Begpackers: quando viajantes pedem dinheiro nas ruas para seguir viagem

São normalmente viajantes de países ocidentais, brancos e jovens a pedir dinheiro no Sudeste Asiático: “Por favor, apoiem a minha viagem”. Será o begpacking uma forma ”pouco ética” de viajar?

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A viajar pelo mundo — “sem dinheiro. Por favor, apoiem a minha viagem”. Raphael Rashid vê cartazes com frases como esta, escritas num coreano tosco, quase todos os dias. Estão pousados no chão, ao lado de quem os escreveu: quase sempre viajantes ocidentais, brancos e jovens que estendem o chapéu a quem passa.

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A viajar pelo mundo — “sem dinheiro. Por favor, apoiem a minha viagem”. Raphael Rashid vê cartazes com frases como esta, escritas num coreano tosco, quase todos os dias. Estão pousados no chão, ao lado de quem os escreveu: quase sempre viajantes ocidentais, brancos e jovens que estendem o chapéu a quem passa.

Há os que esperam por donativos — voluntários — sentados, como os dois amigos abancados em frente a um refeitório social que Rashid fotografou e publicou no Twitter. Outros tocam guitarra e cantam; vendem pulseiras; postais ou fotografias e “oferecem” abraços. Por viajarem de mochila às costas enquanto pedem dinheiro aos locais (e a outros turistas) para chegarem ao próximo destino, são chamados de begpackers.

É comum vê-los em destinos populares como o Sudeste Asiático, em países onde o salário médio e o custo de vida é muito inferior ao salário mínimo de um país desenvolvido. Mas Raphael Rashid depara-se com muitos viajantes nas redondezas da estação Jongno 3-ga, em Seul, na Coreia do Sul, onde vive. O jornalista nascido em Londres ficou conhecido no Twitter por confrontá-los e até denunciá-los à polícia. “Enquanto cidadão de um país desenvolvido, eu também sei o tipo de privilégio que cidadãos estrangeiros têm nesta sociedade”, escreveu, num artigo de opinião publicado no Huffington Post coreano. “Viajar não é essencial para sobreviver, mas sim um luxo.”

Rashid já encontrou viajantes que dizem estar a pedir dinheiro por terem perdido a carteira, sido roubados ou ficado sem passaporte — situações em que as embaixadas podem ajudar. Outros, quando a polícia se aproxima, fingem não falar ou compreender inglês. Em alguns países, o begpacking é ilegal: ou porque não se pode fazer dinheiro com um visto turístico ou porque há regras restritas sobre vender e tocar na rua. Em Bali, as autoridades de imigração começaram a reportar alguns casos de estrangeiros a pedir na rua às respectivas embaixadas, embora haja poucas certezas do que pode acontecer depois. 

A adventure.com, uma revista de viagens online, pergunta se o begpacking é “a pior tendência de viagens de todas”. “Eles começam campanhas de GoFundMe e Kickstarter. Já foram apanhados a usar as casas de banho de abrigos na Austrália ou a infiltrarem-se em filas para receber comida de graça, destinada a pessoas sem-abrigo. É o tipo de coisa que apenas ocidentais privilegiados assumem que podem fazer”, escreveu Ben Gorund, repórter de viagens que considera a prática “pouco ética”.

Outros artigos e publicações de viajantes culpam a “'glamorização’ de viajar com pouco dinheiro” e lamentam que a falsa pobreza seja usada como distintivo de um “viajante autêntico”. “Do ponto de vista dos locais, pedir para te divertires ao lado de pessoas que pedem para sobreviver é um insulto à sua história, cultura e humanidade”, escrevem no blogue Caravan Spirits Eduardo e Delaney, um casal de viajantes. 

A bióloga norte-americana e o especialista em comunicação do Equador conheceram-se em viagem e relembram as várias formas de “viajar a longo termo com um orçamento curto, sem teres de pedir esmolas — especialmente a alguém que vive nos países mais pobres”. Falam de encontrares trabalhos online, voluntariares o teu tempo em troca de casa e comida, do Couchsurfing ou de outras plataformas semelhantes, de boleias. E defendem: “Não há nada de errado em ocasionalmente aceitar a hospitalidade de um local que te oferece uma refeição ou um sítio para ficar, mas isto não é algo que deves esperar ou de que deves abusar.”