De Siza a Lourenço e a Carlos do Carmo, “relação com a palavra” une os seis distinguidos pela APE

Álvaro Siza Vieira, Eduardo Lourenço, José-Augusto França, Carlos do Carmo, António Valdemar e Rui Mendes são desde esta quarta-feira sócios honorários da Associação Portuguesa de Escritores.

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Da esquerda para a direita: Carlos do Carmo, José Manuel Mendes, Luís Machado, Vítor Serrão (em representação de José-Augusto França), Álvaro Siza Vieira, António Valdemar, Maria Alice Faria (irmã de Eduardo Lourenço) e Rui Mendes FERNANDO BENTO/APE

Foi num ambiente de tertúlia, como tinha sido anunciado, que foi atribuído na quarta-feira o título de sócio honorário da Associação Portuguesa de Escritores (APE) a seis personalidades da vida nacional: o arquitecto Álvaro Siza Vieira, o jornalista António Valdemar, o cantor Carlos do Carmo, o ensaísta Eduardo Lourenço, o historiador José-Augusto França e o actor Rui Mendes. Na homenagem, que decorreu em Lisboa, num restaurante quase centenário, As Velhas (perto do Parque Mayer), não puderam estar presentes, por razões de saúde, Eduardo Lourenço, representado pela irmã Maria Alice Faria, e José-Augusto França, este pelo também historiador Vítor Serrão.

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Foi num ambiente de tertúlia, como tinha sido anunciado, que foi atribuído na quarta-feira o título de sócio honorário da Associação Portuguesa de Escritores (APE) a seis personalidades da vida nacional: o arquitecto Álvaro Siza Vieira, o jornalista António Valdemar, o cantor Carlos do Carmo, o ensaísta Eduardo Lourenço, o historiador José-Augusto França e o actor Rui Mendes. Na homenagem, que decorreu em Lisboa, num restaurante quase centenário, As Velhas (perto do Parque Mayer), não puderam estar presentes, por razões de saúde, Eduardo Lourenço, representado pela irmã Maria Alice Faria, e José-Augusto França, este pelo também historiador Vítor Serrão.

Para começar, entregaram-se os cartões e diplomas de sócio honorário, emoldurados. Álvaro Siza disse ser “uma honra inesperada” e Carlos do Carmo (que não conhecia pessoalmente o arquitecto, frente ao qual ficou sentado, à mesa) sublinhou o “significado especial, muito particular”, pela companhia ilustre, que enalteceu (“arquitectura de rosto humano”, assim se referiu a Siza). “Honra” foi palavra comum aos depoimentos, também aos de António Valdemar e Vítor Serrão, este fazendo questão de recordar que foi José-Augusto França “que colocou no mapa a História da Arte, que até aí não era nada”.

“Fiel à história” da APE

Rui Mendes, que disse sentir-se “pigmeu ao lado de algumas destas personalidades da nossa vida cultural”, trazia consigo uma primeira edição do Luuanda, de Luandino Vieira, que lhe foi dedicada pelo autor (sob pseudónimo). Este rematava a dedicatória, ironicamente, dizendo a Rui que se tivesse sugestões ou apreciações sobre o livro as fizesse “chegar ao autor, que está a residir em Cabo Verde”. E estava: não a “residir”, mas preso, no tristemente célebre campo de concentração do Tarrafal. Ora foi na sequência da atribuição do 1º Prémio do Grande Prémio da Novelística ao escritor angolano, por Luuanda, que a Sociedade Portuguesa de Escritores (SPE) foi extinta por ordem da polícia política salazarista.

Foi para dar continuidade histórica à SPE que a APE foi criada, em Julho de 1973, em pleno marcelismo e a menos de um ano do 25 de Abril, com José Gomes Ferreira por presidente da direcção e Sophia de Mello Breyner a presidir à Assembleia Geral.

José Manuel Mendes, presidente da APE, quis depois “afirmar, com clareza”, que a heterogeneidade das distinções pretendia ser “fiel à história” da APE, e também da SPE, que sempre fizeram a ligação do universo da literatura com as outras artes (cinema, teatro, música, etc.) nas numerosas iniciativas que promoveram. “É a esta luz que as seis personalidades hoje distinguidas se encontram com o nosso olhar”, afirmou.

Artes, “a mesma família”

Mas há, em tudo isto, um norte: “A relação com a palavra”. E foi por ela que José Manuel Mendes enalteceu, em cada um dos homenageados, as características mais salientes das respectivas artes, da voz e da escrita à representação e à arquitectura. Por falar em arquitectura, Álvaro Siza foi quem, em curtas mas incisivas palavras, apontou o equívoco da “invenção de fronteiras”, dizendo que música, bailado, arquitectura, teatro, cinema ou literatura são “a mesma família”, e invocando o livro Ostinato Rigore, de Eugénio de Andrade, para afirmar: “O que mais me interessa e estimula é esse rigor. Haverá momentos de espontaneidade, mas depois há o depurar de tudo isso.”

Antes do almoço houve Bach tocado pelo violoncelista Ricardo Mota e às conversas de uma mesa cheia e animada sucedeu-se ainda mais uma intervenção, a de Luís Machado, da APE, organizador deste encontro, que recordou a história do quase centenário restaurante, cruzando-a com a da vida política e cultural da época. A finalizar, foi lido por Rui Mendes um poema de Ruy Belo, Morte ao meio-dia.

Os seis novos sócios honorários da APE juntam-se a uma lista de apenas 13, até à data, homenageados a partir da década de 1990. Por ordem alfabética: Alexandre Babo, Alexandre Cabral, António Coimbra Martins, Augusto Abelaira, Carmen Dolores, Júlio Pomar, Manoel de Oliveira, Maria Velho da Costa, Mário Soares, Orlando da Costa, Óscar Lopes, Pedro Tamen e Urbano Tavares Rodrigues.