Londres diz que Irão escolheu “caminho perigoso” ao apreender petroleiro

Detenção de navio britânico volta a incendiar o Golfo. Reino Unido denunciou “acto hostil” e exige libertação da embarcação. Irão usa insegurança no Estreito de Ormuz para garantir alívio das sanções norte-americanas.

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Petroleiro britânico foi levado para o porto iraniano de Bandar Abbas Tasnim News Agency HANDOUT / EPA

A detenção de um petroleiro britânico pelo Irão na sexta-feira voltou a elevar a tensão no Estreito de Ormuz. Londres repudiou o que definiu como “acto hostil”, mas garantiu que só contempla uma solução diplomática para a crise.

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A detenção de um petroleiro britânico pelo Irão na sexta-feira voltou a elevar a tensão no Estreito de Ormuz. Londres repudiou o que definiu como “acto hostil”, mas garantiu que só contempla uma solução diplomática para a crise.

O cenário estava montado já há semanas para que o braço-de-ferro entre o Irão e os EUA e seus aliados no Golfo conhecesse um novo capítulo. Depois de, no início do mês, fuzileiros britânicos terem ajudado a deter um petroleiro iraniano que atravessava o Estreito de Gibraltar – sob suspeita de transportar petróleo para a Síria –, as autoridades de Teerão avisaram que iriam responder na mesma moeda.

Houve uma primeira tentativa, há uma semana, quando barcos iranianos tentaram interceptar um petroleiro britânico no Golfo Pérsico, mas a intervenção de uma fragata de guerra da Marinha impediu a apreensão. Na sexta-feira, o filme foi diferente. A Guarda Revolucionária apreendeu o petroleiro Stena Impero, de pavilhão britânico, quando atravessava o Estreito de Ormuz depois de ter colidido com um barco pesqueiro iraniano, de acordo com a versão do Governo de Teerão.

Um porta-voz dos Guardas Revolucionários disse que o petroleiro estava a ser escoltado por um barco de guerra da Marinha britânica, que ofereceu “resistência” quando foi interceptado pelas forças iranianas – Londres não confirmou esta informação.

Outra embarcação, o petroleiro Mesdar de pavilhão liberiano, mas propriedade britânica, também foi apreendido, tendo sido libertado ao fim de algumas horas. O Stena e os seus 23 tripulantes, na sua maioria de nacionalidade indiana, foram levados para o porto de Bandar Abbas.

O ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Jeremy Hunt, condenou o “caminho perigoso de comportamento ilegal e desestabilizador” seguido pelo Irão e prometeu uma resposta “considerada mas robusta”, embora tenha excluído opções militares. Este sábado, Hunt conversou com o homólogo iraniano, Mohammad Javad Zarif, a quem expressou o “extremo desapontamento” com a detenção do petroleiro. O Governo convocou também o responsável máximo diplomático iraniano destacado em Londres.

A França, a Alemanha e a União Europeia também condenaram a apreensão do petroleiro britânico pelo Irão, e o Presidente norte-americano, Donald Trump, disse que o episódio veio dar razão à postura dura face a Teerão que adoptou. “Isto só mostra o que tenho dito sobre o Irão: problemas, nada mais do que problemas”, afirmou.

Rota de colisão

A crise no Golfo, que está a pôr em causa a segurança numa das vias de transporte marítimo comercial mais importantes no mundo, é um reflexo da degradação acentuada das relações entre os EUA e o Irão, especialmente desde que a Administração Trump decidiu, em Maio do ano passado, abandonar o acordo nuclear assinado em 2015. Desde então, iniciou-se um ciclo de provocações e incidentes entre os dois países que já os deixou perto de um conflito armado.

A saída de Washington do acordo – que também inclui o Reino Unido, França, Alemanha, Rússia e China – foi acompanhada da reposição das sanções económicas por parte dos EUA, que simultaneamente têm pressionado os restantes signatários a fazer o mesmo. Trump acredita que a política de “pressão máxima” sobre Teerão irá fazer o regime aceitar um abandono completo e irreversível das suas ambições nucleares.

O braço-de-ferro entre os dois países corporiza-se no Estreito de Ormuz, via indispensável para o transporte de petróleo dos países do Golfo Pérsico para o resto do mundo, que o Irão passou a encarar como um trunfo para forçar Washington a regressar à mesa de negociações. Depois de uma série de ataques contra petroleiros – que os EUA atribuíram ao Irão, apesar de não haver provas conclusivas – as forças iranianas abateram um drone norte-americano que sobrevoava o seu território.

Trump chegou a autorizar um ataque militar contra o Irão, mas recuou por considerar “desproporcional” os efeitos dessa operação. O conflito declarado acabou por ser evitado, mas a tensão no Golfo não se dissipou e há poucos sinais de que isso venha a acontecer. Na sexta-feira, sem mencionar o Irão, o Pentágono anunciou que vai enviar 500 militares para a Arábia Saudita como forma de “dissuasão adicional” em virtude das “ameaças credíveis e emergentes” na região.