Um urinol para mulheres? A igualdade em festivais também se vê nas casas de banho
Lapee é um urinol criado para as mulheres aproveitarem os eventos ao ar livre sem pensarem nas longas filas para as casas de banho (ou em procurarem um sítio mais escondido).
Gina Périer queria poder beber cerveja em festivais de Verão sem se preocupar com a fila que ia encontrar a serpentear as casas de banho para mulheres. Não queria perder o início do concerto, mas nem a arquitecta francesa nem as amigas se sentiam particularmente confortáveis e seguras a urinar debaixo de uma árvore — não tanto como um homem, pelo menos.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Gina Périer queria poder beber cerveja em festivais de Verão sem se preocupar com a fila que ia encontrar a serpentear as casas de banho para mulheres. Não queria perder o início do concerto, mas nem a arquitecta francesa nem as amigas se sentiam particularmente confortáveis e seguras a urinar debaixo de uma árvore — não tanto como um homem, pelo menos.
Mas e se, debaixo dessa árvore, estivesse um urinol pensado para mulheres? Segurem-lhe a cerveja enquanto a arquitecta apresenta o Lapee, o “primeiro urinol feminino produzido industrialmente”, criado em conjunto com Alexander Egebjerg, também arquitecto. “Queríamos criar a versão feminina de um produto que existe por todo o mundo”, diz, simplesmente. “A falta de urinóis femininos tem um impacto considerável na igualdade de género, mais evidente ao longo de eventos ao ar livre.”
A espiral cor-de-rosa choque permite que três mulheres entrem e urinem ao mesmo tempo, agachadas ou sentadas, cada uma num compartimento sem porta, mas que as resguarda do exterior por uma parede curvilínea. A plataforma que faz a vez de sanita está elevada de forma a que quem a use, mesmo não estando em pé, possa espreitar para o que se está a passar à volta, lá fora. “Assim, estás numa melhor posição para te defenderes do que se estivesses fechada numa cabine com alguém”, defendem os arquitectos que acreditam que ter uma porta não tornaria o dispositivo mais seguro.
A arquitecta francesa de 25 anos, a viver na Dinamarca, imaginou este mundo cor-de-rosa com Alexander Egebjerg durante um programa de voluntariado para estudantes de arquitectura do Roskilde, um festival de música, activismo e artes dinamarquês — onde este ano também esteve presente a artista portuguesa Marisa Benjamin, com um laboratório a pedal para servir Eau Florale.
Há uma semana, o mesmo festival disponibilizou ao público (feminino) 48 destes urinóis, espalhados pelo recinto. "Enquanto estivemos aqui, no sábado e domingo, só foram usados por mulheres e elas estavam tão contentes”, contou a arquitecta numa entrevista ao Guardian, que esteve no evento. Outra das vantagens do equipamento, defendem, é que diminui o tempo de uso por pessoa de três minutos, numa casa de banho numa cabine portátil, por exemplo, para apenas 30 segundos. E também protege a privacidade de quem opta por não esperar horas em filas para entrar em casas de banho sujas. Em 2017, neste mesmo festival dinamarquês, um alemão de 49 anos foi detido e depois preso por filmar, sem consentimento, cerca de 60 mulheres a urinarem junto de vedações, com uma câmara fotográfica escondida dentro de uma lata de cerveja.
No Instagram, procurando pela etiqueta #lapee, encontram-se várias selfies de mulheres dentro de um dos urinóis na Dinamarca com descrições como “Finalmente, algo para nós!”. Mas também foram partilhadas imagens do urinol a transbordar, ou cheio de papel higiénico molhado. “Quando és mulher e vais a casas de banho em festivais, elas estão normalmente cobertas de fezes”, comenta a arquitecta. “Por isso, ir a um sítio onde pelo menos sabes que só vai haver chichi soa à coisa mais luxuosa do mundo.”