Diante do abismo, João Jacinto quer tomar a nossa vista

Artista com um percurso de trinta anos, João Jacinto apresenta na Sociedade Nacional das Belas-Artes uma magnífica exposição antológica que abre ao espectador uma passagem para um universo em que o desenho, a pintura e as imagens criam ilusões e abismos. Entre o atelier e a sala, a vida e a arte, pisando o céu, num caminho sem fim.

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Rui Gaudêncio

Na sala da Sociedade Nacional das Belas-Artes (SNBA) há uma parede que bloqueia a passagem. Para ver o que ela esconde, o visitante tem de a contornar. Dois passos e, ao fundo, um corredor abre um caminho de imagens. Imagens? Ou, a bem do rigor, pinturas? Ou, antes, desenhos? O enigma permanecerá, mas de uma coisa o espectador pode estar certo: o que nelas encontrar será dele, ficará com ele. Este é o desejo de João Jacinto (Mafra, 1966), o autor desse caminho, que tem o nome de A Chuva Cai ao Contrário. Nas paredes estão desenhos sobre papel realizados pelo artista em 2018, que formam, sob a curadoria de Nuno Faria e Manuel Costa Cobral, uma passagem para um universo e uma obra de 30 anos, com inúmeras exposições individuais e colectivas. João Jacinto não é um artista à margem, pintor maldito (o que quer que isso signifique). Faz e tem vindo a fazer o seu trabalho, paciente e solitariamente, seguido por curadores e apreciadores; além dos apontados, mencione-se o ex-crítico do PÚBLICO Óscar Faria, o encenador Jorge Silva Melo, o coleccionador João Esteves de Oliveira, o galerista Eduardo Rosa ou a generosa e apaixonada personalidade por detrás da exposição na SNBA: Maria da Graça Carmona e Costa.