Eleitorado grego vira costas à Aurora Dourada mas emerge nova extrema-direita
O partido não ultrapassou o mínimo de 3% de votos para entrar no parlamento grego. O líder do partido neonazi, Nikolaos Michaloliakos, garantiu que a Aurora Dourada “não está acabada” e que voltará às “ruas e praças”, onde se tornou “forte” e atacou imigrantes e refugiados.
O eleitorado grego virou-lhe as costas e a Aurora Dourada não gostou. Esta segunda-feira, um dia depois das legislativas, a liderança do partido neonazi anunciou que vai contestar os “resultados escandalosos” que obteve. Ficou-se pelos 2,98% dos votos, não ultrapassando os 3% mínimos necessários para entrar no parlamento. Foi substituído no órgão legislativo por um outro partido, o Solução Grega, também de extrema-direita e que conquistou 3,7% dos votos.
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O eleitorado grego virou-lhe as costas e a Aurora Dourada não gostou. Esta segunda-feira, um dia depois das legislativas, a liderança do partido neonazi anunciou que vai contestar os “resultados escandalosos” que obteve. Ficou-se pelos 2,98% dos votos, não ultrapassando os 3% mínimos necessários para entrar no parlamento. Foi substituído no órgão legislativo por um outro partido, o Solução Grega, também de extrema-direita e que conquistou 3,7% dos votos.
A pesada derrota eleitoral foi o segundo episódio de uma perda de apoio popular que já se tinha repercutido nas eleições europeias deste ano, quando perdeu quase 60% da sua base eleitoral. Dos três eurodeputados eleitos em 2014, a Aurora Dourada conseguiu eleger apenas dois ao conquistar 4,88% dos votos, uma perda de 4,51%. Em contraponto, o Solução Grega, fundado em 2016 pelo antigo vendedor de “cartas de Jesus” e deputado pelo LAOS, Kyriakos Velopoulos, conseguiu eleger um eurodeputado ao obter 4.18%.
À semelhança da Aurora Dourada, também o Solução Grega foca as suas baterias numa dura política anti-imigração. Segundo o seu manifesto eleitoral, defende a construção de um muro de 200 quilómetros ao longo da fronteira terrestre greco-turca, quer “mandar embora as organizações não-governamentais” e “deportar de imediato” os imigrantes sem documentos. O direito ao exílio, diz, é apenas para aqueles que “genuinamente precisam dele”. Já Velopoulos declara abertamente que as suas grandes inspirações são Donald Trump, Viktor Orbán e Matteo Salvini.
Desde 2012 que os deputados da Aurora Dourada eram presença assídua no parlamento grego. Em 2009, o partido não teve mais de 0,29% nas legislativas, mas, nas autárquicas do ano seguinte e com a crise a atingir o país, irrompeu em Atenas com a eleição de um deputado municipal. Depois, nas de Maio de 2012 ultrapassou os 3% dos votos e entrou no parlamento com 21 deputados e na repetição das legislativas, um mês depois, elegeu 18. Nas seguintes, em Janeiro e Setembro de 2015, manteve um grupo parlamentar com 17 e 18, respectivamente.
A queda eleitoral da Aurora Dourada está relacionada com o julgamento que pôs a sua liderança no banco dos réus sob a acusação de criar e participar numa “organização criminosa”. Há muito conhecido pelas suas acções violentas, os dirigentes proeminentes do partido foram investigados, detidos e acusados depois do assassínio do rapper Pavlos Fyssas por um militante neonazi, em Setembro de 2013.
Até esse momento, o partido era encarado com simpatia por muitos gregos por organizar distribuições de alimentos e bens, ainda que apenas para nacionais – quem recebia ajuda tinha obrigatoriamente de comprovar a sua nacionalidade ao mostrar o cartão de identificação. Para isso, usava o dinheiro que recebia do parlamento, pelo menos até este ter suspendido as transferências no valor de quase um milhão de euros anuais por tempo indefinido em Outubro de 2013.
O fundador do partido neonazi, referido como “O Líder”, Nikolaos Michaloliakos, é um dos que se senta no banco dos arguidos há mais de quatro anos. Caso ele e os seus próximos sejam condenados, é provável que a força partidária seja ilegalizada. Com a mais recente derrota eleitoral, o partido perderá definitivamente uma parte significativa do seu financiamento e a totalidade dos seus deputados a imunidade diplomática, possibilitando futuras acusações.
Em jeito de desafio, Michaloliakos garantiu que o partido “não está acabado” e prometeu voltar em força para combater o “bolchevismo e o capitalismo selvagem”. “Estamos a enviar uma mensagem aos nossos inimigos e aos nossos supostos amigos: a Aurora Dourada não está acabada”, garantiu o líder neonazi num comício, citado pela Al-Jazira. “A luta pelo nacionalismo continua. Regressaremos onde nos tornámos fortes: nas ruas e nas praças”. E, para terminar o discurso, fez a saudação nazi dizendo “Heil! Vitória!”.
Os militantes neonazis tornaram-se conhecidos por serem violentos e actuarem em grupos paramilitares – os “batalhões Storm”, nas palavras da acusação – para perseguir e espancar imigrantes, refugiados e activistas dos direitos dos imigrantes, tendo inclusive tirado a vida a alguns. Uma das suas vítimas foi o paquistanês Shahzat Lukman, de 27 anos, brutalmente esfaqueado em Janeiro de 2013, em Atenas.
A morte de Lukman mergulhou a comunidade imigrante num medo permanente durante anos. Uma morte que se junta ao espancamento de mais de mil imigrantes trabalhadores nas ruas até as autoridades terem actuado contra o partido. Agora, Michaloliakos ameaça voltar a reerguê-lo.