Quebra na indústria alemã sugere que retoma é uma miragem
O motor da economia europeia segue em ponto morto. Quebra nas encomendas de Maio é superior à esperada. Indústria perde 8,6% face a 2018.
Soam os alarmes na Alemanha – e a Europa bem pode roer as unhas. Os dados da indústria alemã revelados nesta sexta-feira mostram que as encomendas caíram 2,2% em Maio face ao mês precedente. É uma quebra bem superior ao esperado e mostra que a esperança numa retoma alemã que também ajude a reanimar a economia europeia volta a ser enterrada, por agora.
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Soam os alarmes na Alemanha – e a Europa bem pode roer as unhas. Os dados da indústria alemã revelados nesta sexta-feira mostram que as encomendas caíram 2,2% em Maio face ao mês precedente. É uma quebra bem superior ao esperado e mostra que a esperança numa retoma alemã que também ajude a reanimar a economia europeia volta a ser enterrada, por agora.
Na comparação homóloga com 2018, os números divulgados nesta sexta-feira pela autoridade estatística na Alemanha, o Destatis, são ainda mais chocantes. As encomendas caíram 8,6% em Maio de 2019 face ao mesmo mês do ano transacto. “É um péssimo sinal para a Europa”, dizem analistas alemães e ingleses, ouvidos por diferentes jornais europeus. A descida de 8,6% face a Maio de 2018 é, de resto, a pior variação homóloga desde 2009.
O ministro federal alemão da Economia, Peter Altmaier, viajou para Helsínquia, para se reunir com os homólogos europeus e debater o crescimento sustentável e uma “política industrial moderna". Quando regressar a Berlim, outra pergunta estará à espera dele: como reanimar uma economia que escapou por um triz à recessão em 2018 – e que, desde Janeiro, vive entre notícias assim-assim e más notícias?
As encomendas à indústria alemã são um indicador muito usado para aferir o estado de saúde da economia global. No fundo, trata-se de uma espécie de termómetro que mostra a procura pela produção de bens no principal motor económico europeu. O que os dados agora revelados mostram é que o contributo mais negativo é precisamente da procura externa, já que a procura interna até subiu 0,7%. Porém, a demanda da zona euro caiu 1,7% e nas restantes regiões do mundo a quebra foi ainda mais significativa, de 5,7%.
Os fabricantes de bens intermédios viram as encomendas descerem 1,5% e os bens de capital (como maquinaria pesada) perderam 2,8%. Já em Abril, a comparação homóloga mostrava uma indústria em crise: nesse mês, a quebra face a 2018 era de 5,3%.
Alguns analistas dizem que este comportamento mostra os danos que a guerra comercial entre EUA e China pode provocar à economia mundial. Carsten Brzeski, do banco ING, diz que as novidades germânicas são “devastadoras”. “Começámos a perder o nosso optimismo”, reage este analista, lembrando que Março e Abril até tinham sido meses com variações positivas (ainda que muito pequenas). Porém, “combinando os dados de Maio com os dados de Junho do mercado de trabalho, que registou a mais fraca prestação desde 2002, e os dados desanimadores do retalho, a economia alemã fecha desta forma uma semana para esquecer. O factor medo regressou”, sustenta Brzeski.
Nas bolsas internacionais, o desânimo foi contrariado pelos dados do emprego nos EUA, onde foram criados 224 mil postos de trabalho novos em Junho – mais do que o esperado - embora a taxa de desemprego até tenha subido, para 3,7% (face a 3,6%, um mínimo de 50 anos, registado em Maio). O mercado laboral norte-americano afasta assim receios de recessão no outro lado do Atlântico, a poucas semanas de a Reserva Federal se pronunciar sobre um eventual corte nas taxas – algo menos garantido perante este resultado.
Mas na Europa, o ambiente é menos positivo, até porque o ministério alemão da Economia já avisou que o cenário vai continuar perigoso nos próximos meses.
Em termos sectoriais, a indústria automóvel perdeu 1,6% de encomendas do mercado interno e 5% no mercado externo, sendo uma das áreas que mais preocupam os responsáveis alemães e respectivos parceiros europeus. Isto porque a indústria de carros emprega 800 mil pessoas na Alemanha, mas enfrenta desafios complicados, como o "Brexit” e a perda de gás na China. As vendas de carros no mercado chinês (que tem sido muito relevante para as marcas alemãs) registaram em 2018 a primeira quebra em 20 anos. A transição para a produção de eléctricos complica ainda mais o cenário deste sector. Basta pensar que a Daimler mudou de chefe em Maio e que a BMW acaba de anunciar, neste mesmo dia, que também vai procurar um novo presidente executivo.