Ordem dos Médicos lança “alerta” para a situação do Hospital de Portalegre
O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, declarou esta quarta-feira que, caso se perca a capacidade na área de medicina interna e de cirurgia geral no Hospital de Portalegre este “corre o risco de qualquer dia não existir”.
A afirmação foi feita na Comissão de Saúde, onde o bastonário lançou um “grito de alerta” para a actual situação da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (onde está inserido o Hospital de Portalegre) e do Hospital de Beja.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A afirmação foi feita na Comissão de Saúde, onde o bastonário lançou um “grito de alerta” para a actual situação da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (onde está inserido o Hospital de Portalegre) e do Hospital de Beja.
Miguel Guimarães mencionou o facto de esta Unidade sobreviver “à custa da prestação de serviços”, enumerando que, dos dados a que teve acesso, “foram feitas cerca de 200 mil horas em prestação de serviços na unidade de cuidados intensivos, no qual foi gasto 5,5 milhões de euros”.
“A situação como um todo deixa-nos preocupados, sobretudo o facto de termos um acesso bastante diferente a cuidados de saúde num território tão pequeno como é o nosso país”, afirma.
Esta quarta-feira, durante a audição, Miguel Guimarães explica que não têm recebido solicitações do Ministério da Saúde “para resolver nenhuma situação em concreto”: “A tutela nunca fez nada. Nem sequer nos respondeu, nem sequer nos deu qualquer tipo de resposta, de solução ou sequer pediu ajuda.”
O presidente do Conselho Sub-Regional de Portalegre da Ordem, Jaime Azedo, concretizou que o que leva “à sobrelotação do hospital [de Portalegre] tem a ver com a medicina interna. Explicou que no Hospital de Portalegre, “esta especialidade – uma das obrigatórias para que uma urgência médico-cirúrgica funcione – tem neste momento sete médicos. Um deles tem mais de 55 anos e seis fazem urgência”.
Para além disso, especialidades como a cardiologia, gastrenterologia, neurologia, cirurgia pediátrica, otorrinolaringologia não registam nenhum médico nos quadros deste hospital. Já a pediatria conta com quatro médicos (nenhum faz urgência); a cirurgia geral com dez, sendo que metade tem mais de 55 anos (oito deles fazem urgência); ortopedia tem dois médicos, ambos com mais de 55 anos (um faz urgência) e obstetrícia tem dois médicos (um faz urgências).
Jovens vão fazer o internato fora do país
O bastonário reconhece a dificuldade em fixar profissionais jovens nestas áreas. Na sua opinião, a solução está em apostar na formação: “Sei que não é fácil fazer com que os profissionais de saúde, nomeadamente os médicos, vão trabalhar para as zonas mais carenciadas. Uma das principais armas que temos tido é a formação. A existência de internatos médicos leva a que pelo menos alguns jovens especialistas optem por ficar [nestas regiões]”, explicou.
No entanto, referiu o facto de os jovens profissionais queixarem-se de que a formação que existe actualmente nestas zonas é insuficiente, o que, em última análise, coloca o funcionamento destas unidades hospitalares em risco. Ilustrou a situação com o exemplo de dois internos, que vão fazer o internato fora do país por não terem as condições adequadas para fazer medicina interna no Hospital de Portalegre.
“[Os vários internos] estão neste momento a pressionar a Ordem, não estão a ter a formação que é devida. Claro que a solução mais fácil é pedir ao Colégio de Medicina Interna que faça uma visita de idoneidade: retira a idoneidade e aloca os internos noutros sítios. Se isso acontecer, é uma desgraça ainda maior para Portalegre. Se não encontrarmos uma solução rápida corremos o risco desses internos saírem pelo pé deles, procurarem outras alternativas”, alertou o bastonário.
Numa última nota, Miguel Guimarães explicou que iriam estudar a situação “com os colegas de Portalegre” e que, num prazo máximo de 15 dias, apresentariam uma nova proposta aos deputados.
Texto editado por Pedro Sales Dias