Prova de Português do 9.º: há critérios de classificação que podem prejudicar os alunos

Alerta é da Associação de Professores de Português no seu parecer à prova realizada na sexta-feira. Há críticas também em relação ao exame de História A do 12.º ano, feito no mesmo dia por alunos do secundário.

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O exame de História A realizou-se no passado dia 21 Daniel Rocha

Os critérios de classificação de duas perguntas da prova final de Português do 9.º ano são “limitativos” e podem por isso penalizar os alunos. O alerta é dado pela Associação de Professores de Português (APP) num parecer que elaborou sobre a prova final desta disciplina, realizada na sexta-feira pelos alunos do 9.º ano de escolaridade.

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Os critérios de classificação de duas perguntas da prova final de Português do 9.º ano são “limitativos” e podem por isso penalizar os alunos. O alerta é dado pela Associação de Professores de Português (APP) num parecer que elaborou sobre a prova final desta disciplina, realizada na sexta-feira pelos alunos do 9.º ano de escolaridade.

Em causa estão as questões 6 B e a 9, que no conjunto valem cinco pontos em 100. Ambas as perguntas se reportam a um excerto da obra Que Farei Com Este Livro, de José Saramago. Na pergunta 6 B pede-se aos alunos que, a propósito da expressão “papéis ilustres” (utilizada para classificar Os Lusíadas), refiram o que o adjectivo utilizado destaca daquela obra. Os critérios de classificação elaborados pelo Instituto de Avaliação Educativa (Iave) dão apenas como válidas as respostas “o valor” ou “a excepcionalidade”. Já a APP considera que “tais expressões, sem abertura a outras possibilidades, afiguram-se limitativas”, uma vez que no seu entender “respostas como a qualidade ou a genialidade, entre outras, não extrapolam o texto apresentado, afigurando-se igualmente válidas”.

Na questão 9 pede-se aos alunos que apontem o conselho que dariam à actriz, que faz de Ana de Sá, para a ajudar a aplicar a indicação cénica que lhe é apresentada relativa à necessidade de mudar de tom a meio de uma frase. Nos critérios do Iave, o cenário de resposta contempla um “tom humilde” ou um “tom forte”. Para a APP, tal é “algo limitativo”, pois também será “igualmente legítimo o recurso a um ‘tom emocionado’, pois a mãe do poeta, Ana de Sá, pode sentir emoção ao referir o facto de o seu filho ter amigos verdadeiros”. Aceitar-se apenas as duas alternativas apresentadas pelo Iave “leva a situações em que respostas igualmente pertinentes possam vir a ser penalizadas, aquando da classificação”, explicita a APP.

Cotação “inadequada” no exame de História A

À semelhança do que aconteceu no ano passado, a APP lamenta ainda que na pergunta 10, relativa a uma estância de Os Lusíadas, se peça aos alunos que redijam “um texto breve” sem indicar o “número aproximado de palavras” que podiam escrever, “o que pode conferir menos objectividade” ao processo de classificação de provas. A mesma questão foi levantada também pela presidente da APP, Filomena Viegas, a propósito da pergunta de desenvolvimento da parte C do grupo 1 do exame de Português do 12.º ano. “Pede-se apenas uma breve exposição. Mas nem todos têm a mesma percepção do que é breve e isso cria problemas aos alunos e aos professores que classificam os exames”, referiu ao PÚBLICO.

Também a Associação de Professores de História (APH) manifestou dúvidas quanto ao exame de História A realizado na última sexta-feira por alunos do 12.º ano. Como sucedeu com a prova do ano passado, a APH considera que a cotação atribuída “é inadequada”, sobretudo por se atribuir um peso “excessivo” aos itens mais fáceis (escolha múltipla, associação e ordenação), que são cotados com 10 pontos, enquanto os de composição valem 15 ou 20 pontos.

A APH considera ainda que o número total de itens (16) “é excessivo para o tempo disponível para a realização da prova (120 minutos mais 30). Outro facto “negativo” apontado pela associação prende-se com o número e dimensão dos documentos apresentados na prova para análise. São 12 no total: “seis fontes escritas (de 20 a 30 linhas cada uma), um quadro de dados e cinco fontes iconográficas”.

Das oito provas mais concorridas, o exame de História A foi o que teve a pior média em 2018, com os alunos internos, que são os que frequentam as aulas até ao fim, a descerem de 10,3 para 9,5 valores (numa escala de 0 a 20). Para a APH, tal ficou a dever-se ao facto de o Iave, responsável pela elaboração e classificação das provas, ter mudado o tipo de exame e a cotação de todos os itens sem aviso prévio.