Joel Meyerowitz: a arte de apanhar as pessoas e o génio do lugar
Com os bolsos cheios de dinheiro e ao volante de um Volvo, Joel Meyerowitz meteu-se à estrada para um grand tour pela Europa. Para além de uma viagem iniciática e de auto-conhecimento, foi a fonte de intenso ensaio em Málaga.
As cores garridas entre o fúcsia e o azul-turquesa com que estão pintadas as paredes saltam à vista de imediato. São elas que primeiro nos agarram o olhar, para logo a seguir ficarmos enredados num riso colectivo que se solta dentro de uma pequena sala-de-estar — entre dezasseis pessoas só duas não mostram os dentes —, com fotografias de família na parede, um relógio a mostrar o tempo e sanefas de estampado floreado a enfeitar as portas. O que faz rir aquela gente? Não percebemos. Porque está a maioria a olhar para um determinado ponto? Não sabemos. Entre o pouco que podemos intuir — para além do muito com que nos sentimos a participar naquele momento, a rir também — está a posição do fotógrafo, que, com tanta gente na sala, deve ter sido obrigado a fazer alguma ginástica para apanhar aquela imagem de um ponto ligeiramente elevado sobre os rostos que polvilham o espaço. Há quem fique quase fora do enquadramento, e outros estão no limite da desaparição, por causa da luz, que é artificial e pouca. Esta cena de riso aconteceu em Málaga, na casa de uma família cigana, algures entre 1966 e 1967. O fotógrafo é o norte-americano Joel Meyerowitz. E esta é, porventura, uma das imagens que, entre quase uma centena das que são mostradas na Casa América, em Madrid, melhor deixa transparecer a sua linguagem corporal, movimentos de leopardo à procura do melhor lugar, uma postura dançante a tentar encaixar-se no espaço. São movimentos que determinam profundamente a sua prática, não fosse a maneira como viu Robert Frank a mover-se com a câmara na mão o momento que o levou a abandonar a publicidade, o desenho e a pintura para agarrar a fotografia.