Rússia admite reforçar apoio ao Exército da Venezuela

Moscovo tem planos para ajudar os militares venezuelanos a apurarem o uso do material enviado para o país. Situação dos direitos humanos na Venezuela é discutida na ONU esta sexta-feira.

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A Rússia e a China são os dois mais poderosos apoiantes do Presidente Nicolás Maduro LUSA/PRENSA MIRAFLORES HANDOUT

A Rússia tem planos para reforçar o seu apoio às forças armadas da Venezuela, através da cooperação para o uso do material vendido ao país, disse esta sexta-feira o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Riabkov.

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A Rússia tem planos para reforçar o seu apoio às forças armadas da Venezuela, através da cooperação para o uso do material vendido ao país, disse esta sexta-feira o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Riabkov.

Moscovo e Pequim mantêm-se ao lado do Governo do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, enquanto outras potências, como os EUA e a União Europeia, reconhecem como Presidente legítimo Juan Guaidó.

“Quero sublinhar que estou a falar especificamente do trabalho com o equipamento que foi entregue à Venezuela”, disse Riabkov, citado pela agência de notícias RIA.

A situação na Venezuela está em discussão, esta sexta-feira, na Comissão de Direitos Humanos da ONU.

Segundo um relatório da alta comissária para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, conhecido na quinta-feira, as forças de segurança da Venezuela estão a enviar esquadrões da morte para assassinarem jovens e fazerem crer que as vítimas resistiram às ordens de detenção.

De acordo com os números do Governo venezuelano, em 2018 morreram 5287 pessoas quando tentavam resistir a ordens de detenção, e de Janeiro a 19 de Maio deste ano morreram 1569. No relatório, as Nações Unidas dizem que muitas dessas mortes foram assassínios extrajudiciais.

As famílias de 20 homens que foram mortos disseram que testemunharam a chegada às suas casas de homens de cara tapada e vestidos de negro, das Forças de Acção Especial, em carrinhas negras e sem matrícula. Segundo esses familiares, os grupos arrombaram as portas das suas casas, levaram pertences e agrediram mulheres e raparigas, em algumas ocasiões deixando-as nuas.

“Eles separaram os rapazes dos outros familiares antes de os matarem”, cita o relatório.

“Em todos os casos, as testemunhas contam que os grupos manipularam as cenas dos crimes. Plantaram armas e drogas e dispararam contra as paredes ou contra o tecto, para darem a impressão de que houve resistência às autoridades.”

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos visitou a Venezuela no mês passado e vai apresentar o relatório esta sexta-feira ao Conselho de Direitos Humanos.

 O documento diz que os assassínios fazem parte de uma estratégia do Governo do Presidente Nicolás Maduro para “neutralizar, reprimir e criminalizar opositores políticos e críticos do Governo”, que terá acelerado em 2016.

Relatório “parcial"

A ONU divulgou também uma resposta escrita do Governo venezuelano aos casos mencionados no relatório, que classifica o documento como “uma visão selectiva e claramente parcial” sobre a situação dos direitos humanos no país.

“Uma análise que privilegia ao extremo os testemunhos negativos, enquanto esconde ou minimiza medidas adoptadas para melhorar os direitos humanos, não é objectiva nem imparcial”, disse o Governo venezuelano.

Numa declaração enviada ao Conselho dos Direitos Humanos, a antiga Presidente do Chile diz que Caracas se comprometeu a trabalhar com as Nações Unidas para resolver alguns dos assuntos mais sensíveis, incluindo o uso de tortura e a falta de acesso à Justiça, e para permitir um acesso total às prisões.

“Tenho esperanças de que o acesso que me foi permitido – e a aceitação posterior das autoridades para autorizarem a presença contínua de dois responsáveis da ONU no país – significa o início de um envolvimento positivo com os vários problemas de direitos humanos no país”, disse Michelle Bachelet.

“No entanto”, prosseguiu a responsável, “as instituições cruciais e o primado da lei na Venezuela foram profundamente afectados”.

“O exercício das liberdades de opinião, associação e reunião, e o direito a participar na vida pública, envolvem riscos de repressão. O nosso relatório expõem ataques contra opositores e defensores dos direitos humanos, desde ameaças a campanhas de descredibilização, passando por detenções arbitrárias, tortura e maus-tratos, violência sexual, assassínios e desaparecimentos forçados”, disse Michelle Bachelet.

No final da sua declaração, a responsável formulou um desejo: “Espero sinceramente que as autoridades olhem com atenção para a informação contida no relatório e que sigam as recomendações. Todos devemos concordar que todos os venezuelanos merecem ter uma vida melhor.”