Donald Tusk debaixo de fogo por causa da nomeação de Ursula von der Leyen

Depois dos líderes europeus, foi a vez dos eurodeputados atacarem o presidente do Conselho Europeu pela forma como conduziu as negociações para distribuição dos cargos de topo da UE.

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Ursula von der Leyen com Donald Tusken FRANCOIS LENOIR/EPA

Enquanto em Bruxelas, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, recebia a mulher indicada para lhe suceder no cargo, Ursula von der Leyen, de braços abertos e sem reservas, em Estrasburgo os eurodeputados davam voz à sua revolta contra o acordo fechado pelos líderes europeus que resultou na nomeação da ministra da Defesa da Alemanha para a chefia do executivo comunitário.

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Enquanto em Bruxelas, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, recebia a mulher indicada para lhe suceder no cargo, Ursula von der Leyen, de braços abertos e sem reservas, em Estrasburgo os eurodeputados davam voz à sua revolta contra o acordo fechado pelos líderes europeus que resultou na nomeação da ministra da Defesa da Alemanha para a chefia do executivo comunitário.

Em causa estava, como lembraram os parlamentares, um após o outro, o desrespeito demonstrado pelo Conselho Europeu pelo processo dos cabeças de lista (ou Spitzenkandidaten) que apresentaram um programa político e se submeteram ao escrutínio dos eleitores durante a campanha — e cuja selecção pelos líderes para o principal cargo das instituições comunitárias estaria, por isso, automaticamente revestida de legitimidade democrática.

As intervenções no plenário de Estrasburgo, muito críticas, dividiram-se em duas linhas. Houve aqueles que, perante a “afronta” dos líderes europeus, defenderam que era obrigação do Parlamento reagir imediatamente para não sair “enfraquecido” deste processo. E houve outros que, reconhecendo que se nas negociações a 28 ficou claro não haver condições para o sistema funcionar, era preciso aperfeiçoá-lo para garantir que será respeitado da próxima vez.

“O futuro da Europa tem de deixar de decidir-se à porta fechada e em conspirações secretas”, atacou o líder da bancada do Partido Popular Europeu, Esteban González Pons, que se referiu à “ideia verdadeiramente revolucionária” em que assenta o sistema de Spitzenkandidaten, “e que é a democracia”. “Os europeus têm direito a votar não apenas sobre como serão governados mas também por quem serão governados”, defendeu, acrescentando que “os interesses legítimos dos governos representados no Conselho não deveriam impor-se, pela força dos Estados, à vontade dos cidadãos representados neste Parlamento”.

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, que já tinha conhecido a ira dos líderes europeu, durante a cimeira extraordinária de discussão das nomeações, em Bruxelas, ainda coleccionou maiores críticas em Estrasburgo.

Em nome dos Verdes Europeus, o belga Philippe Lamberts disse que esperava que a primeira sessão do novo Parlamento resultante da votação de Maio fosse dedicada à discussão de “um projecto sólido e coerente” para a União Europeia, e do nome de “uma personalidade credível, apoiada por uma larga maioria”, para o executar — em vez desta escolha do Conselho que, com a nomeação de Von der Leyen, “arrisca uma confrontação estéril com o Parlamento, com a qual nada ganha”.

“Não o vou felicitar, presidente Tusk, pela maneira como fizeram as coisas no Conselho e pela falta de respeito que demonstraram pelas restantes instituições”, prosseguiu o orador do PPE, que logo no início da sua intervenção confirmou o “orgulho” do seu grupo no “candidato vencedor das últimas eleições europeias, Manfred Weber, que hoje representa o espírito da democracia europeia frente ao Conselho”.

“Aquilo que vocês fizeram chama-se má educação democrática”, lamentou, argumentando que com essa postura, os líderes dão razão aos eurocépticos. “Governar a partir das capitais também é nacionalismo”, comparou, atirando para os ombros de Tusk a responsabilidade pelo conflito institucional entre o Conselho e o Parlamento que ainda pode pôr em causa a aprovação do nome de Von der Leyen.

Já virando a página, os democratas-cristãos afirmaram ter orgulho que a primeira mulher a ficar à frente da Comissão Europeia pertença à família de centro-direita. “Chegados a este ponto, vamos respaldar a candidata proposta pelo Conselho, por responsabilidade, porque pertence ao partido político que ganhou as eleições e porque à frente da Comissão ficará uma pessoa preparada e capacitada para a batalha em defesa dos interesses da Europa”, afirmou.

A líder da bancada dos Socialistas & Democratas, Iratxe García, subscreveu as críticas dos democratas-cristãos contra Tusk e os líderes europeus, mas não deixou de assinalar a incoerência da bancada do PPE que tenciona aprovar a solução saída do Conselho Europeu. “Ficou claro, em Maio, que a cidadania europeia confia na Europa mas quer mudanças”, e o holandês Frans Timmermans era, de todos os Spitzenkandidaten, aquele que melhor personificava esse desejo. “Mas foi descartado por ter defendido os valores da União e do estado de Direito”, censurou García, que não comprometeu o apoio dos socialistas à nomeação de Von der Leyen.