Rio rejeita ser autoritário e garante que vai incluir críticos nas listas
Líder do PSD assegurou que não tem apego pessoal ao lugar, mas não esclareceu se se mantém caso o resultado do partido seja de 22%.
O líder do PSD rejeitou ser autoritário ou um ditador na forma como gere o partido e assegurou que vai incluir críticos nas listas de deputados. Rui Rio deu, esta segunda-feira, uma entrevista à TVI, um dia depois de o PÚBLICO ter revelado que seu vice-presidente (e amigo) Manuel Castro Almeida se afastou da direcção do PSD.
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O líder do PSD rejeitou ser autoritário ou um ditador na forma como gere o partido e assegurou que vai incluir críticos nas listas de deputados. Rui Rio deu, esta segunda-feira, uma entrevista à TVI, um dia depois de o PÚBLICO ter revelado que seu vice-presidente (e amigo) Manuel Castro Almeida se afastou da direcção do PSD.
Rui Rio foi confrontado com uma notícia do Expresso que citava uma fonte anónima que o acusava de “evitar Lisboa” e de gerir o partido de forma “unipessoal”. Questionado sobre se é um autoritário ou ditador, o líder do PSD respondeu: “Não. E quem me conhece bem sabe exactamente que não”, afirmou, esclarecendo que quando tem uma “convicção sobre uma matéria”, aí sim, é “inabalável”, mas que esses são “casos pontuais”.
O exemplo que apontou foi o da sua convicção sobre os “julgamentos populares” quando está a decorrer uma investigação criminal e se deve preservar a presunção da inocência. Rui Rio falou nesta sua posição a propósito de Álvaro Amaro, eurodeputado do PSD, que está a ser investigado por corrupção.
Assegurando que houve “posições diferentes” em torno do programa eleitoral, Rui Rio justificou alguma eventual posição não coordenada internamente com a agenda mediática que o interpela sobre matérias que não estiveram em discussão na sua direcção naquele dia. Questionado sobre se vai admitir críticos nas listas de deputados, o líder do PSD foi afirmativo: “Sim, sim”. No entanto, Rio sublinhou não lhe ser “indiferente” a falta de lealdade seja de apoiantes seus ou não, mas rejeitou que isso signifique tenham de concordar com tudo: “Pode ser até discordar de forma leal”.
O líder do PSD não quis esclarecer se tem intenção de se manter à frente do partido se o resultado for de 22% nas legislativas. “Vai depender de muitos factores. O apego, meu, pessoal ao lugar, não é nenhum. É a tal vantagem de já ter 60 anos, deriva da minha obrigação de serviço público”, afirmou, garantindo não ficará por “ambição pessoal”.
Durante a entrevista, Rui Rio explicou as propostas económico-financeiras que apresentou na passada sexta-feira e como é que pretende descer impostos.
O líder do PSD sustentou que o crescimento económico previsto até 2023 vai “gerar folgas” de 15 mil milhões de euros. “Há decisões políticas que se tomam sobre estes 15 mil milhões de euros: 3,7 mil milhões de euros, são para redução de imposto, 3,6 mil milhões são para reforço do investimento público e 7 mil milhões de euros são para reforço da despesa corrente”, afirmou, demarcando-se da posição assumida pelo PS. “O primeiro-ministro tinha dito que não reduzia impostos, agora diz que vai reduzir, e que vai repetir à solução à esquerda. Como é que ele vai fazer? É impossível”, sustentou.
Dois membros da direcção sem apoio
A revelação do afastamento de Castro Almeida acontece no momento em que se estão a compor as listas de deputados e se avizinha um período de tensão interna. Dois dos vogais da comissão política nacional – e por sinal muito próximos de Rui Rio - não foram indicados por nenhuma das concelhias nas respectivas distritais: António Topa (Aveiro), e Maló de Abreu (Coimbra).
Mas a proximidade com o líder do partido leva a acreditar que acabarão por fazer parte da lista final de candidatos em lugar elegível. Outros dois nomes da comissão política nacional também não foram indicados pelas respectivas distritais mas foram escolhidos por Rui Rio para cabeças de lista: André Coelho Lima (Braga) e Cláudia André (Castelo Branco).
O processo de conclusão das listas começa a aproximar-se do fim e, nesse sentido, já há reuniões agendadas entre as distritais e a direcção do partido. É nesta fase que se fazem acertos entre a lista proposta pela estrutura e a vontade da direcção, o que não deixa ainda perceber quais os nomes de actuais deputados podem ficar de fora e, entre eles, quais os críticos de Rui Rio se vão manter.
Em Viseu, por exemplo, ainda não é conhecido o cabeça-de-lista, mas o PÚBLICO sabe que João Montenegro, ex-director de campanha de Santana Lopes e membro da mesa do conselho nacional, é apontado como um dos nomes da lista em lugar elegível. João Montenegro é natural do distrito, mas já viu o seu nome como possível na lista de Viana do Castelo.
Petição a favor de deputada
Em Vila Real, o nome da deputada Manuela Tender — que é apoiante de Rui Rio — não constou da proposta da distrital, o que levou a que fosse lançada uma petição online. No texto, dirigido a Rui Rio, os apoiantes defendem as qualidades pessoais e profissionais da deputada e pedem que seja cabeça-de-lista pelo distrito. Até esta segunda-feira, este movimento insólito a favor de Manuela Tender já tinha sido subscrito por 525 nomes. O cabeça-de-lista por Vila Real ainda não é conhecido.
As listas têm de ser aprovadas em conselho nacional, o que deverá acontecer no final do mês e, para isso, Rui Rio precisa de ter uma maioria (mínimo 76 votos), o que abre caminho a uma quase repetição do que aconteceu em Janeiro deste ano quando Luís Montenegro desafiou a liderança e perdeu.
No limite, se as listas fossem chumbadas, teria de se formar uma maioria para aprovar alterações. Mas isso seria uma derrota fatal para um líder, a três meses das eleições.