Porque é que esta onda de calor europeia é invulgar? Porque é Junho!
Estão a ser batidos recordes de temperatura para esta altura do ano, como em França. A maior parte dos fenómenos de calor extremo costumam acontecer em Julho-Agosto. No fim-de-semana, vaga de calor chega a Portugal.
Pela primeira vez, a temperatura em França ultrapassou os 45 graus. Foi em Villevieille, um município na região da Provença, no Sul do país, que esta sexta-feira registou 45,1 graus – um grau acima do anterior recorde de temperatura, batido na intensa onda de calor que varreu a Europa em 2003 e matou entre 45 mil e 50 mil pessoas em vários países. Mas esta vaga de calor é diferente, porque está a ocorrer bem mais cedo, em Junho, e não no período de Julho-Agosto, quando estes fenómenos são mais comuns.
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Pela primeira vez, a temperatura em França ultrapassou os 45 graus. Foi em Villevieille, um município na região da Provença, no Sul do país, que esta sexta-feira registou 45,1 graus – um grau acima do anterior recorde de temperatura, batido na intensa onda de calor que varreu a Europa em 2003 e matou entre 45 mil e 50 mil pessoas em vários países. Mas esta vaga de calor é diferente, porque está a ocorrer bem mais cedo, em Junho, e não no período de Julho-Agosto, quando estes fenómenos são mais comuns.
A Portugal, as altas temperaturas devem chegar no fim-de-semana. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) confirma que esta “primeira onda de calor do ano”, provocada pela deslocação de “massas de ar quente vindas de África, está a bater recordes de temperatura de dia e de noite para Junho”. O ano de 2019 está já a caminho de se tornar um dos mais quentes de sempre, diz a OMM. “Embora seja prematuro atribuir esta onda de calor invulgarmente prematura às alterações climáticas, é consistente com cenários climáticos que prevêem episódios de calor intenso mais frequentes e prolongados, à medida que as concentrações de gases com efeito de estufa levem ao aumento da temperatura global”.
O mais comum é que as ondas de calor na Europa aconteçam em Julho e Agosto, os meses mais quentes. Num estudo da Agencia Estatal de Meteorologia (Aemet) espanhola, citado pelo jornal El País, contabilizam-se 25 períodos de temperaturas extremas em Junho e 19 em Agosto, entre 1975 e 2018. Mas as vagas de calor em Junho tornaram-se mais frequentes nos últimos anos em Espanha: das sete que se registaram desde 1975, cinco foram na última década. “Junho está a aquecer”, disse ao jornal espanhol Rubén del Campo, porta-voz da Aemet.
Esse aquecimento não é uniforme. Um outro estudo, do Observatório de Sustentabilidade espanhol, revela as diferenças do nível de subida da temperatura entre várias cidades – nem tudo depende dos factores naturais, a construção, o tipo de pavimento, os transportes, a arborização das cidades, o estar perto de cursos de água ou não têm forte influência. Ciudad Real, em Castilla-La Mancha, no centro do país, bate os recordes.
Em França, quatro departamentos do Sul do país entraram em alerta vermelho por causa do calor até domingo, e 75 outros estão em alerta laranja. Com recordes de temperatura a serem batidos por todo o lado, há cidades com programas de apoio especiais para populações vulneráveis como sem-abrigo. As piscinas de Paris foram tomadas de assalto por pessoas desesperadas com o calor – e estão abertas, excepcionalmente, até às 22h30.
Os hospitais preparam-se para um fluxo aumentado de pacientes, num clima tenso – porque a partir de 2 de Julho está marcada uma greve. Mas na maior parte do país, as temperaturas extremas fazem-se acompanhar de uma elevada poluição de ozono atmosférico, que irrita os pulmões, o que obrigou a estabelecer regimes de circulação alternada em algumas cidades, por exemplo Paris.
Surge uma preocupação nova, com os estafetas das plataformas electrónicas como a Uber e a Glovo, que são cada vez mais e têm de se deslocar rapidamente na cidade hiperquente e irrespirável, por vezes de bicicleta. Trabalham sem qualquer protecção mas, se pararem, não só não ganham, como são penalizados pelo algoritmo de distribuição de serviços e passam a ter acesso a menos trabalhos, salienta uma reportagem do Le Monde.