História A: perguntas ao diretor do IAVE

A matriz deste ano do exame de História A perspetiva a continuidade de dois problemas para que os professores têm vindo a alertar: o excesso de conteúdos objeto de avaliação e um exame muito extenso para o tempo regulamentar de realização do mesmo.

Em entrevista ao PÚBLICO, Luís Santos, diretor do IAVE, refere que no início do ano letivo o instituto analisa os resultados da avaliação dos exames, as queixas recebidas e o feedback das escolas. E faz todo o sentido que assim seja, uma vez que só aquela reflexão poderá abrir caminho a melhorias na construção de instrumentos de avaliação e nos procedimentos de todo o processo, sejam provas de aferição ou exames finais de ciclo. Diga-se que, nas escolas, se procede da mesma forma.

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Em entrevista ao PÚBLICO, Luís Santos, diretor do IAVE, refere que no início do ano letivo o instituto analisa os resultados da avaliação dos exames, as queixas recebidas e o feedback das escolas. E faz todo o sentido que assim seja, uma vez que só aquela reflexão poderá abrir caminho a melhorias na construção de instrumentos de avaliação e nos procedimentos de todo o processo, sejam provas de aferição ou exames finais de ciclo. Diga-se que, nas escolas, se procede da mesma forma.

Daqui decorre a primeira pergunta. Por que razão não se partilham essas reflexões, de forma atempada e detalhada, com as escolas e com os professores para que se desenvolva um trabalho conjunto?

No caso do exame de História A, sobre o qual Luís Santos reconheceu a necessidade de intervenção cirúrgica, face aos maus resultados alcançados e que em muito se deveram às alterações na prova, houve queixas e indignação e, até à data, nada foi esclarecido. 

É nas vésperas do exame, nesta entrevista, que pela primeira vez vejo o IAVE admitir que “o facto de alterarmos o verbo de comando numa pergunta pode ter grande influência na taxa de resposta, dando origem a situações que são um pouco inesperadas para nós”. Na verdade, o problema não esteve na alteração do verbo de comando da pergunta. Um aluno de 12.º ano, a meu ver, tem de saber a diferença entre um “Apresente” ou um “Explicite”, um “Compare” ou um “Explique”. O problema está no facto de uma pergunta ter dois verbos de comando e, afinal, o “apresentar” já não ser só apresentar, implicando também explicar, relacionar ou justificar, como aconteceu no item II do Grupo II: “2. Apresente duas razões do descontentamento de sectores da sociedade portuguesa, evidenciando a sua importância para a eclosão da revolução de 1820. As duas razões devem ser articuladas com informação contida no documento.” Ou no item 3 do grupo IV: “3. Apresente duas características da geopolítica mundial pós-Guerra Fria, mostrando de que forma contribuíram para a afirmação do mundo unipolar. Uma das características apresentadas, pelo menos, deve ser articulada com a informação contida no documento 3.” Cada uma destas perguntas valia 15 pontos.

Na verdade, se fizermos uma análise retrospetiva na formulação de enunciados, percebemos que estão mais longos e complexos, perdendo a necessária objetividade. A prova de aferição de História e Geografia de Portugal do 5.º ano, realizada na semana passada, mostrou isso mesmo, logo na primeira pergunta, em que o aluno de dez anos tem de ler um enunciado de sete linhas para depois resolver o exercício. Porquê fazer isto quando bastava pedir-lhe que atribuísse o título correto a cada um dos mapas?

Diga-se que a comunicação do IAVE com a generalidade dos professores se resume à publicação na página web do calendário das provas e das informações de prova, matrizes muito simplistas se compararmos com práticas de outros tempos, em que todos os anos se publicavam antecipadamente provas-modelo. Ora, a matriz deste ano do exame de História A perspetiva a continuidade de dois outros problemas para que os professores têm vindo a alertar: o excesso de conteúdos objeto de avaliação e um exame muito extenso para o tempo regulamentar de realização do mesmo. Mas são perspetivas e, no próximo dia 21 de junho, veremos o que nos aparece à frente. Daqui decorre a segunda pergunta: por que não se desenvolve uma comunicação aberta com os professores. Afinal, não somos parceiros? Não trabalhamos todos para o mesmo, que é o sucesso dos alunos na aprendizagem?

Na minha opinião, continua a omitir-se uma das grandes razões explicativas dos maus resultados em História A, em 2018: a gritante desproporcionalidade de valores atribuídos a questões de seleção e a questões de construção de uma resposta. E aqui, ao contrário do que Luís Santos quer dar a entender, não se trata de confundir o grau de complexidade de uma pergunta com o seu grau de dificuldade. Vejam-se os exemplos de duas questões do mesmo grupo:

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À primeira atribuíram-se 10 pontos e à segunda 20 pontos. Poderia dar outros exemplos, mas este é suficiente para se perceber que, na primeira, o aluno analisa um documento e, até por exclusão de partes, rapidamente chega à resposta, ao passo que, na segunda, tem de analisar três documentos e deles extrair informação relevante a integrar na produção de um texto articulado e coerente, mobilizando também os seus conhecimentos relativamente ao tema. O grau de dificuldade, de trabalho e de capacidades em avaliação será assim tão próximo que justifique uma diferença de apenas 10 pontos?

Já se passou um ano e estas são algumas das perguntas às quais professores, alunos e famílias gostavam de já ter tido uma resposta.

A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico