Mundo em vias de enfrentar um “apartheid climático”, avisa responsável da ONU
Os direitos humanos e políticos podem sofrer um forte retrocesso assim que os efeitos das alterações climáticas começarem a agravar-se, alerta Philip Alston.
Um mundo onde os ricos poderão pagar para escapar ao calor e seca extrema, enquanto os mais pobres vão ficar condenados à fome e às doenças, é o cenário antecipado por um relatório elaborado pelo enviado para os direitos humanos da ONU, Philip Alston.
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Um mundo onde os ricos poderão pagar para escapar ao calor e seca extrema, enquanto os mais pobres vão ficar condenados à fome e às doenças, é o cenário antecipado por um relatório elaborado pelo enviado para os direitos humanos da ONU, Philip Alston.
Para além das consequências ambientais trazidas pelas alterações climáticas, a subida das temperaturas médias no planeta irá pôr em causa os progressos no combate à pobreza e desigualdade, e a manutenção dos direitos humanos como hoje os conhecemos. Alston diz, citado pelo The Guardian, que o planeta poderá assistir a um “apartheid climático”.
O cenário traçado pelo relatório do especialista britânico concentra-se numa área ainda pouco explorada dos efeitos das alterações climáticas. As projecções apontam para um agravamento das desigualdades globais já existentes: apesar de serem responsáveis por apenas 10% das emissões de dióxido de carbono, os países em desenvolvimento vão suportar 75% dos custos ambientais da emergência climática.
Alston conclui que “a democracia e o Estado de direito, bem como grande parte dos direitos civis e políticos, estão completamente em risco”. “O risco de descontentamento entre comunidades, aumento da desigualdade, e até de maiores níveis de carência entre alguns grupos, irá estimular respostas nacionalistas, xenófobas e racistas. Manter uma abordagem equilibrada em relação aos direitos civis e políticos será extremamente complexo”, prevê o dirigente da ONU.
O autor lembra a passagem do furacão Sandy em Nova Iorque, em 2012, “que deixou os habitantes mais pobres e vulneráveis sem acesso a electricidade e cuidados de saúde, enquanto a sede do [banco de investimento] Goldman Sachs foi protegida por dezenas de milhares de sacos de areia e recebeu electricidade de um gerador próprio”.
Alston critica directamente alguns líderes mundiais, como o Presidente norte-americano, Donald Trump, por desvalorizar a emergência climática, ou o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, por promover o desmatamento de áreas protegidas. O relatório também aponta críticas às próprias Nações Unidas, às organizações não-governamentais e às empresas, por darem passos “inteiramente desproporcionais face à urgência e magnitude da ameaça”.
O relatório do responsável pelos direitos humanos da ONU é apresentado na sexta-feira em Genebra.