Chico Buarque diz ao Le Monde estar a escrever novo livro e pediu visto de residência de longa duração em França
O jornal Le Monde publica nesta sexta-feira uma entrevista a Chico Buarque. O Prémio Camões 2019 fala da situação política do seu país e diz que “uma cultura do ódio” se espalhou pelo Brasil. Mas a situação hoje é diferente da que viveu em 1969, hoje o artista e escritor não está no exílio.
Chico Buarque pediu recentemente um visto de longa permanência em França, onde tem uma casa desde há décadas. Numa entrevista publicada esta sexta-feira no site do jornal Le Monde fala da situação política no Brasil e explica que começou a escrita de um novo livro no início deste ano, bem antes da atribuição do Prémio Camões há cerca de um mês. Quando os jornalistas Nicolas Bourcier e Bruno Meyerfeld lhe perguntam se isso significa um “novo exílio”, o artista brasileiro — que esteve exilado na Europa, em 1969, na época da ditadura militar no Brasil — responde que a sua situação actual é muito diferente daquela que viveu nessa época. “Hoje não estou no exílio. Estou aqui, a tentar escrever, a trabalhar em Paris, o que costumo fazer quando estou a escrever.”
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Chico Buarque pediu recentemente um visto de longa permanência em França, onde tem uma casa desde há décadas. Numa entrevista publicada esta sexta-feira no site do jornal Le Monde fala da situação política no Brasil e explica que começou a escrita de um novo livro no início deste ano, bem antes da atribuição do Prémio Camões há cerca de um mês. Quando os jornalistas Nicolas Bourcier e Bruno Meyerfeld lhe perguntam se isso significa um “novo exílio”, o artista brasileiro — que esteve exilado na Europa, em 1969, na época da ditadura militar no Brasil — responde que a sua situação actual é muito diferente daquela que viveu nessa época. “Hoje não estou no exílio. Estou aqui, a tentar escrever, a trabalhar em Paris, o que costumo fazer quando estou a escrever.”
Explica também que actualmente os artistas não são bem vistos pelo governo mas não acontecem as perseguições policiais de 1969. “Contudo, as ameaças existem, não necessariamente contra os artistas, mas contra a esquerda em geral, os gays, as minorias, as mulheres. Uma cultura do ódio espalhou-se pelo Brasil de uma maneira impressionante. Este ódio é alimentado pelo novo poder, o Presidente, os que estão à sua volta, os seus filhos, os seus ministros… Eles desacreditam os artistas, que não consideram. A cultura não tem o menor valor aos seus olhos. Dito isto, continuarei a viver no Brasil, não quero viver longe do meu país”, diz Chico Buarque ao Le Monde.
Embora o autor de romances como Leite Derramado e O Irmão Alemão (ambos editados pela Companhia das Letras) diga também que quando está no Brasil as agressões verbais são frequentes, como no incidente que se tornou viral em 2015 quando saía de um restaurante com amigos, e que isso o levou a deixar de frequentar alguns lugares, como certos restaurantes. “Vivo no Leblon há muito tempo e estava habituado a andar livremente pelas ruas. É fácil [viver naquele bairro], está ali tudo à mão, gosto dessa vida. Mas tive de mudar o meu estilo de vida. Actualmente já não caminho ao longo da praia. Mas sou mais caseiro, por isso não é grave.”
Chico Buarque diz ao Le Monde que actualmente tem “muitas reservas quanto ao Partido dos Trabalhadores (PT)”, pois o partido teve “os seus episódios de corrupção, tal como os governos precedentes”. Mas diz também que depois da derrota da direita nas presidenciais houve uma “estigmatização incrível do PT, que teve um enorme impacto nas pessoas e é muito difícil lutar contra isso.”
Segundo o Le Monde, a 25 de Junho, no dia em que os juízes do Supremo Tribunal Federal em Brasília deverão pronunciar-se sobre o pedido de libertação de Lula da Silva, no Teatro Monfort em Paris cerca de 50 artistas e intelectuais irão ler cartas escritas ao antigo Presidente. Entre eles estará Chico Buarque.