Os tubarões e as raias estão a ficar com a corda ao pescoço
Investigadores da Universidade de Exeter, no Reino Unido, fizeram um balanço do número de tubarões e raias que já ficaram presos em plástico. Contaram pelo menos 600 ocorrências, mas admitem que o número pode ser maior porque faltam estudos sobre o tema.
Mais de 600 exemplares marinhos emaranhados, entrelaçados ou presos em plástico. Foi a este número (que pode muito bem ser mais alto) que uma equipa de investigadores da Universidade de Exeter, no Reino Unido, chegou ao fazer um balanço da quantidade de elasmobrânquios (subclasse de peixes cartilagíneos, com mais de mil espécies já identificadas), nomeadamente de tubarões e raias, que já ficaram presos em algum tipo de resíduo plástico proveniente de fontes terrestres ou resíduos de actividades piscatórias.
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Mais de 600 exemplares marinhos emaranhados, entrelaçados ou presos em plástico. Foi a este número (que pode muito bem ser mais alto) que uma equipa de investigadores da Universidade de Exeter, no Reino Unido, chegou ao fazer um balanço da quantidade de elasmobrânquios (subclasse de peixes cartilagíneos, com mais de mil espécies já identificadas), nomeadamente de tubarões e raias, que já ficaram presos em algum tipo de resíduo plástico proveniente de fontes terrestres ou resíduos de actividades piscatórias.
O problema do plástico não é recente, nem muito menos uma surpresa. Como também não é novo que esses mesmos detritos sejam causados pelo ser humano, ao ponto de até serem encontrados em ambientes marinhos, desde as praias e costas de países, até às profundidades do oceano, como a fossa das Marianas.
Segundo os autores, a vida marinha é afectada por este material de várias formas, desde a ingestão ao emaranhamento, passando pelos efeitos que o plástico pode ter nos seus ecossistemas e na degradação dos seus habitats.
A equipa escolheu os tubarões e as raias em específico uma vez que as duas espécies exibem características em comum que as tornam “altamente susceptíveis à sobreexploração”, entre elas a maturação tardia, o baixo rendimento em termos reprodutivos e uma vida considerada longa.
“Os elasmobrânquios são um das subclasses de peixes cartilagíneos mais ameaçadas no ambiente marinho, com 24% da sua população considerada em perigo de extinção por uma série de ameaças causada pela mão humana”, referem os autores do estudo.
Ainda segundo os cientistas, o emaranhamento de elasmobrânquios em detritos marinhos é um assunto pouco estudado na comunidade científica, uma vez que se acredita que esta subclasse é menos vulnerável à poluição plástica do que outras grandes espécies marinhas. No entanto, sugerem os autores, essa crença pode não passar de uma consequência da falta de estudos neste campo.
Por esta razão, a equipa decidiu dividir o seu trabalho em duas partes: por um lado, fez uma revisão de todos os estudos científicos já publicados que envolvessem o entrelaçamento de raias ou tubarões em plástico. Por outro, para uma abordagem mais recente, a equipa reuniu todos os relatos publicados na rede social Twitter entre 2009 e 2019 que englobassem o mesmo acontecimento.
“O plástico tem baixos custos em termos de produção, é leve, durável e eficiente em quase tudo em que é usado. Infelizmente, são essas propriedades, em conjunto com a sua natureza descartável, o rápido consumo humano e as dificuldades dos países em lidar com este material, que levam a que a sua presença continue nos oceanos, sem se degradar durante centenas de anos”, lê-se no estudo.
Mais de 600 animais marinhos presos em plástico
A equipa registou um total de 47 eventos deste género envolvendo tubarões (82,9%) e raias (12,7%), que abrangeram 34 espécies de 16 famílias marinhas diferentes, um total de 557 casos, segundo a informação que retiraram de todos as publicações científicas analisadas e relacionadas com o tema.
Um dos exemplos apresentados pela equipa em fotografias e descrito no estudo é a de um tubarão-mako (Isurus oxyrinchus) que tem uma corda de pesca presa no pescoço. “O corpo do tubarão, que era ainda jovem quando ficou preso, continuou a crescer à volta da corda o que fez com que esta ficasse cada vez mais apertada e acabasse por causar danos na sua coluna vertebral”, refere uma das autoras do estudo em comunicado.
Os investigadores concluíram também que as actividades piscatórias foram responsáveis por mais de dois terços de todos os registos de animais marinhos presos em plástico. “Também descobrimos que 60% (334 exemplares) do total dos animais entrelaçados ficaram com o corpo totalmente preso, uma vez que na maior parte dos casos quando os animais ficam presos em armadilhas de pesca ficam retorcidos no material, e aprisionam o seu corpo inteiro durante o processo”, lê-se nas conclusões do estudo.
No Twitter, foi divulgado um total de 74 episódios diferentes de tubarões e raias presas em plástico que abrangeram 26 espécies, isto entre 2009 e 2019. Neste caso, os resíduos da pesca voltaram a ser os maiores causadores do problema, mas foram reportados outros detritos que incluíam sacos de polietileno, cordões elásticos, roupas e equipamentos de mergulho.
Um problema e uma ameaça
O estudo retrata um problema presente em todos os oceanos do mundo, com a excepção do Árctico e do Antárctico, nos quais existem apenas alguns relatos de avistamento de espécies de elasmobrânquios. A maior parte dos animais presos em plástico foram encontrados no Pacífico (275 exemplares, o equivalente a 46%), no Atlântico (253) e no Índico (28). Na análise no Twitter, o Atlântico e Pacífico lideraram também a lista de oceanos onde foram reportados casos deste tipo.
Ao combinar as investigações científicas e os resultados encontrados no Twitter, a equipa descobriu que este problema afectou pelo menos 22 famílias de criaturas marinhas diferentes. “O número de elasmobrânquios emaranhados em plástico que relatamos aqui é mínimo em comparação com o número de criaturas capturadas de forma directa ou indirecta em alguns tipos de pescas. No entanto, não há dúvidas de que este problema é uma ameaça adicional aos tubarões e às raias”, refere a equipa.
Os investigadores sugerem que sejam feitas pesquisas futuras para revelar se o problema do plástico é apenas uma ameaça para o bem-estar das espécies ou se pode ter “efeitos amplos” na conservação das mesmas. Para tal, a equipa acredita que será necessária uma colaboração sem precedentes da comunidade científica, do sector das pescas e do público em geral para que seja possível quantificar o problema e encontrar soluções que mitiguem a pesca ilegal e a poluição terrestre e dos oceanos.