Portugal quer multiplicar por dez a facturação com o sector espacial até 2030
Estratégia passa por replicar noutros pontos do país programa de incubação de empresas liderado em Portugal pelo Instituto Pedro Nunes, em Coimbra.
No Verão de 1969, a missão Apolo 11 aterrava na Lua, transportando os primeiros homens que a pisariam. Meio século depois, a tecnologia utilizada na indústria espacial está a ser aplicada em terra e Portugal quer aproveitar essa onda. Em si, a adaptação não é propriamente uma novidade. Mas a simplicidade com que acontece e a sua aplicação prática sim.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
No Verão de 1969, a missão Apolo 11 aterrava na Lua, transportando os primeiros homens que a pisariam. Meio século depois, a tecnologia utilizada na indústria espacial está a ser aplicada em terra e Portugal quer aproveitar essa onda. Em si, a adaptação não é propriamente uma novidade. Mas a simplicidade com que acontece e a sua aplicação prática sim.
Num período de pouco mais de uma década, o Governo português quer multiplicar por dez a facturação das empresas portuguesas que têm por base a tecnologia espacial. Ou seja, espera-se que um valor que anda hoje na casa dos 40 milhões de euros por ano em todo o país chegue aos 400 milhões em 2030, anuncia o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor.
O ministro falou com o PÚBLICO à margem da iniciativa “Portugal New Space Evening”, organizada pelo Instituto Pedro Nunes (IPN), de Coimbra, e pela Agência Espacial Portuguesa, que nesta segunda-feira assinalou o aniversário da chegada do homem à Lua, mas que serviu também lançar a iniciativa “Portugal New Space Entrepreneurship Initiative 2030”.
Como atingir o valor proposto até 2030? Parte da estratégia passa por replicar um programa da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), liderado em Portugal pelo Instituto Pedro Nunes e que, em cinco anos, ajudou a lançar 27 empresas, com uma taxa de 100% de sobrevivência. Mais três estão na calha para integrar a incubadora do espaço do IPN e assim cumprir o objectivo da criação de 30 empresas contratualizado com a ESA, em 2014.
O Centro de Incubação de Negócios da ESA (ESA-BIC, também em inglês) é coordenado em Portugal pelo IPN, com pólos no Porto e em Cascais, e apoia startups que “transfiram tecnologia espacial para sectores terrestres e empresas que operem no mercado espacial comercial”, menciona o director de inovação do IPN, Carlos Cerqueira, que também falou com o PÚBLICO à margem da iniciativa que decorreu no Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra.
Carlos Cerqueira apresenta a Stratio (que localiza e ajuda a gerir de forma mais eficiente frotas de veículos) e a Findster (sistema de localização de animais domésticos em tempo real através de um dispositivo) como alguns dos exemplos de sucesso do programa e de usos quotidianos que podem ser dados à tecnologia espacial. Mas as potencialidades são diversas, acrescenta: veículos de condução autónoma, tanto em terra como no mar, ou monitorização e prevenção de fogos florestais através de dados de observação da Terra. A lista continua.
Daí que o Governo queira “alargar a experiência” de Coimbra “para estimular o desenvolvimento de novos actores e o crescimento de empresas existentes”, explica Manuel Heitor. Este “novo passo” na “Estratégia Portugal Espaço 2030” quer estender o modelo do IPN, para que possa ser aplicado noutras incubadoras do país, “abrindo sobretudo o espaço a outros sectores: da agricultura, ao desenvolvimento urbano, à mobilidade, à observação marítima”, exemplifica o ministro.
O programa é parte integrante da “Estratégia Portugal Espaço 2030” lançada pelo Governo no ano passado e conta com o apoio da Agência Espacial Portuguesa (AEP) e da ESA. Manuel Heitor diz que ainda não está definido que incubadoras poderão integrar o projecto, uma vez que a AEP “está a iniciar contactos. É a agência portuguesa, em colaboração com a europeia, que vai seleccionar que estruturas de incubação vão fazer parte do programa.
Para já, Manuel Heitor não fala nos valores envolvidos no programa. “Para além das linhas já existentes e do apoio institucional da ESA, estamos também a abrir linhas de financiamento através do BEI [Banco Europeu de Investimento], que tem linhas específicas para a valorização de projectos empresariais do espaço.”
Quando Carlos Cerqueira fala nas “oportunidades a aproveitar”, começa por referir que, até há pouco tempo “o espaço era sobretudo uma área de investigação e do investimento institucional”. Mas abriram-se portas à exploração comercial, e é essa oportunidade que o país deve aproveitar, defende. No mesmo sentido, Manuel Heitor afirma: “Não estamos a competir na área da exploração do espaço ou na ida a Marte. Estamos a posicionar Portugal como um país do ‘novo espaço’”.
Se, no passado, o uso da tecnologia do espaço exigia “investimentos colossais, só acessíveis às grandes nações”, nota Carlos Cerqueira, neste momento está mais ao alcance de países como o nosso. “E Portugal não quer nem pode estar fora desse desafio. Temos a criatividade, o talento, a energia”, sintetiza.