Branco é uma cor com mágoa

A sul-coreana Han Kang está de volta com O Livro Branco. Uma indagação acerca da cor que é também sobre o que se passa na vida de alguém antes da linguagem.

Foto
Han Kang, que venceu o Man Booker International Prize com A Vegetariana (D. Quixote, 2016), tem um novo romance ADRIANO MIRANDA

Uma mulher cresce dentro da história da morte da irmã; uma irmã que existiu antes dela e morreu duas horas depois de ter nascido. Essa mulher escreve agora sobre isso, a certeza de apenas existir na impossibilidade da vida de outra pessoa. Nunca a viu, nunca refere o nome dessa irmã, mas esse vazio é uma permanência. Um vazio talvez branco, como também será branco o silêncio que envolveu a existência breve da menina que a mãe envolveu no cueiro branco com que tentou purificar o sofrimento, o corpo ensanguentado. “Quando os olhos da minha mãe pousaram nos da sua filha, tornou a mover os lábios. Por amor de Deus, não morras. Cerca de uma hora mais tarde, a bebé morreu. Ficaram ali prostradas no chão da cozinha, a minha mãe deitada de lado com a bebé morta apertada contra o peito, a sentir o frio entrar-lhe um pouco na carne, perfurando-a até aos ossos. Sem chorar mais.”

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Uma mulher cresce dentro da história da morte da irmã; uma irmã que existiu antes dela e morreu duas horas depois de ter nascido. Essa mulher escreve agora sobre isso, a certeza de apenas existir na impossibilidade da vida de outra pessoa. Nunca a viu, nunca refere o nome dessa irmã, mas esse vazio é uma permanência. Um vazio talvez branco, como também será branco o silêncio que envolveu a existência breve da menina que a mãe envolveu no cueiro branco com que tentou purificar o sofrimento, o corpo ensanguentado. “Quando os olhos da minha mãe pousaram nos da sua filha, tornou a mover os lábios. Por amor de Deus, não morras. Cerca de uma hora mais tarde, a bebé morreu. Ficaram ali prostradas no chão da cozinha, a minha mãe deitada de lado com a bebé morta apertada contra o peito, a sentir o frio entrar-lhe um pouco na carne, perfurando-a até aos ossos. Sem chorar mais.”