Livro vencedor do Prémio literário das capitais de língua portuguesa é apresentado na Cidade da Praia

Escrito por um angolano a viver em Portugal, Praças é apresentado nesta quinta-feira no IX Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, que decorre em Cabo Verde até 22 de Junho.

Foto
A. Pedro Correia DR

A. Pedro Correia foi o escolhido entre 799 concorrentes ao Prémio UCCLA de Revelação Literária: Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa, a que só se pode candidatar quem nunca editou uma obra literária.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A. Pedro Correia foi o escolhido entre 799 concorrentes ao Prémio UCCLA de Revelação Literária: Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa, a que só se pode candidatar quem nunca editou uma obra literária.

Artista plástico a residir em Lagos, no Algarve, estreia-se assim na escrita, com um conjunto de contos que o coordenador da equipa de selecção e crítica literária, António Carlos Cortez, descreveu como “prensada, curta, incisiva”, de “estilo comedido, de quando em quando, irónico”. Para este poeta e ensaísta, “a palavra ganha sentidos quando é literal... e quanto mais literal mais poético [é o texto]. Uma poética da destruição”.

Esta leitura do seu trabalho agrada a A. Pedro Correia, que brinca com o facto de receber um “prémio revelação” aos 58 anos… e que conta ao PÚBLICO como decidiu participar: “Vi um anúncio na televisão a informar que havia prolongamento do prazo do concurso, que eu nem sequer conhecia.”

Tinha os textos escritos há cerca de quatro anos, todos com praças como cenário, e enviou-os. Já os tinha tentado publicar numa editora. “Nem sequer me responderam”, lamenta, com um encolher de ombros, entre o decepcionado e o divertido.

Agora que está a terminar um romance (“já esteve acabado, mas depois pensei noutro final”), espera ter outro tratamento: “Que ao menos as editoras me respondam.”

À procura da universalidade

Sobre o livro, que foi distribuído com o PÚBLICO a 14 de Junho, descreve: “São praças em geografias diferentes, com características muito diferentes. Há praças de cidades ricas, outras de lugares muito pobres. No entanto, não há uma única referência nem étnica nem geográfica.”

Isto é propositado, explica, “para procurar a universalidade do livro”. Só não conseguiu “escapar de um oriental”, como diz, “porque é um conto em que aparecem caracteres que são desenhos” (conto O tradutor).

A apresentação da obra, que não segue o novo acordo ortográfico e é editada pela Bela e o Monstro, está marcada para esta quinta-feira no Parque 5 de Julho, às 17h45, com a presença do autor e do editor, João Pinto de Sousa, assim como do secretário-geral da UCCLA, Vítor Ramalho, e do coordenador do prémio e do sector cultural, Rui Lourido. A Câmara Municipal da Praia estará representada pelo vereador da Cultura, José António Lopes da Silva.

A três dimensões

Vocacionado sobretudo para a escultura, criação de objectos tridimensionais e instalações multidisciplinares, A. Pedro Correia participou em várias residências artísticas em Portugal, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. 

O artista mostra-nos, através de um catálogo, obras suas que resultaram de uma dessas residências: Roots, sobre as Rotas dos Escravos, no Laboratório de Actividades Criativas, de Lagos. Ali há rostos de escravos em madeira (MDF e de grande dimensão), outros fotografados e outros ainda com efeitos multimédia desenhados e animados com formigas.

No dia em que falámos com o autor, na Cidade da Praia, tinha acabado de saber que a Câmara de Lagos lhe tinha atribuído um “voto de congratulação e louvor” por ter recebido o prémio. Estava agradecido.

Brasileiros em maioria

Nesta edição, informa-nos Rui Lourido, chegaram à UCCLA textos de seis países europeus, da Austrália, Japão e China/Macau, do continente americano (Chile, Canadá, EUA e Paraguai) e dos cinco países africanos de língua portuguesa, com estreia ainda da participação da África do Sul.

O número alargado de participantes transforma-o no “maior concurso de revelação literária da língua portuguesa”. Os brasileiros são os que mais concorrem (528), seguidos dos portugueses (153). “A juventude dominou as candidaturas (434 autores têm até 40 anos, sendo que 50 destes têm idades compreendidas entre 18-20 anos) e entre os seniores, dos 70 aos 90 anos, temos 29 candidatos”, lê-se no comunicado de apresentação dos vencedores da 4.ª edição do prémio. As mulheres representam 31% das candidaturas.

As menções honrosas foram para Alexandria, de João Morgado Ferreira de Oliveira (29 anos, nacionalidade portuguesa e a residir em Lisboa), e Cidade das Cinzas (26 anos, nacionalidade brasileira e residente em Macau). O júri quis ainda destacar duas obras finalistas: Espingarda, de Suélen Dominguês da Silva Oliveira (brasileiro, 24 anos), e Incompletos, poesia de Diogo Gomes Serôdio (português, da Figueira da Foz, 41 anos).

O PÚBLICO viajou a convite da UCCLA — União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa