Greve fecha blocos operatórios e cancela consultas
Sindicatos falam numa adesão superior a 80% em muitos locais. Entre Janeiro e Maio de 2018 e o mesmo período deste ano, o número de ausências de profissionais de saúde relacionadas com greves quase triplicou.
Cumpre-se esta terça-feira o primeiro dia de greve dos médicos e dos enfermeiros. Sindicatos das duas classes profissionais falam em resultados “muito positivos” e adesões acima dos 80% em vários locais. Há blocos operatórios parados e impactos nos internamentos e consultas.
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Cumpre-se esta terça-feira o primeiro dia de greve dos médicos e dos enfermeiros. Sindicatos das duas classes profissionais falam em resultados “muito positivos” e adesões acima dos 80% em vários locais. Há blocos operatórios parados e impactos nos internamentos e consultas.
Num primeiro balanço da greve dos médicos, que começou às 0h, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, disse que nos cuidados de saúde primários a adesão ronda os 85%, enquanto nos hospitais, a nível nacional, estará nos 80% nos blocos operatórios e em 75% nas consultas externas.
“A greve é sempre desagradável para os doentes e a eles fazemos um pedido de desculpa. Mas esta expressão é importante e esperamos a ministra da Saúde olhe para esta situação com a perspectiva de investir no Serviço Nacional de Saúde”, disse Roque da Cunha à porta do Hospital de São José, em Lisboa, onde fez um primeiro balanço da paralisação.
Também no caso dos enfermeiros, que iniciaram às 8h desta feira uma greve de quatro dias, o presidente do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor) fala em adesões acima dos 80%. Os dados ainda são preliminares e não são globais, apontou Carlos Ramalho.
“O balanço que fazemos é muito positivo. No Hospital de Santa Maria passei por serviços com adesões muito fortes de 100% e 90%. Nos maiores centros hospitalares temos adesões muito grandes. Os enfermeiros estão motivados. Em Coimbra a adesão é de 87% e no Porto ronda os 90%”, disse o presidente do Sindepor, Carlos Ramalho, referindo que “há um impacto grande nos internamentos” e “um pouco menos nas consultas”. No resto do país, os valores médios de adesão à greve “estão entre os 70% e os 80%”.
Carlos Ramalho lamentou que os serviços mínimos definidos pelo tribunal arbitral tenham sido comunicados apenas na segunda-feira, quando anunciaram a paralisação no dia 13. “O acórdão sobre os serviços mínimos é muito semelhante aos anteriores [feitos a propósito da “greve cirúrgica 2"]. Estão abrangidas todas as operações de gravidade 3 e 4 oncológicas e não oncológicas e as urgências diferidas”, explicou.
Blocos operatórios fechados
Das oito salas para a realização de cirurgias no Hospital de São José (Lisboa), apenas “as duas que estão serviço da urgência (que faz parte dos serviço mínimos assegurados) estão a funcionar”, adiantou Teresa Fevereiro, delegada sindical do SIM naquela unidade. Jorge Roque da Cunha estimou que a adesão no São José ronde os 60%.
Na área das consultas externas, a administrativa Filipa Miranda contou ao PÚBLICO que até às 11h “apenas um médico tinha faltado” e que só oito doentes foram embora. Teresa Fevereiro contestou a informação, afirmando que “muitos doentes foram avisados”. “Num dia normal [a zona das consultas] está cheia com ambulâncias”, disse. Esta terça-feira o movimento é pouco.
Também no Hospital de São João (Porto) só três das 12 salas de cirurgia estão a funcionar. Em declarações à Lusa, Maria Antónia Costa, do SIM, que fez um “balanço muito positivo” da adesão à greve naquela unidade, onde também foram canceladas consultas.
Com 89 anos, Maria Amélia saiu de Baião, a cerca de 70 quilómetros e 60 minutos do Porto, para uma consulta de dermatologia no “São João”, mas regressou a casa sem passar pelo médico. “Viemos para aqui enganadas. Não tive consulta. Disseram que não havia médico por causa da greve. Não gosto destes passeios, prefiro estar sossegada”, disse a idosa em declarações à Lusa.
Nos hospitais alentejanos, a adesão mais elevada “é no de Portalegre”, onde a paralisação dos clínicos atinge “os 93%”, seguindo-se “o do Litoral Alentejano (em Santiago do Cacém), com 92%, o de Évora, com cerca de 90%, o de Elvas, com 89%, e o de Beja, com 85%”, disse Armindo Ribeiro, do SIM.
“A adesão nos blocos operatórios dos hospitais da região é praticamente de 100%”, porque “apenas estão em funcionamento as salas destinadas aos serviços de urgência”, referiu, acrescentando que “têm sido adiadas muitas consultas nos hospitais e nos centros de Saúde devido à greve”.
De acordo com o sindicato, no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e no Hospital Pediátrico da Estefânia, em Lisboa, a adesão à greve está a rondar os 100%. No Hospital de Aveiro a indicação é que há greve total nos blocos operatórios, assim como em Leiria e Viana do Castelo. Em Vila Real 90% das salas de operação estão em greve e em Santarém só um dos três blocos está a funcionar com recurso a tarefeiros. Na cirurgia de ambulatório a adesão é de 100%.
Ausências por greve triplicam
Entre Janeiro e Maio de 2018 e o mesmo período deste ano, o número de ausências de profissionais de saúde relacionadas com greves quase triplicou: passou de 24.965 para 72.162. O aumento foi maior no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), que registou mais 8453 faltas por este motivo. Seguem-se o Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Norte (mais 4102) e o Centro Hospitalar e Universitário de São João (mais 3508).
Mesmo assim, as greves não são a principal razão que leva os profissionais de saúde a faltar ao trabalho. O motivo que justifica mais ausências é a doença (46%), seguido da protecção na parentalidade (32%). As greves só representam cerca de 4% do total de faltas. Aqui, o CHUC volta a destacar-se: é o hospital com maior proporção de faltas por greve (13%).
Já o Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde, o Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga e o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa são aqueles em que se contam menos ausências relacionadas com esta forma de reivindicação.
Durante o período em análise também aumentaram as faltas por cumprimento de pena disciplinar (mais 50%), por acidente em serviço ou doença profissional (mais 15,4%) e as ausências de trabalhadores-estudantes (mais 14,5%).