Sem inspiração? Há um algoritmo que ajuda a completar romances, receitas, e escreve poemas
Começam a surgir sites para pôr a capacidade de algoritmos escreverem histórias à prova. Os sistemas utilizam uma versão simplificada do GPT-2 , um modelo de linguagem com inteligência artificial, que foi alvo de controvérsia no começo do ano por fabricar notícias do zero.
Os sistemas de inteligência artificial estão a escrever melhor – alguns já continuam histórias ficcionais, receitas, ou poemas épicos com base em pequenas sugestões. “A princesa foi atacada por um monstro mágico que a obrigava a dançar cada vez que via alguém”, por exemplo, é a sugestão dos algoritmos do grupo OpenAI, fundado por Elon Musk em 2015, quando têm de continuar a frase “Era uma vez, uma princesa que vivia num castelo...” Alguns parágrafos mais tarde, a mesma princesa “aborrecida, decidiu treinar para se tornar numa pirata”.
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Os sistemas de inteligência artificial estão a escrever melhor – alguns já continuam histórias ficcionais, receitas, ou poemas épicos com base em pequenas sugestões. “A princesa foi atacada por um monstro mágico que a obrigava a dançar cada vez que via alguém”, por exemplo, é a sugestão dos algoritmos do grupo OpenAI, fundado por Elon Musk em 2015, quando têm de continuar a frase “Era uma vez, uma princesa que vivia num castelo...” Alguns parágrafos mais tarde, a mesma princesa “aborrecida, decidiu treinar para se tornar numa pirata”.
Já “remaram a costa de Ásia e África e mil vezes o comprimento do oceano Atlântico, com sonhos do desconhecido” é a sugestão para completar a tradução inglesa dos dois primeiros versos do poema épico Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões. Apesar de não rimar, o texto aparece em verso e também anuncia “histórias de glória” e “nomes que se tornam lendas”.
Qualquer pessoa pode testar o sistema com os seus próprios excertos em inglês através dos sites Transformer (Fale com o Transformer ou Escreva com o Transformer), que foram criados por dois engenheiros do Canadá e de França, respectivamente. O primeiro sugere parágrafos inteiros para completar diferentes tipos de textos (o sistema é capaz de identificar poemas, contos de fada, receitas, e até conversas por SMS), enquanto o segundo dá ideias para completar uma frase ou começar outra.
Começo controverso
Ambos os sites utilizam parte de uma versão simplificada do modelo de linguagem GPT-2 que usa inteligência artificial para aprender. Em Fevereiro, foi alvo de controvérsia depois de os próprios criadores admitirem que o modelo podia ser utilizado para fabricar notícias falsas. O objectivo era descobrir se os algoritmos podiam ser programados para escrever sobre qualquer tema ao treinar com uma base de dados grande o suficiente. Mas depois de pôr o sistema a aprender com mais de oito milhões de documentos na Internet, os investigadores decidiram não publicar a versão completa por receios que fosse usado “para gerar conteúdo enganador” em grande escala.
Agora, os autores das novas ferramentas Transformer estão a aproveitar a parte que foi divulgada para mostrar que a inteligência artificial pode ajudar com a criatividade. “Regra geral, até agora, estamos a ver as pessoas a usar a ferramenta de forma muito positiva”, disse ao PÚBLICO Clément Delangue, o engenheiro responsável pelo Escreva com o Transformer.
O sistema ainda tem falhas. A versão simplificada é capaz de reconhecer o tipo de texto, e continuar uma frase de forma gramaticalmente correcta, mas ainda não é capaz de gerar uma história coerente durante mais do um paragrafo. Há personagens que desaparecem da história sem motivo, e ao completar uma receita de “bolo de chocolate cremoso” o sistema chegou a sugerir “pernas de frango”.
Para Delangue, porém, a ferramenta deve servir apenas como inspiração. “Os utilizadores do nosso site já escreveram o equivalente a mais de cem livros com o Escreva com o Transformer desde que o site foi lançado a semana passada”, nota o engenheiro. “A ferramenta está a ser usada para as pessoas escreverem mais.”