Quem são os arquitectos portugueses que estão entre os mais promissores da Europa?
Filipa Frois Almeida, Hugo Reis, Diogo Aguiar, Raulino Silva e Bruno André foram distinguidos no concurso Europe 40 Under 40. Fomos conhecer os seus trabalhos e auscultar o estado da arquitectura em Portugal.
Há cinco arquitectos portugueses entre os vencedores do prémio Europe 40 Under 40 para os anos 2018 e 2019. Filipa Frois Almeida, Hugo Reis, Diogo Aguiar, Raulino Silva e Bruno André fazem parte do grupo de 40 arquitectos com menos de 40 anos distinguidos no concurso criado pelo The European Centre for Architecture Art Design and Urban Studies e pelo The Chicago Athenaeum: Museum of Architecture and Design, que identifica e destaca a próxima geração de arquitectos e designers europeus.
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Há cinco arquitectos portugueses entre os vencedores do prémio Europe 40 Under 40 para os anos 2018 e 2019. Filipa Frois Almeida, Hugo Reis, Diogo Aguiar, Raulino Silva e Bruno André fazem parte do grupo de 40 arquitectos com menos de 40 anos distinguidos no concurso criado pelo The European Centre for Architecture Art Design and Urban Studies e pelo The Chicago Athenaeum: Museum of Architecture and Design, que identifica e destaca a próxima geração de arquitectos e designers europeus.
Quisemos conhecer os seus trabalhos — os projectos premiados e os que actualmente têm em mãos — e ouvir as suas opiniões acerca da situação da arquitectura em Portugal.
Filipa Frois Almeida e Hugo Reis — Fahr 021.3, Porto
Foi em 2012 que Filipa Frois Almeida, 38 anos, e Hugo Reis, 33, fundaram a Fahr 021.3, sediada no Porto. O trabalho da dupla incide essencialmente em “intervenções em espaço público”, sempre com uma “abordagem artística”, explica a arquitecta, ao telefone com o P3. Os projectos distinguidos no Europe 40 Under 40 são exemplos disso: os três trabalhos submetidos para avaliação mostram o lado experimental e imaginativo do atelier.
Loop, uma estrutura em betão, que serve como banco público no jardim do Parque da Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC), foi uma das obras distinguidas. “Consideramos que seria interessante fazer uma peça que dinamizasse [o espaço] e criasse um elemento central num sítio onde as pessoas andam muito de carro”, explica a arquitecta. Nasceu assim a estrutura circular, com variações de altura, que simbolizam a ideia de que “a repetição nunca é igual”.
À lista de distinções junta-se ainda Metamorfose — uma estrutura imprevisível instalada em 2015 num “espaço bastante característico, mas vazio”, junto à Estação de São Bento, no Porto, que quer “criar diálogo entre a cidade e as pessoas”; e um pavilhão expositivo de David Bowie, instalado em 2018 no Arrábida Shopping, em Vila Nova de Gaia.
Recentemente, a dupla recriou “um espaço diferente” em Taitung, Taiwan: uma espécie de cubo inserido numa estação de comboios antiga, que a transformou num “espaço cultural, flexível e para todos” — acabando por revitalizar essa área da cidade. A dupla tem tido “bastantes trabalhos fora de Portugal”: “Temos feito alguns projectos de escala mais pequena e estivemos presentes no festival Concéntrico, em Logronho [em Abril]”, conta Filipa.
Com “alguns projectos na calha” — ainda precoces para serem revelados — a arquitecta realça a mudança “no sentido mais positivo” da arquitectura em Portugal, “em comparação com o que acontecia há cerca de quatro anos”. “Tem-se visto um boom de construção, que também se reflecte na nossa prática. Notamos, de facto, essa melhoria, mas mesmo assim ainda há muito caminho a ser feito.”
