Rua das Pretas instala-se por uma noite no palco do Coliseu de Lisboa

Este sábado, o encontro musical Rua das Pretas muda-se do Príncipe Real para o Coliseu de Lisboa (às 21h), com músicos e público no palco. O cantor e compositor brasileiro Pierre Aderne, criador e dinamizador do projecto, explica como e porquê.

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Pierre Aderne no palacete do Príncipe Real DANIEL ROCHA

O nome vem da própria rua. Foi lá que o cantor e compositor brasileiro Pierre Aderne se instalou em Lisboa, depois de viver uns tempos no Poço dos Negros, onde teve a ideia de começar a fazer umas tertúlias musicais, juntando amigos em torno de canções e conversas, com comida e vinhos. Tornou-se hábito e, com o tempo, encontrou uma nova morada num palacete do Príncipe Real, que gentilmente abriu portas a estes convívios.

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O nome vem da própria rua. Foi lá que o cantor e compositor brasileiro Pierre Aderne se instalou em Lisboa, depois de viver uns tempos no Poço dos Negros, onde teve a ideia de começar a fazer umas tertúlias musicais, juntando amigos em torno de canções e conversas, com comida e vinhos. Tornou-se hábito e, com o tempo, encontrou uma nova morada num palacete do Príncipe Real, que gentilmente abriu portas a estes convívios.

Mas a mudança não alterou o nome. E ficou, até hoje, Rua das Pretas. Um ano depois de se mudar para o Príncipe Real, com encontros regulares aos sábados, ao final da tarde, a Rua das Pretas foi vendo passar por aquele espaço mais de 140 artistas e cerca de 4 mil pessoas de 53 países. Além disso, foi ganhando outros pousos: Porto, Paris, Nova Iorque e Madrid.

Convém lembrar que, antes da Rua das Pretas, Pierre Aderne já dinamizara uns encontros a que chamou Música Portuguesa Brasileira (reutilizando a sigla MPB com novo significado) e que, juntando músicos portugueses, brasileiros e africanos de diversas áreas, chegaram a ser registados em filme, estreado em 2012, e exibido depois como série na RTP1, em 2013.

Como a Caravana Rolidei

Mas o que fez com que Rua das Pretas viesse a ocupar, por uma noite, o palco do Coliseu dos Recreios? Um acaso: Ricardo Covões, do Coliseu, assistiu a vários dos encontros no palacete e um dia sugeriu a Pierre que podia experimentar fazer aquilo no palco do Coliseu, com os músicos de costas para a plateia e a assistência, também no palco, em semicírculo. “Achei a ideia fantástica”, diz Pierre ao PÚBLICO. “A ideia foi amadurecendo e, há uns meses, fomos lá ver o espaço. A plateia vazia será a paisagem, como vista de uma janela aberta, e o público fica de frente para nós, em três meias-luas de setenta e poucos lugares.”

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Pierre Aderne no palco do Coliseu, em ensaio DR

Se resultar, como todos eles esperam, este formato poderá ser aplicado a outros teatros do país, aproveitando dias em que não tenham espectáculos marcados. “A ideia é fazer uma coisa diferente, seguir como era a Caravana Rolidei do Bye Bye Brasil do Cacá Diegues [filme de 1979, com música de Chico Buarque, Roberto Menescal e Dominguinhos], ou seja, com a vontade de ir fazendo o show mas sem ter o peso da produção nas costas.”

O Coliseu de Lisboa será o primeiro desta série. “Resolvemos filmar, com seis câmaras. Vamos ter dez pessoas no palco, fixas.” Entre eles, os habitués da Rua das Pretas: Augusto Baschera, violão; Walter Areia, contrabaixo; Humberto Araújo, flautas (“foi maestro do Tim Maia e do Luiz Melodia e está morando agora em Lisboa”); Wesley Vítor, percussão; Camila Masiso, voz; Joana Amendoeira, voz; e Luís Coelho na guitarra portuguesa. Isto além do próprio Pierre, em voz e violão, e de “participações que entram e saem”: Cristina Clara, Susana Félix, a fadistas Matilde Cid, Matilde Antunes, Liliana Macedo e o violonista, arranjador, compositor e actor brasileiro Luís Filipe de Lima, no violão de sete cordas.

Luís Filipe de Lima, carioca, filho do também actor Luís de Lima (1925-2002), está em Portugal para gravar o novo disco a solo de Pierre Aderne, que vai chamar-se Meio Fado. “É uma pesquisa do Luís Filipe, de samba dos anos 40-50, principalmente samba-canção, que tem uma estrutura harmónica, melódica e poética similar aos fados. Vamos ter violão de sete cordas, contrabaixo e guitarra portuguesa, só.” O lançamento deve ser este ano.

Rua das Pretas, um disco renovado

Entretanto, foi também relançado o disco Rua das Pretas, que teve uma primeira edição em 2018, com dez faixas e a participação de vários artistas, com produção de Hector Castillo e produção executiva de Dirk Niepoort, conhecido empresário vinícola que se lhe associou neste projecto. A nova edição, em vinil e nas plataformas digitais, tem 14 faixas e inclui novos temas como Nha morninha ou Fado dos barcos, onde Pierre canta, respectivamente, com Sara Tavares e Cuca Roseta; ou ainda Vindima-me e Uma casa portuguesa, gravada a partir do arranjo original de João Gilberto, que a cantou no Coliseu de Lisboa, em 1984.

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Pierre Aderne no palacete do Príncipe Real DANIEL ROCHA

Mas o disco não ficará por aqui. “A Rua das Pretas, como projecto de resistência cultural lusófona, não pode se ater a um disco. A minha ideia é que, de tempos em tempos, a gente vá agregando novas faixas. E assim haja uma mutação, como se fossem outtakes ou bonus tracks. Dando visibilidade para artistas que são interessantes e vão surgindo por aí.”