Abram alas para Zion Williamson
Já tratam pelo primeiro nome este jovem basquetebolista de 18 anos que se apresenta na NBA como um talento natural de capacidades atléticas extraordinárias.
Quando o nome próprio é sinónimo de alguém, é sinal de que esse alguém foi ou é especial. Traduzido para desporto, não haverá mais nenhum Diego a não ser Maradona, não haverá mais nenhum Roger que não seja Federer, não haverá nenhum Cristiano que não seja Ronaldo. O basquetebol norte-americano tem alguns desses exemplos. O primeiro Michael será sempre Jordan, assim como o primeiro LeBron será sempre James, e todos os outros com o mesmo nome terão sempre de ser identificados com o apelido. A Liga Norte-Americana de Basquetebol profissional (NBA) prepara-se para receber mais um desses nomes próprios que não precisa de apelido. Tem apenas 18 anos, chama-se Zion Lateef Williamson e ainda não jogou um único minuto na NBA, mas o mundo já o trata pelo nome próprio. Basta Zion.
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Quando o nome próprio é sinónimo de alguém, é sinal de que esse alguém foi ou é especial. Traduzido para desporto, não haverá mais nenhum Diego a não ser Maradona, não haverá mais nenhum Roger que não seja Federer, não haverá nenhum Cristiano que não seja Ronaldo. O basquetebol norte-americano tem alguns desses exemplos. O primeiro Michael será sempre Jordan, assim como o primeiro LeBron será sempre James, e todos os outros com o mesmo nome terão sempre de ser identificados com o apelido. A Liga Norte-Americana de Basquetebol profissional (NBA) prepara-se para receber mais um desses nomes próprios que não precisa de apelido. Tem apenas 18 anos, chama-se Zion Lateef Williamson e ainda não jogou um único minuto na NBA, mas o mundo já o trata pelo nome próprio. Basta Zion.
Aconteceu na última quinta-feira, em Brooklyn, aquilo que já se esperava desde que os New Orleans Pelicans ganharam o direito de serem os primeiros a escolher no draft da NBA. Vestido de branco e com um sorriso enorme, Zion ouviu Adam Silver, o comissário da Liga, chamá-lo para subir ao palco como o número 1 da classe de “rookies” de 2019. Depois, na entrevista rápida à ESPN, Zion desfez por momentos o sorriso de estrela e dedicou, em lágrimas, a sua entrada na NBA à mãe, a fonte de todos os sacrifícios. Terminou com uma promessa dirigida à sua nova equipa em Nova Orleães que é válida para toda a NBA: “Let’s dance!”
Quem é, então, Zion, o novo messias do basquetebol norte-americano? E por que razão a sua chegada à NBA está a ser comparada à chegada de um tal de LeBron James? Tal com LeBron, Zion é difícil de classificar. É um talento natural para o basquetebol com capacidades atléticas extraordinárias e que pode fazer quase tudo. É um voador, com uma impulsão vertical assustadora para alguém com a sua constituição física, que quase faz lembrar um “bodybuilder” ou um pugilista de super-pesados. É uma montanha de músculos que consegue ser elegante e brutal ao mesmo tempo, delicado com a bola nas mãos e violento a metê-la no cesto.
Zion é inclassificável e, por isso, não há um molde de jogador do passado que lhe sirva. Voador como Michael Jordan? Sim, mas com o dobro da massa muscular. Fisicamente imponente como Shaquille O’Neal ou Charles Barkley? Sim, mas incomparavelmente mais móvel. Talvez Zion esteja mesmo mais perto de LeBron, sendo que “King” James tem outros atributos que o candidato à sua sucessão (ainda) não tem. E Giannis Antetokoumpo, o “Greek Freak”, era um lingrinhas quando chegou à NBA. Nada como Zion, que se apresenta à elite com um corpo de profissional, 129 quilos de peso para uma altura de 2,01m. O elegante Kevin Durant (2,06m e 109kg) não tem dúvidas: “É um atleta que só aparece uma vez em cada geração.”
Às cinco da manhã desde os nove anos
Foi a avó que lhe deu o nome porque queria um nome especial – Zion é o nome inglês para o Monte Sião, em Jerusalém, mas também é sinónimo de Terra de Israel. E a verdade é que não há mais nenhum jogador da NBA (do presente ou do passado) chamado Zion. Natural da Carolina do Norte, começou a ter o sonho do basquetebol aos nove anos e, por isso, começou a levantar-se todos os dias às cinco da manhã para treinar lançamentos antes de ir para a escola. Com a ajuda da mãe, professora de Educação Física, e do padrasto, antigo basquetebolista universitário, Zion ganhou a habilidade e a capacidade atlética para se transformar num fenómeno viral quando ainda estava no liceu.
Se não estivesse ainda no activo (e tudo indica que vai deixar de existir em breve) a regra que impede os basquetebolistas de irem directamente do liceu para a NBA, Zion teria, de certeza, seguido o exemplo de jogadores como Kevin Garnett, Kobe Bryant ou LeBron, mas teve de cumprir uma espécie de estágio de um ano no basquetebol universitário, nos Blue Devils da Universidade de Duke, que tem sido um dos maiores viveiros de basquetebolistas para a NBA – só neste draft, foram escolhidos mais dois de Duke no top 10, RJ Barret (n.º3, New York Knicks) e Cam Reddish (n.º 10, Atlanta Hawks).
No campeonato da NCAA, Zion foi tudo o que prometia, explosivo, dominador e imparável – 22,6 pontos de média por jogo, 8,9 ressaltos, 2,1 assistências e 68 por cento de lançamentos convertidos. Chegou a ter na primeira fila para o ver Barack Obama, ex-Presidente dos EUA e um apaixonado incondicional de basquetebol. Foi, aliás, nesse jogo, com Obama a ver, que Zion sofreu uma lesão – a sapatilha Nike que estava no pé esquerdo rebentou e Zion saiu do jogo 30 segundos depois. Houve quem sugerisse que não devia jogar mais na temporada, mas Zion ainda voltou a tempo do March Madness, a fase de apuramento de campeão na NCAA. Duke não iria muito longe, mas o fenómeno Zion já estava em velocidade supersónica.
Claro que há sempre o risco de Zion, que vai usar a camisola 1 dos Pelicans, não ser exactamente aquilo que projectam nele. Já aconteceu um número 1 do draft ser aquilo que os norte-americanos classificam de “bust” (fracasso), alguém que acaba por ser esmagado por expectativas impossíveis de cumprir, mas tudo o que Zion tem sido nos primeiros 18 anos da sua vida sugere que isso não vai acontecer. “Pode levar algum tempo, Roma não se fez num dia”, alertou Zion no dia em que os Pelicans o escolheram para substituir Anthony Davis, que fugiu para os Lakers de LeBron James. Zion ainda tem muito para aprender e há coisas que só se ganham a jogar com e contra os melhores.
Num draft no qual acabou por não estar o português Neemias Queta (que voltou atrás na decisão depois de se ter declarado elegível, e vai cumprir mais uma época em Utah State) e em que Bol Bol, o filho triplista de Manute Bol, foi apenas o 44.º a ser chamado, Zion Williamson declarou-se pronto para dançar. E a NBA está pronta para dançar com ele. Vai ganhar “apenas” um total de 45 milhões de dólares em quatro anos, mas pode ganhar mais do dobro só num contrato de patrocínio com uma marca de equipamento desportivo, e, sendo Zion um tipo talentoso, carismático e de sorriso fácil, os contratos publicitários não irão ficar por aqui. A era Zion está apenas a começar.