Como?
Não quer o PSD reivindicar esta causa? Pois o PS, inteligentemente, reivindica as ditas reformas como se suas fossem. E isto tem de ser denunciado!
Li, com enorme perplexidade, as seguintes afirmações: “O sistema de justiça funciona pior do que no tempo da ditadura – só não há julgamentos políticos, de resto está tudo claramente pior”; e “não é possível continuar num regime democrático com a comunicação social sem ter balizas para a sua atuação”. Como?
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Li, com enorme perplexidade, as seguintes afirmações: “O sistema de justiça funciona pior do que no tempo da ditadura – só não há julgamentos políticos, de resto está tudo claramente pior”; e “não é possível continuar num regime democrático com a comunicação social sem ter balizas para a sua atuação”. Como?
São declarações reproduzidas no jornal Expresso, de 22 de junho de 2019, proferidas pelo atual presidente do PSD. Ironicamente, diria que parece pequena coisa não existirem julgamentos políticos, no discurso sobre a Justiça referido naquele órgão de comunicação social. Tratava-se “apenas” dos odiosos propósitos e da odiosa forma de atuar dos tribunais plenários, mas provavelmente ninguém se deu ao trabalho de o informar, Dr. Rui Rio.
Pois, se ninguém lho diz, digo-lho eu: todas as instituições internacionais e nacionais (veja-se a atitude de presidentes de comarca, internamente, e externamente do FMI e da Comissão Europeia) elogiaram e referenciaram as reformas da Justiça efetuadas entre 2011 e 2015. Também direi que os resultados estão à vista, nomeadamente com taxas de resolução superiores às novas entradas de processos, sendo que o PS nada fez neste domínio. Não quer o PSD reivindicar esta causa? Pois o PS, inteligentemente, reivindica as ditas reformas como se suas fossem.
Quanto à comunicação social, infere-se, das suas próprias palavras, que distorce o regime democrático. Se assim é, não haveria como não recorrer ao sistema de justiça. Perdão, esqueci-me que não acredita nele. Há sempre a possibilidade de recorrer às instâncias internacionais, mas para V. Exa. elas farão, provavelmente, em conúbio, parte de uma vasta conspiração mundial entre os media e o Sistema de Justiça.
O que arrepia tantos no atual sistema de justiça? O combate reforçado à corrupção? As taxas de resolução de litígios, cada vez maiores? A especialização dos tribunais, essencial ao funcionamento eficiente da Justiça? Os objetivos dos tribunais, entre muitas outras medidas adotadas pelo Governo PSD-CDS entre 2011 e 2015?
Senhor presidente do PSD, peça melhor informação, porque eu, na minha pequenez, não serei boa explicadora. Repito, o PS reivindica o resultado das nossas reformas e isso deve ser denunciado.
A liberdade dos media, na qual o PSD, enquanto partido, não interferiu – ao contrário do PS –, é uma bandeira nossa. Não a hasteamos?
Porém, quase me esquecia que V. Exa. e a Cultura também não se dão bem. Mas é da Cultura (a par da Educação) que nasce o conhecimento e o saber e que brota a meritocracia que faz funcionar o ascensor social, conceitos a que a nossa extrema-esquerda não esconde o ódio (ou o pavor?).
A liberdade interna do PSD sempre foi a sua maior riqueza. Não pretenda transformar o PSD, que não é nem nunca foi, num partidinho alinhadinho, pequenino, sem diversidade, limitado a um comité central que determina que quem divergir do discurso de uma direção, ainda que politicamente acéfala e em estado de total apatia, estará condenado ao fogo do julgamento inquisitório.
Pedro Passos Coelho fez dos seus adversários que lhe disputaram a liderança, num caso ministro da Defesa e no outro cabeça de lista ao Parlamento Europeu. Tudo ao contrário da inquisição num partido democrático, o que não calha.
Apontar aos seus adversários políticos, a “geringonça”, talvez não seja má ideia. E alimentar o discurso com algumas ideias e propostas que possam seduzir a sociedade portuguesa e recuperar o nosso eleitorado perdido. Olhar obsessivamente para dentro do partido sempre foi uma receita para a derrota.
Os partidos extremistas que crescem em toda a Europa não gostam da Justiça nem dos media livres. Ora, Portugal precisa de um choque realista e não da fantasia com que o PS e os seus aliados nos brindam diariamente. Que bom viver em fantasia. Mas tal não é possível quando se quer estruturar uma sociedade em bases sólidas e sustentáveis a longo prazo.
E isto tem de ser denunciado!
Estamos aqui, de pé, mas para combater por causas e ideais nobres. A menorização do Ministério Público – cujo combate recolheu apoio internacional – ou a limitação dos media não se encontram, por certo, entre esses nobres ideais.
A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico