Não dar escovas de dentes a crianças é um método anti-imigração de Trump

A situação de 300 crianças que não recebiam cuidados médicos e usavam a mesma roupa há semanas chamou a atenção para as condições vividas nos centros de detenção na fronteira.

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Os guardas fronteiriços separam as crianças dos seus familiares e colocam-nas em centros de detenção Reuters/STRINGER

Viviam em jaulas sobrelotadas onde comiam, dormiam e com apenas uma casa de banho. Não recebiam cuidados médicos, não podiam tomar banho nem lavar os dentes, os piolhos eram uma praga da qual não se conseguem livrar e há semanas que usavam a mesma roupa. São estas as condições em que 300 crianças viveram durante dias e até semanas no centro de detenção para imigrantes de Clint, no Texas, Estados Unidos. São uma pequena fatia das mais de duas mil crianças detidas em centros do género perto da fronteira entre os Estados Unidos e o México. 

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Viviam em jaulas sobrelotadas onde comiam, dormiam e com apenas uma casa de banho. Não recebiam cuidados médicos, não podiam tomar banho nem lavar os dentes, os piolhos eram uma praga da qual não se conseguem livrar e há semanas que usavam a mesma roupa. São estas as condições em que 300 crianças viveram durante dias e até semanas no centro de detenção para imigrantes de Clint, no Texas, Estados Unidos. São uma pequena fatia das mais de duas mil crianças detidas em centros do género perto da fronteira entre os Estados Unidos e o México. 

A denúncia das condições “degradantes e desumanas” partiu de um grupo de advogados que visitou as instalações de Clint. “É degradante e desumano e não devia acontecer nos EUA”, disse à CBS Elora Mukherjee, membro da equipa que visitou Clint. “As crianças não podem tomar banho, estão a usar as mesmas roupas sujas com que atravessam a fronteira”. “As celas estão sobrelotadas, há uma infestação de piolhos e um surto de gripe”, acrescentou Warren Binford, outra advogada do grupo, citada pela BBC.

Um rapaz de dois anos, com gripe e com as roupas cheias de fluidos humanos, não recebeu tratamento médico, segundo os advogados, contando apenas com a ajuda de três raparigas com idades entre os dez e 15 anos. Outras 25 crianças também estavam com gripe e os responsáveis do centro limitaram-se a colocar dez em quarentena. 

Muitas das crianças que tentam atravessar a fronteira sem documentos são acompanhadas por irmãos com mais de 18 anos, avós ou tios, mas a lei norte-americana considera-as “desacompanhadas” por não os reconhecer como pais ou guardiões legais. São separadas de imediato dos familiares e colocadas em centros de detenção para crianças. Activistas e advogados de direitos humanos levantaram suspeitas de as crianças estarem a ser separadas mesmo quando há documentos de guarda, explica a Vox.

A lei norte-americana estipula que as crianças não podem ser detidas por mais de 72 horas, devendo ser enviadas para o Departamento de Saúde e Serviços Sociais, responsável por localizar familiares ou uma família de acolhimento com quem possam ficar até os processos serem resolvidos. Mas acabam por ficar nos centros durante dias ou até semanas e, no mês passado, estes centros albergaram mais de 5800 crianças. 

A sobrelotação destes centros deve-se à política de “tolerância zero” da Administração Trump, que vê como criminosa qualquer pessoa que atravesse a fronteira sem documentos. Política que tem sobrelotado os centros ao entupir os tribunais de migração por a libertação dos imigrantes ser encarada incentivo à imigração. Por serem menores, as crianças não podem ser condenadas por imigração ilegal, deixando-as sozinhas quando os familiares o foram, quando não são localizáveis ou já foram deportados.

Denunciadas as condições, o comissário interino da Agência de Protecção Fronteiriça e Aduaneira (CBP), John Sanders, apresentou a demissão e foi anunciada a transferência das 300 crianças, das quais 250 para o Departamento de Saúde e as restantes para outros centros por falta de alojamento, nomeadamente para o de El Paso, também no Texas. Só neste estado existem mais de 50 centros de detenção de imigrantes e as autoridades estão a planear abrir mais três apenas para crianças.

Todavia, um agente da CBP disse ao New York Times na terça-feira que cerca de 100 crianças continuavam em Clint. E um dos advogados do grupo, que também visitou o centro de El Paso, garantiu ao Vox que as condições são tão más como em Clint, dando a entender que as más condições são gerais.

“Os agentes da fronteira estão a fazer o seu trabalho, mas o sistema está sobrelotado”, explicou o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, em entrevista à CBS.

Ainda que as crianças sejam as mais vulneráveis, a crise na fronteira ultrapassa-as em muito. Os centros de detenção de imigrantes, com péssimas condições, acolhem por dia mais de 14 mil pessoas e, por vezes, 16 mil, segundo dados enviados aos congressistas consultados pelo Vox.

Quando acompanhadas pelos pais, as crianças têm com quem contar nas duríssimas condições: incapazes de se limparem a elas próprias, as mães limpam-lhes os narizes e vómitos com as suas próprias roupas, explicou a advogada Tobey Gialluca ao Texas Tribune.

O antigo comissário da guarda fronteiriça, John Sanders, considerou, em declarações à Associated Press, que a capacidade máxima dos centros é de quatro mil pessoas. Pouco antes, Sanders já tinha dito que o sistema tinha “colapsado”. Em Maio, a CBP bateu o recorde de detenções de imigrantes na fronteira: 114 mil, uma subida de 32% face a Abril. Foi o terceiro mês consecutivo em que as detenções ultrapassaram as 100 mil.