A morte de Óscar e Valeria expõe o perigo de passar a fronteira entre o México e os EUA

Piolhos, gripe e abandono — as condições nos centros de detenção de imigrantes menores no Texas.

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A divulgação de uma fotografia em que um homem, Óscar Alberto Martínez Ramírez, de 26 anos, e a filha, Valeria, de 23 meses, são vistos de cara para baixo nas margens do Rio Grande ajudou a relançar a discussão sobre as condições de imigração na fronteira sul dos Estados Unidos. A família veio de El Salvador e o pai e a criança morreram afogados quando tentavam atravessar a fronteira através de um local menos vigiado, explicou a mãe a um jornal mexicano.

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A divulgação de uma fotografia em que um homem, Óscar Alberto Martínez Ramírez, de 26 anos, e a filha, Valeria, de 23 meses, são vistos de cara para baixo nas margens do Rio Grande ajudou a relançar a discussão sobre as condições de imigração na fronteira sul dos Estados Unidos. A família veio de El Salvador e o pai e a criança morreram afogados quando tentavam atravessar a fronteira através de um local menos vigiado, explicou a mãe a um jornal mexicano.

O debate em torno das condições em que os milhares de imigrantes que tentam chegar ao território norte-americano através da fronteira com o México — na sua maioria originários de países da América Central —​ reacendeu-se com o relato de um grupo de advogados que visitou um dos centros de detenção no Texas.

Uma das advogadas que visitaram o centro de Clint, com capacidade para cem crianças, mas que albergava 300, disse que as crianças estavam “presas em jaulas horríveis, onde havia uma casa de banho aberta no meio do quarto” onde também comiam e dormiam. “Não havia ninguém para tomar conta destas crianças, não tomavam banho regularmente”, disse a advogada Warren Binford, citada pela BBC.

Muitas das crianças detidas não mudavam de roupa desde que ali chegaram, há várias semanas, e as condições de saúde são críticas. “As celas estão sobrelotadas, há uma infestação de piolhos e um surto de gripe”, descreveu Binford. A situação é “desumana e degradante, e não deveria estar a acontecer na América”, disse Elora Mukherjee, outra das advogadas que visitaram o local.

Demissão na guarda fronteiriça

As autoridades fronteiriças admitiram que as condições no centro não são adequadas, mas referiu que tentam fazer o melhor com os “recursos limitados” à sua disposição. No domingo, a guarda fronteiriça transferiu 250 crianças do centro de Clint para outros locais, mas, um dia depois, cem menores voltaram a ser enviados para as mesmas instalações.

O comissário interino da guarda fronteiriça, John Sanders, anunciou a sua demissão e deverá ser substituído pelo actual director da agência de controlo fronteiriço (ICE, na sigla inglesa), Mark Morgan. Numa entrevista ao canal CBS News, na terça-feira, Morgan recusou-se a admitir a existência de um “problema sistémico” nas instalações na fronteira.

O Presidente dos EUA, Donald Trump, que fez do combate à imigração irregular uma das prioridades do seu mandato, recusou qualquer responsabilidade pelo estado das instalações na fronteira. “Foram construídas pelo Presidente Obama, e não são realmente muito apropriadas para crianças”, afirmou Trump, durante uma entrevista na terça-feira.

Há mais de um ano que a Administração Trump põe em prática uma política de “tolerância zero” face à imigração proveniente da América Central. A guarda fronteiriça tem ordens para deter de imediato os migrantes encontrados a atravessar a fronteira. Como frequentemente são famílias inteiras que tentam chegar aos EUA, os pais acabam por ser separados dos filhos menores, que são enviados para instalações como a de Clint. As detenções em massa na fronteira sul dos EUA — que em Maio bateram um recorde com mais de uma década —​ deixaram os serviços perto do colapso.

Os democratas, que têm maioria na Câmara dos Representantes, aprovaram um pacote de 4,5 mil milhões de dólares (3,9 mil milhões de euros) de ajuda humanitária para apoiar os milhares de imigrantes detidos em condições muito precárias na fronteira com o México.

O montante, segundo os legisladores, só pode ser usado para fins humanitários, e “não para um assalto à imigração, não para camas de detenção, não para um muro na fronteira”, afirmou a democrata Nita Lowey, através de um comunicado.

Porém, é incerto que o diploma seja aprovado no Senado, onde os republicanos — que preferem que o montante seja sujeito a menos restrições — detêm a maioria.