Ainda há dúvidas sobre os riscos do SNS?
O SNS tem de continuar a ser um dos grandes temas do debate dos próximos meses. O que está em causa já não é melhorá-lo. Se o país conseguir conservar o seu actual nível de desempenho será um grande feito
O debate sobre o estado do Serviço Nacional de Saúde vai longo, deu lugar a diversas armas de arremesso politico e transformou-se num palco para troca de acusações entre o Governo e a oposição. Chegou a hora de o retirar da esfera dos naturais interesses dos partidos e de circunscrever os dogmas ideológicos que o situam num combate entre a esquerda e a direita. A realidade exposta esta quinta-feira pelo PÚBLICO obriga a encarar de frente realidade: o estado do SNS é um dos principais problemas do país por estes dias. E é também um dos mais difíceis de resolver. É um problema que o Governo carrega, mas é também um problema do Estado e de toda a sociedade.
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O debate sobre o estado do Serviço Nacional de Saúde vai longo, deu lugar a diversas armas de arremesso politico e transformou-se num palco para troca de acusações entre o Governo e a oposição. Chegou a hora de o retirar da esfera dos naturais interesses dos partidos e de circunscrever os dogmas ideológicos que o situam num combate entre a esquerda e a direita. A realidade exposta esta quinta-feira pelo PÚBLICO obriga a encarar de frente realidade: o estado do SNS é um dos principais problemas do país por estes dias. E é também um dos mais difíceis de resolver. É um problema que o Governo carrega, mas é também um problema do Estado e de toda a sociedade.
Custa a acreditar no cenário que a gravíssima falta de anestesistas e obstetras vai criar a milhares de mulheres grávidas que habitam em Lisboa. A possibilidade de os serviços de urgência obstétrica encerrarem durante o Verão é inadmissível num país europeu governado por uma coligação informal de partidos que coloca a qualidade dos serviços públicos na primeira linha das suas prioridades. A antecipação da falta de cuidados, especialmente consultas de rotina, de tempos excessivos de espera, de mudanças forçadas de hospital onde as mulheres são atendidas bastam por si só para se exigirem explicações sobre como foi possível chegarmos até aqui. E, principalmente, sobre o que pode e vai ser feito para evitar que esta ameaça não alastre.
O SNS está doente e não bastam os aumentos nas dotações orçamentais garantidas pelo Governo para que se reestabeleça. Vai ser necessário mais gestão e planeamento de recursos e ainda mais investimento público para travar a sangria de quadros médicos para o sector privado. Quando apenas 61% dos obstetras trabalham no sector público, torna-se obrigatório constatar que o Estado está a ter dificuldades em disputar o mercado de recursos humanos com os privados. Seja pelos salários ou pelas condições de trabalho, os médicos estão a afastar-se dos hospitais abertos a todos os cidadãos para prestarem serviço aos que têm mais recursos para pagar a sua saúde.
No meio deste drama que se vai avolumando, haverá quem tente resolvê-lo assacando culpas aos médicos ou aos privados, reclamando depois a sua asfixia. Não será por aí que se salva o SNS. Nem através de um aumento exponencial de recursos que o país não tem. A solução, como se escreveu, não se encontra num golpe de magia. O SNS tem de continuar a ser um dos grandes temas do debate dos próximos meses. O que está em causa já não é melhorá-lo. Se o país conseguir conservar o seu actual nível de desempenho será um grande feito.