geração de Portugal, que reúne talento e uma vontade de vencer e uma ética de trabalho imbatíveis”, sustenta, sem ignorar algumas causas igualmente próximas do sucesso, como a inspiração de um simples guarda-redes.
“Portugal tem dois grandes guarda-redes, mas o protagonismo do Girão é totalmente merecido. Aliás, não me lembro de um jogador tão determinante na conquista de um título. É normal um guarda-redes destacar-se, mas quando o cansaço começou a instalar-se, ele correspondeu e sobressaiu”, assume Edo Bosch, que em 2006 “tapou” Girão no FC Porto.
“Numa modalidade em que há, por sistema, quatro selecções de valor muito aproximado, como são Portugal, Espanha, Itália e Argentina, temos de contar com o factor sorte. A estrelinha faz, muitas vezes, a diferença entre o campeão e os outros. Mas nada teria sido possível sem o trabalho, humildade e solidariedade desta equipa”, enfatiza o ex-guarda-redes, feliz pelo contributo dado e por um título que compensa os desencontros com a glória na selecção de Espanha.
“Tive agora o prémio que me escapou quando era jogador. A minha passagem na selecção de Espanha coincidiu com uma grande geração de Portugal. Depois, com 23 anos, abdiquei. Houve uns problemas e decidi não voltar a representar o meu país. Também não existia um grande ambiente, na altura. Coisas do passado. Felizmente, tudo mudou volvidos dois ou três anos, altura em que Espanha construiu uma verdadeira selecção, graças a uma geração boa. Mas já era demasiado tarde para mim. Podia ter sido campeão do Mundo como jogador e como o meu pai, mas só posso estar feliz pelo meu percurso. De qualquer forma, não me arrependo”, confessa, vincando o sentimento de gratidão a Portugal, pela carreira e pela família, onde já tem sucessor. Xano Edo, o filho mais novo, guarda-redes do Barcelona, festejou na quinta-feira o 18.º aniversário, parecendo preparado para honrar o legado iniciado pelo avô, mas agora com as cores de Portugal, selecção que levou ao “bronze” no Mundial de sub-19.