Diogo Aguiar — Diogo Aguiar Studio, Porto
O cenário também parece melhor a Diogo Aguiar, 36 anos, fundador do Diogo Aguiar Studio, em 2016, também localizado no Porto. “A prática da arquitectura é mais valorizada hoje em dia como serviço, mas ainda há muito trabalho a ser feito”, aponta. Se, por um lado, “a maior parte das pessoas já compreende a mais-valia que um arquitecto significa para um projecto”, por outro surgem novos desafios: “O trabalho que há a fazer é a valorização do serviço. A questão de os honorários não estarem regulados faz com que, muitas vezes, a concorrência entre pares seja um bocado ingrata”, refere. “A profissionalização da arquitectura tem que passar por uma maior consciência do valor do serviço.”
Diogo Aguiar é outro dos 40 arquitectos distinguidos. Os seus projectos inserem-se igualmente “entre a arte e a arquitectura”. Em 2014, contava ao P3 como a LIKEArchitects, a marca que fundou juntamente com Teresa Otto, fazia “intervenções pequenas mas com alguma força, com uma postura um bocadinho diferente, para surpreender”.
De obras mais culturais a moradias e reabilitações, Diogo já trabalhou “com várias escalas de arquitectura”. Para a distinção, valeram-lhe os projectos Start, um pavilhão nos jardins de Serralves e uma habitação em Paredes, a que chamou House Over the Hills, por “olhar para a montanha”.
O primeiro projecto, “uma instalação que é um exercício geométrico”, foi instalado no Largo dos Lóios, no Porto, em 2016, para celebrar os 20 anos da classificação da Baixa do Porto como Património da Humanidade pela Unesco. “Um exercício abstracto, muito relacionado com a arte no espaço público dos tempos modernos”, que pode ter sido entendida por quem lá passava como uma “grande estrela”, principalmente por ter sido instalada em época natalícia.
Já o pavilhão que nasceu em Serralves, “no âmbito de uma representação da Bienal de São Paulo” consiste numa estrutura circular, “composta por dois anéis de madeira, que trabalhavam diferentes tipos de espaços”, descreve. A House Over the Hill, por sua vez, é uma casa “desenvolvida num conjunto de pressupostos que assentam sobretudo na construção de uma casa modelar, altamente sustentável”.
O atelier esteve recentemente envolvido na reabilitação de um edifício na Quinta da Aveleda, em Penafiel, e está agora a trabalhar num projecto para uma marca de cerveja, no Porto. Para concluir, o arquitecto relembra: “Um bom projecto exige muita maturação, pensamento e isso só se consegue com dedicação, esforço e tempo. Sem tempo não há bons projectos e isso é preciso considerar: não só nós enquanto arquitectos, mas também as pessoas enquanto clientes.”
Raulino Silva — Raulino Silva Arquitecto, Vila do Conde
Para a candidatura de Raulino Silva, arquitecto de 38 anos, foram apresentadas três casas representativas do trabalho que é feito no escritório sediado em Vila do Conde. “O nosso tipo de obra são habitações ou remodelações de apartamentos. Embora comecem a aparecer outras coisas, o historial do escritório vai por aí”, explica ao P3.
Foram submetidas à avaliação do painel do Europe 40 Under 40 a Casa Rio Mau e as Casas Touguinhó II e III — baptizadas de acordo com as freguesias onde foram construídas, nos arredores de Vila do Conde. “São casas inseridas em terrenos grandes e que já foram premiadas noutros concursos”, conta. Em tons claros e com linhas sóbrias, as três habitações fazem parte de um espólio de obras espalhadas por todo o país — a que se estão prestes a juntar “uma casa muito interessante em construção em Leça do Balio e outra na zona da Foz, no Porto”.
E a arquitectura em Portugal? “No escritório temos, actualmente, muitas encomendas”, refere. “Julgo que tem a ver com a economia actual do país: a maioria dos arquitectos tem trabalho. Viemos de uma crise e agora a situação mais estável, o que também se reflecte na arquitectura — que vive da economia e da situação política e social do país.”
Bruno André — AND-RÉ, Porto
Bruno André, do escritório de arquitectura AND-RÉ, também no Porto, foi distinguido pelos projectos Centro de Artes de Águeda, Vigário House e White Wolf Hotel. Contacto pelo P3, o arquitecto não quis falar sobre a distinção.