Autoridades chinesas instalam aplicação que espia telemóveis de turistas

Investigação mostra que programas são colocados secretamente nos telemóveis de quem visite a província de Xinjiang, habitada, maioritariamente, pelos uigures, minoria étnica turcófona.

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Dados dos telemóveis são extraídos nos controlos fronteiriços Reuters/EDGAR SU

Autoridades fronteiriças chinesas estão a instalar uma aplicação que permite espiar os telemóveis dos turistas que queiram visitar a província de Xinjiang. Estes programas descarregam contactos, mensagens, emails e outros dados armazenados nos telemóveis. Esta revelação tem como base uma investigação realizada pelo jornal britânico The Guardian, em conjunto com o diário norte-americano The New York Times e com o germânico Süddeutsche Zeitung.

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Autoridades fronteiriças chinesas estão a instalar uma aplicação que permite espiar os telemóveis dos turistas que queiram visitar a província de Xinjiang. Estes programas descarregam contactos, mensagens, emails e outros dados armazenados nos telemóveis. Esta revelação tem como base uma investigação realizada pelo jornal britânico The Guardian, em conjunto com o diário norte-americano The New York Times e com o germânico Süddeutsche Zeitung.

As autoridades chinesas recolhem os telemóveis dos visitantes, devolvendo-os depois, aparentemente inalterados. A investigação descobriu que, no caso dos telemóveis com sistemas operativos Android, é instalada uma aplicação de uma companhia chinesa que procura por palavras associadas que remetam para conteúdos relacionados com extremismo islâmico. No caso dos telemóveis da Apple, em vez de instalarem uma aplicação, as autoridades ligam os aparelhos a um leitor que extrai e armazena todos os dados presentes no smartphone.

A associação ao extremismo islâmico não é, de todo, aleatória. A província de Xinjiang é habitada, em grande parte, pelos uigures, uma minoria étnica muçulmana que fala a língua turca. O Governo chinês foi criticado pela comunidade internacional em diversas ocasiões pela perseguição a esta minoria étnica. Em Setembro de 2018 estimava-se que mais de um milhão de muçulmanos estivesse detido em “campos de reeducação” que, em Outubro desse mesmo ano, foram legalizados — e desvalorizados —​ por Pequim.

Em declarações ao Guardian, um dos viajantes que foi parado no controlo fronteiriço estranhou ver uma aplicação com um símbolo semelhante ao boneco do sistema Android, mas com letras chinesas. “Pensámos que era um localizador GPS. [A agência de viagens] estava confiante de que nos iam instalar isto. Houve outro checkpoint a duas horas de distância e pensei que talvez eles tivessem descarregado coisas e tivessem analisado enquanto viajávamos e, talvez, mandassem pessoas para trás quando chegássemos ao próximo posto de controlo”, relembra ao jornal britânico.

Este caso não é o primeiro que aponta para a existência de uma rede de espionagem governamental nesta região da China. Investigações mostram, porém, que estas tecnologias se estão a alastrar a cidades como Pequim e Xangai. Esquadras da polícia em quase todas as províncias chinesas fizeram pedidos de compra dos dispositivos de extracção de dados para smartphones desde o início de 2016, mostram documentos de aprovisionamento do Governo recolhidos e divulgados pela Reuters em Agosto de 2018.

Edin Omanovic, um dos líderes da organização não-governamental Privacy Internacional, disse ao Guardian que estas descobertas são “altamente alarmantes num país onde o download de uma aplicação errada ou de um artigo noticioso pode levar alguém para um campo de detenção”. O investigador acrescenta que este é outro dos exemplos que comprova que o regime de vigilância em Xinjiang "é um dos mais ilegais, intrusivos e draconianos do mundo”.