Quando gamificamos o nosso casamento

As pessoas de cada mesa tinham de ir descobrir qual o nome da sua mesa e das restantes, fazendo as correspondências das pistas, curiosidades e histórias. É um exemplo de dinâmica de jogo muito fácil de implementar e adaptar.

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Jordan Arnold/Unsplash

Estávamos, mais ou menos por esta altura do ano, em 2011 quando preparávamos os últimos detalhes do nosso casamento. Éramos bem mais jovens e com uma vida social bastante activa, por isso esperava-se que a festa fosse animada. Mas teríamos uma quantidade grande de convidados de diferentes idades e origens, que nunca se tinham conhecido e que, provavelmente, pouco ou nada tinham em comum.

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Estávamos, mais ou menos por esta altura do ano, em 2011 quando preparávamos os últimos detalhes do nosso casamento. Éramos bem mais jovens e com uma vida social bastante activa, por isso esperava-se que a festa fosse animada. Mas teríamos uma quantidade grande de convidados de diferentes idades e origens, que nunca se tinham conhecido e que, provavelmente, pouco ou nada tinham em comum.

Sentimos a necessidade de criar alguma coisa para facilitar a aproximação e o convívio. O álcool ia seguramente facilitar, tal como os petiscos, música e dança. Mas nem sempre isso é suficiente, nem sequer ideal, por vários motivos. 

Nessa altura estava longe de imaginar que me ia dedicar ao estudo e aplicações sérias de jogos. Agora parece quase uma premonição, pois preparamos então, sem consciência disso, um processo de gamificação para o casamento, com o objectivo de gerar convívio e socialização entre todos os convidados. 

Então foi mais ou menos assim: cada mesa tinha, como é normal, pessoas com algum tipo de relacionamento ou algo em comum. Por isso, em vez de escolhermos um tema generalista para o casamento, do qual resultassem os nomes para as mesas, cada nome surgia de uma expressão que representasse o grupo de pessoas aí sentado. Só isso gerava tema de conversa directamente. Deixámos uma ficha de jogo em cada mesa, com pelo menos três pistas de histórias sobre as pessoas sentadas nas várias mesas da sala, mas com um espaço livre para preencherem com o nome de cada mesa. Ou seja, as pessoas de cada mesa tinham de ir descobrir qual o nome da sua mesa e das restantes, fazendo as correspondências das pistas, curiosidades e histórias.

Isto gerou uma actividade que facilitou a comunicação e ajudou a quebrar o gelo entre desconhecidos, pois as pessoas eram incentivadas a falar com os outros e ninguém achava estranho que desconhecidos as abordassem. Também gerou motivo de riso entre aqueles que já se conheciam e recordavam histórias antigas. O processo de jogo fez com que as pessoas se sentissem envolvidas e parte da festa. De notar que o almoço passou a correr, apesar de ter sido bem longo.

Os vencedores foram aqueles que conseguiram descobrir mais nomes de mesas correctamente. Ganharam adereços divertidos para o baile da noite, que naturalmente foram partilhados por todos, com aqueles que haviam conhecido durante o almoço, e na sequência das restantes actividades que decorreram durante a tarde.

Chamei a esta ideia gamificação porque, apesar de ser um suposto jogo, foi, na prática, a adaptação de elementos de design de jogos a outra coisa, neste caso a um almoço e a uma festa de casamento. Eventualmente poderia até transformar-se num jogo — e até num jogo sério (serious game), mas somente se pegássemos na ideia e criássemos algo à parte. Podia ser, por exemplo, um jogo que demonstre como, por vezes, precisamos apenas de uns desbloqueadores simples para socializar.

A época de casamentos está aí e haverá celebrações para todos os gostos. Fica a partilha, pois é um exemplo de dinâmica de jogo muito fácil de implementar e adaptar. Vai fazer com que centrem parte do casamento também nos vossos convidados, nas histórias e narrativas que vos aproximam. Só o processo de fazer o jogo em si é uma diversão.