Portugal é o terceiro país do mundo onde menos se acredita no Governo

Um estudo da fundação dinamarquesa Aliança de Democracias revela que os portugueses são dos que menos acreditam que a sua voz interessa na política, num panorama em que os cidadãos de todo o mundo se mostram cada vez mais descontentes com a democracia.

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71% dos portugueses raramente ou nunca se sente representada pelo governo, diz o estudo LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

Portugal é o terceiro país do mundo que menos se sente representado pelo seu Governo e onde os cidadãos menos sentem que a sua voz faz diferença em termos políticos. É uma das conclusões de um estudo da Fundação Aliança de Democracias (Rasmussen Global) e do centro de sondagens alemão Dalia Research feito ao nível de 50 países e que confirma a principal conclusão do trabalho: aos olhos dos cidadãos, os governos de todo o mundo estão a falhar e a desconfiança nas democracias é maior nos países democráticos do que nos que não são.

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Portugal é o terceiro país do mundo que menos se sente representado pelo seu Governo e onde os cidadãos menos sentem que a sua voz faz diferença em termos políticos. É uma das conclusões de um estudo da Fundação Aliança de Democracias (Rasmussen Global) e do centro de sondagens alemão Dalia Research feito ao nível de 50 países e que confirma a principal conclusão do trabalho: aos olhos dos cidadãos, os governos de todo o mundo estão a falhar e a desconfiança nas democracias é maior nos países democráticos do que nos que não são.

Neste Índex de Percepções Democráticas 2018, que se intitula o maior estudo do mundo sobre a confiança nos governos, confirma-se a tendência de que “as democracias estão a perder os corações e as cabeças dos seus cidadãos”. “A maioria das pessoas que vive em democracias está desiludida com a ideia de que o seu Governo é formado pelo povo e trabalha para o povo”, lê-se na introdução do estudo, que ouviu 125 mil pessoas de 50 países de todo o mundo, democráticos e não democráticos, numa amostra representativa de 75% da população e da economia mundiais.

“Neste momento, o maior risco para as democracias é que o público não as considera mais democráticas”, comenta no estudo Nico Jaspers, director executivo da Dalia Research, referindo-se a um dos dados, segundo o qual 64% das pessoas estão insatisfeitas com a própria democracia em que vivem, porque consideram que o seu Governo “raramente” ou “nunca” age de acordo com o interesse público.

A pesquisa baseia-se em duas perguntas centrais: os cidadãos sentem que o seu Governo age em representação do interesse público? E consideram que a sua voz conta em política? São as pessoas que vive em regimes não-democráticos aquelas que mais consideram que os seus governos agem em função do seu interesse: 41% comparado com os 64% de insatisfação nas democracias. O país onde a insatisfação é mais baixa é na Arábia Saudita, onde apenas 15% pensa que o seu Governo “nunca” ou “raramente” age no seu interesse.

Nas respostas, Portugal é um dos países onde os cidadãos dizem que o Governo “raramente” ou “nunca” age em função dos seus interesses. O país que lidera a lista, com 80% de respostas nesse sentido, é o Quénia, que não é democrático, tal como a Nigéria, que surge com 68% de insatisfação na representação. Mas a maioria dos povos mais insatisfeitos vive em democracias e, neste campo, à frente de Portugal, onde 71% dos inquiridos considera que o Governo nunca ou raramente age em função dos interesses das pessoas, surge apenas a Áustria (73%). Seguem-se Suécia (70%), Polónia (68%), Dinamarca (69%), Bélgica, Japão, Irlanda, Itália e Canadá (todos com 67%).

Quanto à segunda questão, são os japoneses os que menos consideram que a voz do povo conta (74%), seguidos pelos polacos (63%). Portugal tem os mesmos 62% de respostas que a França e a Áustria no sentido de “raramente" ou “nunca" ser levada em conta a sua voz​, ficando, portanto, em terceiro lugar nos dois rankings.

Os países nórdicos e do Norte da Europa, habitualmente considerados os mais democráticos, vêm logo a seguir. Na Noruega, Alemanha e Holanda, 60% dos cidadãos não acreditam que a sua voz conte, o que acontece com apenas metade dos britânicos e 49% dos norte-americanos. 

O impacto da banca nas democracias europeias

A maioria dos europeus acha que os bancos e o sector financeiro tiveram um impacto negativo sobre a democracia nos seus países, sendo a Grécia a mais crítica, uma década depois de uma crise da dívida que levou muitos gregos à pobreza. Globalmente, 52% dos inquiridos afirmaram não sentir que o seu país esteja preparado para outra crise financeira.

Na Europa, os mesmos 52% acham que a União Europeia não age no interesse da maioria dos europeus, sendo as maiores críticas oriundas da Itália, França e Grécia. Na Itália, onde partidos eurocépticos venceram as eleições do ano passado e agora estão no Governo, 69% acham que as decisões da UE não representam os interesses da população.

Este estudo surge numa altura em que os 28 líderes da UE decidem sobre os principais cargos das instituições europeias, num processo criticado por alguns por não ser suficientemente democrático e transparente.

Nos Estados Unidos, onde as eleições presidenciais de 2020 estão em crescendo, 46% dos entrevistados disseram que o seu país é democrático e 40% disseram que não é democrático o suficiente. Mais da metade dos americanos entrevistados disseram que os EUA tiveram um impacto positivo sobre a democracia em todo o mundo, embora a maioria dos países ocidentais, como o Canadá e a maior parte da Europa, tenha sentido que o impacto foi negativo.

Mais de 40% das pessoas entrevistadas nos Estados Unidos, Canadá e Áustria, entre outros países, consideram que as redes sociais, como Facebook e Twitter, tiveram um impacto negativo na democracia. com Reuters

NOTA: Notícia corrigida às 21h, em sentido oposto ao que tinha sido inicialmente publicado, devido a um erro na interpretação dos dados. O ranking foi lido pela positiva, quando as repostas apresentadas são no sentido negativo, apontando para a insatisfação dos inquiridos. Aos leitores, as nossas desculpas.