Em tensão com o Irão, EUA enviam novo destacamento para o Médio Oriente
Washington anunciou esta segunda-feira o envio de cerca de mil soldados para responder ao “comportamento hostil” do Irão. Tensão entre Washington e Teerão não dá sinais de abrandar.
Os Estados Unidos vão enviar um contingente com cerca de mil soldados para o Médio Oriente para responder ao “comportamento hostil” iraniano, anunciou esta segunda-feira o secretário de Defesa interino norte-americano, Patrick Shanahan. É o segundo envio de tropas em menos de dois meses, e pode não ser o último. A tensão entre Washington e Teerão não dá sinais de abrandar.
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Os Estados Unidos vão enviar um contingente com cerca de mil soldados para o Médio Oriente para responder ao “comportamento hostil” iraniano, anunciou esta segunda-feira o secretário de Defesa interino norte-americano, Patrick Shanahan. É o segundo envio de tropas em menos de dois meses, e pode não ser o último. A tensão entre Washington e Teerão não dá sinais de abrandar.
Numa entrevista à Time, o Presidente norte-americano disse que poderia estar disposto a iniciar acções militares para impedir o Irão de ter armas nucleares. “De certeza que [agiria] por causa de armas nucleares”, disse Donald Trump, em resposta a uma pergunta sobre o que poderia levá-lo a entrar em guerra com Teerão. Sobre se o faria para proteger o acesso a reservas petrolíferas de importância internacional, ainda hesita: “Aí deixaria um ponto de interrogação”, afirmou.
Em reacção, o Presidente iraniano, Hassan Rouhani, garantiu que o Irão “não vai entrar em guerra com nenhum país”. E, em desafio, acrescentou que “aqueles que nos enfrentam são um grupo de políticos com pouca experiência”. Sublinhou de seguida que, “apesar de todos os esforços norte-americanos e dos seus desejos de nos cortarem os laços com o mundo e isolarem o Irão, não foram bem-sucedidos”.
“Autorizei o envio de mil soldados adicionais para o Médio Oriente por propósitos defensivos e para lidar com ameaças aéreas, navais e terrestres”, disse Shanahan em comunicado, sublinhando que “os recentes ataques iranianos validam a credível informação que recebemos sobre comportamentos hostis das forças iranianas e dos seus grupos por procuração”.
Ataques a petroleiros
O secretário de Defesa interino referia-se aos ataques contra dois navios petroleiros – um norueguês e outro japonês – no golfo de Omã na semana passada. Os EUA acusam Irão de estar por trás do ataque, o que Teerão nega. “Este é apenas o último de uma série de ataques perpetrados pela República Islâmica do Irão e seus representantes contra os interesses dos americanos e dos seus aliados”, acusou pouco depois Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA. Em meados de Maio, dois outros petroleiros foram alvo de ataques semelhantes.
O contingente militar enviado para o Médio Oriente inclui forças de segurança e tropas com o objectivo de recolher informação adicional na região, e foi uma das hipóteses levantadas pela Administração Trump no mês passado, quando a tensão com o Irão voltou a aumentar, segundo disseram fontes do Governo norte-americano à Associated Press. As outras opções incluem o envio de até dez mil soldados, de baterias antimísseis Patriot, aviões e navios de guerra.
Este novo dispositivo militar junta-se a um outro, de 1500 soldados, enviado por Washington para a região, também em resposta a outros ataques contra petroleiros no golfo de Omã no mês passado – Washington também responsabilizou na altura Teerão.
“Os Estados Unidos não procuram um conflito com o Irão. A decisão de hoje [segunda-feira] está a ser tomada para garantir a segurança e bem-estar do nosso pessoal militar que trabalha por toda a região e para proteger os nossos interesses nacionais”, argumentou Shanahan.
Por sua vez, Teerão nega qualquer envolvimento nos ataques e acusa os Estados Unidos de criarem pretextos para levarem a cabo uma guerra contra o país - acusam o conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, de ser o grande responsável pela escalada de tensão.
Na segunda-feira, o regime iraniano avisou que está a poucos dias de ultrapassar o limite de acumulação de urânio enriquecido estabelecido pelo acordo nuclear de 2015. Tinha já avisado que o faria, porque deixaria de cumprir algumas exigências do acordo, abandonado pelos EUA, como forma de pressionar os parceiros europeus a renegociar o acordo e travar as consequências das sanções norte-americanas aos sectores bancário e petrolífero iranianos.
As forças armadas norte-americanas divulgaram esta segunda-feira novas imagens, agora a cores, do que dizem ser a operação de sabotagem aos dois petroleiro. As imagens, dizem os militares dos EUA, provêm de um helicóptero norte-americano que sobrevoava a zona após as explosões.
Nas imagens podem-se ver operacionais, vestidos de preto e com coletes salva-vidas laranja florescentes, num pequeno barco próximos do petroleiro japonês. Segundo os EUA, estarão a retirar uma mina-lapa que não explodiu.
Washington foi célere a atribuir as responsabilidades à República Islâmica, mas o presidente da empresa proprietária do petroleiro japonês, Yutaka Katada, garantiu que as explosões foram causadas por objectos voadores – fala na hipótese de terem sido balas – e não por minas, acusando as imagens de serem “falsas”. O Governo japonês, cujo primeiro-ministro, Shinzo Abe, visitava o Irão na altura dos ataques, optou por se distanciar da posição norte-americana. Escolheu manter a neutralidade da questão e salvaguardar as boas relações com Teerão.
Alemanha e Holanda, por sua vez, preferiram ser cautelosas ao não acusar directamente o Irão, aguardando por mais informações. O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Maas, disse que os Estados-membros da União Europeia “continuam a recolher informação”, enquanto o seu homólogo holandês se limitou a dizer que a Holanda “está interessada em quaisquer esclarecimentos que possam ficar disponíveis”.
Washington conta com o apoio da Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos na atribuição das responsabilidades ao Irão. Os dois Estados árabes são históricos inimigos de Teerão e aliados fundamentais dos Estados Unidos no Médio Oriente. Washington, Ríade e Abu Dhabi aproximaram-se bastante desde que Donald Trump chegou à Casa Branca.
A versão norte-americana também está a ser contestada por alguns analistas que afirmam poder tratar-se de uma operação de falsa bandeira – operação conduzida por um Estado para responsabilizar outro, criando pretexto para uma reacção. A sê-lo, há precedentes históricos: entre 1987 e 1988, na chamada “guerra dos petroleiros”, Teerão usou minas para atingir petroleiros de vários países na zona, obrigando a Marinha dos Estados Unidos a operações de escolta durante algum tempo.
“A decisão norte-americana de não dar uns dias para uma investigação completa não deixa dúvidas sobre as intenções dos EUA”, escreveu Stephen Collinson numa análise na CNN. “Washington insiste que a sua nova estratégia de pressão política e económica contra o Irão tem como objectivo forçar o regresso da República Islâmica à mesa das negociações. Mas muitos aliados dos EUA receiam que seja mais provável um confronto militar”, explicou.
Mas há analistas que responsabilizam Teerão de cometer um grave erro de cálculo com os ataques. “Se os iranianos pensam que Trump vai hesitar em fazer o que for necessário para manter os Estados Unidos e os nossos aliados em segurança e as vias de transporte petrolíferas marítimas abertas, então estão a cometer um erro de cálculo perigoso”, afirmou Jim Hanson numa análise na Fox News.