Os misteriosos enjoos e vómitos de tripulantes e passageiros no novo avião da TAP

O problema poderá estar no sistema de renovação do ar dentro do A330Neo. Há uma investigação em curso.

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REUTERS/Regis Duvignau

Ao longo dos últimos meses, vários membros da tripulação e alguns passageiros da TAP têm apresentado queixas de enjoos, tonturas e vómitos em ligações de longo curso com os novos aviões A330Neo — os mais recentes aviões ao serviço da companhia portuguesa. O caso está a ser investigado pela TAP e pela Airbus.

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Ao longo dos últimos meses, vários membros da tripulação e alguns passageiros da TAP têm apresentado queixas de enjoos, tonturas e vómitos em ligações de longo curso com os novos aviões A330Neo — os mais recentes aviões ao serviço da companhia portuguesa. O caso está a ser investigado pela TAP e pela Airbus.

No último episódio, relatado pela TSF nesta terça-feira, a tripulação começou a sentir-se mal na recta final de um voo com destino ao Brasil e os pilotos foram vistos a usar uma máscara. De acordo com a estação de rádio, tal terá acontecido para garantir que respiravam o ar adequado.

O problema poderá estar no sistema de renovação do ar dentro do avião — e mais especificamente, na forma como está a ser feita a passagem do ar captado pelo motor para dentro da aeronave — o que, sendo insuficiente, faz com que este se degrade, avança a TSF. Os sintomas são sentidos de forma mais aguda no final de viagens grandes, como as intercontinentais. Ao que o PÚBLICO apurou já houve mesmo quem, entre os tripulantes, tivesse desmaiado.

Os casos já foram comunicados à Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC), que está a trabalhar com a empresa. As denúncias foram também reencaminhadas para a Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA), que avalia e certifica a segurança das aeronaves no espaço aéreo europeu.

A presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), Luciana Passo, confirma à TSF ter recebido cerca de dez relatos de tripulantes e ter questionado a empresa sobre o assunto. “É evidente que há tripulantes e passageiros que enjoam em determinadas fases de voo com turbulência mais moderada ou mais severa, mas os relatos que temos não têm que ver com isso e sim com o decurso normal de voos de longa duração e longo curso operados neste tipo de equipamento”, detalha Luciana Passo.

TAP confirma “indisposições pontuais”, mas afasta risco para saúde

A TAP confirmou “casos pontuais de tripulantes com ligeiras indisposições” em alguns voos dos seus A330neo, eventualmente associados a “alguns odores do equipamento de ar condicionado”, garantindo ser uma situação “normal em aeronaves novas”.

“Relativamente ao facto de, em algumas unidades novas do A330neo, poderem ter sido detectados alguns odores provenientes do equipamento de ar condicionado é um facto considerado normal em aeronaves novas e que desaparece logo após as primeiras utilizações”, sustenta a companhia aérea, garantindo que “nunca colocaria os seus clientes e trabalhadores numa situação de risco para a sua saúde”.

A companhia confirma ter “registo de relatos de casos pontuais de tripulantes com ligeiras indisposições”, contudo, garante que “os testes já realizados tanto pela TAP, como pela Airbus não permitem estabelecer qualquer correlação entre estes episódios e uma hipotética, mas não demonstrada, deficiência na circulação e renovação de ar”.

“O A330neo é um avião com todas as certificações por parte das autoridades nacionais e internacionais e totalmente apto para o serviço de transporte de passageiros em total segurança”, refere a companhia de bandeira portuguesa, salientando que “as cabinas da Airbus são projectadas e fabricadas de forma a prevenir qualquer tipo de contaminação do ar”.

A TAP diz ter comunicado à Airbus os “relatos de tripulantes relativos a odores e indisposições pontuais” e destaca que “imediatamente realizou uma reunião com áreas técnicas da TAP, o sindicato de pilotos e o sindicato dos tripulantes de cabina de forma a partilhar com total transparência os dados disponíveis”.

No entanto, diz, “todas as análises feitas pela Airbus com o apoio de laboratórios independentes indicam que os parâmetros de qualidade do ar estão dentro do normal na indústria”, sendo que, “nos vários testes realizados pela Airbus no chão e em voo, quanto a possíveis fontes de desconforto, como fluxo e distribuição de ar ou controlo de temperatura, os resultados obtidos foram de total conformidade”. “A experiência e conforto relativamente à circulação do ar no A330neo é igual à da anterior geração A330”, garante a TAP.

TAP foi a primeira a usar avião

A TAP foi a primeira operadora comercial do mundo a voar o novo A330Neo, que, de acordo com a empresa é “consideravelmente mais eficiente e consumindo em média menos 17% de combustível por cadeira que a geração anterior de aeronaves, resultando ainda numa redução muito significativa das emissões de CO2 e ruído”.

Para além disso, o interior deste modelo estreia o conceito Airspace by Airbus, desenvolvido pelo fabricante e que promete renovar a experiência da viagem a bordo. A TAP encomendou inicialmente 14 exemplares deste modelo para renovação da frota, mas a transportadora portuguesa disse nesta terça-feira que encomendou um total de 21 aviões A330Neo, sendo que dez deles já foram entregues à TAP.​

Notícia actualizada às 11h47 com informações prestadas pela TAP em comunicado.