O Pai Tirano voltou para tomar conta das noites da Bica

O bar emblemático de Lisboa esteve fechado durante dois anos e foi descaracterizado pelo anterior dono. Desde Junho, está de portas abertas no sítio do costume, a tentar recuperar aos poucos a personalidade e gentes de outros tempos.

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Ao cimo das escadas que ligam o alto de Santa Catarina à Bica, há um bar que procura renascer aos poucos. O Pai Tirano, outrora um dos bares emblemáticos da cidade, esteve fechado durante dois anos, mas voltou a abrir as portas pela mão de Filipa Faria. A programadora de software de 42 anos deixou o Sul de Inglaterra, em 2018, com a promessa de um emprego na área da programação, mas um amigo desafiou-a a ficar com o espaço e a dar-lhe uma nova vida. Hoje, os seus dias são passados entre linhas de código e a tentar conferir ao Pai Tirano “o carácter de outros tempos”.

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Ao cimo das escadas que ligam o alto de Santa Catarina à Bica, há um bar que procura renascer aos poucos. O Pai Tirano, outrora um dos bares emblemáticos da cidade, esteve fechado durante dois anos, mas voltou a abrir as portas pela mão de Filipa Faria. A programadora de software de 42 anos deixou o Sul de Inglaterra, em 2018, com a promessa de um emprego na área da programação, mas um amigo desafiou-a a ficar com o espaço e a dar-lhe uma nova vida. Hoje, os seus dias são passados entre linhas de código e a tentar conferir ao Pai Tirano “o carácter de outros tempos”.

Do bar, há as boas memórias de noites longas. Filipa era uma das muitas pessoas que frequentavam a Bica e faziam deste um dos bairros mais concorridos da noite lisboeta. Entretanto, as coisas mudaram. A zona perdeu protagonismo e o Pai Tirano descaracterizou-se quando o último arrendatário lhe despiu as paredes revestidas com cartazes de filmes clássicos e substituiu os apliques antigos por outros mais modernos. As mesas com tampo de madeira são as mesmas, mas foram pintadas de preto. O vermelho das paredes, que facilmente tornava o espaço reconhecível, deu lugar a um cinzento fosco.

Filipa reabriu o Pai Tirano a 15 de Junho. As ideias que tinha para a sala no número 35 da Travessa da Laranjeira cedo caíram por terra quando voltou a entrar no bar onde havia passado tantas noites com amigos. “Decidi abrir e ir fazendo”, resume. Por agora, quer voltar a dar ao Pai Tirano “o que já fazia parte dele”. Noites ao som de rock alternativo, jazz e blues são uma das primeiras mudanças, tal e qual se fazia no antigo Pai Tirano. “Acho que se passasse Justin Bieber o tecto ruía”, graceja.

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O menu e a carta ainda estão em elaboração, mas uma coisa é certa: as míticas tostas que saíam da cozinha noite dentro estarão de volta. Filipa assume que as tostas serão um ex-líbris da casa. “Haverá tostas de frango grelhado, de lombo de porco e uma vegetariana, além das de queijo e mistas”, precisa. A complementar, estará para breve a implementação de uma tosta diferente todos os meses. O húmus, guacamole e uma tábua de queijos e enchidos também figurarão no cardápio.

Em termos de bebidas, no Pai Tirano não haverá cá coisas finas. Um amigo enólogo de Filipa está a elaborar uma carta com uma selecção de vinhos simpática e honesta. Cocktails, para já, só mojitos e caipirinhas. A cerveja é nacional. Futuramente, deverão chegar algumas garrafas de cerveja alemã. E, por fim, há sempre os cafés e chás, capuccinos e chocolates quentes.

Antes de se lançar a este desafio, Filipa viveu na Índia. O Sul de Goa foi a sua casa. Vivia junto à praia, numa “zona bastante selvagem”, e levava um estilo de vida “ligado ao ambiente”. Lá, teve o seu primeiro contacto a trabalhar na área da restauração. Depois, seguiu-se o Reino Unido e lá ficou responsável pelo bar do Hilton de Brighton, a Sul do país. Depois disso, “não pensava voltar a Portugal”, confessa. A proposta de trabalho desencaminhou-a e o Pai Tirano caiu-lhe nas mãos.

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As mudanças fazem-se aos poucos e com a ajuda de antigos clientes. Desde que abriu portas, tem revisto amigos de longa data que vão aparecendo quando sabem que é Filipa que está à frente do espaço. Por agora, está a tratar de arranjar os cartazes de clássicos do cinema que tanto caracterizavam o antigo Pai Tirano. “Vou procurando na Amazon e na Cinemateca ou em alguns cinemas.” Alguns clientes também se oferecem para ajudar a cobrir as paredes com estes cartazes alusivos à sétima arte, trazendo exemplares que têm em casa.

Ao balcão, tudo está como era. A caixa de correio, essa, agora está no interior do bar. Era usada pelos traficantes para esconder a droga enquanto o bar esteve fechado. “Foi por isso que a pus cá dentro”, explica.

Ali, numa das ruas onde se filmou a obra homónima de António Lopes Ribeiro, em 1941, reconstrói-se a personalidade de um bar. Pela receptividade que tem tido, Filipa sabe que voltar a fazer do Pai Tirano um ponto de encontro na Bica se fará com o apoio de todos. “Acho engraçada esta dedicação ao espaço”, nota. Enquanto as transformações se vão fazendo, “eram dois copinhos de vinho branco”, como reza a conhecida frase de Teresa Gomes no filme. Entretanto, é ir passando para ver o Pai Tirano a erguer-se numa das ruas tortas da Bica.

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