Olhe em frente e incline a cabeça para baixo: assim parecerá mais dominante

Percebeu-se que uma ligeira inclinação da cabeça para baixo – mesmo que não mexa os músculos da cara – pode dar-lhe um ar mais dominante. O segredo está nas sobrancelhas.

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Da esquerda para a direita: cabeça inclinada para baixo; posicionada para a frente; e inclinada para cima Revista Psychological Science

Um olhar fixo em frente e a cabeça ligeiramente inclinada para baixo – mais precisamente a dez graus. Se fizer este movimento, parecerá uma pessoa mais dominante. Esta é a conclusão de dois cientistas do Canadá publicada na última edição da revista Psychological Science. Segundo os autores, esta é a primeira prova de que a inclinação da cabeça nos pode dar a percepção de que outra pessoa é mais dominante através de um movimento puramente ilusório: afinal, os músculos da cara podem nem se mexer quando a cabeça se inclina.

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Um olhar fixo em frente e a cabeça ligeiramente inclinada para baixo – mais precisamente a dez graus. Se fizer este movimento, parecerá uma pessoa mais dominante. Esta é a conclusão de dois cientistas do Canadá publicada na última edição da revista Psychological Science. Segundo os autores, esta é a primeira prova de que a inclinação da cabeça nos pode dar a percepção de que outra pessoa é mais dominante através de um movimento puramente ilusório: afinal, os músculos da cara podem nem se mexer quando a cabeça se inclina.

A forma como os músculos faciais se movem e influenciam as impressões sociais é algo já bastante estudado. Mas Zachary Witkower e Jessica Tracy, da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá) e os autores da recente investigação, quiseram analisar especificamente como é que o movimento e a posição da cabeça podem ter um papel na interacção social.

“Sabe-se pouco sobre como a posição da cabeça poderá influenciar os julgamentos sobre a personalidade, o estatuto social ou – ainda mais importante – como é que a posição da cabeça poderá mudar a forma como as expressões faciais são percepcionadas”, explicou Zachary Witkower ao site MedicalResearch.com, especializado em entrevistas de investigadores em medicina.

E, no artigo científico, assinala-se mesmo: “Estudos anteriores sugeriram que os movimentos da cabeça contribuem para percepções de domínio, mas a direcção e o mecanismo por detrás deste efeito permanecem vagos.”

Para analisar como e por que é que a posição da cabeça pode influenciar os julgamentos sociais através da expressão facial, os dois cientistas fizeram oito estudos. Num deles, criaram avatares com uma expressão facial neutra (sem expressão facial nem movimentos dos músculos) e com três diferentes posições da cabeça: inclinada dez graus para cima, tombada dez graus para baixo e posicionada para a frente de forma neutra (zero graus). Depois, 101 participantes avaliaram o domínio presente em cada uma dessas imagens.

No geral, os participantes referiram que os avatares com a cabeça inclinada para baixo tinham um aspecto mais dominante do que os restantes avatares. “Esta pessoa parece gostar de ter controlo sobre as outras”, assinalou um dos avaliadores. Num outro estudo, que teve a participação de mais de 500 pessoas e foram usadas imagens de pessoas reais, o resultado foi semelhante.

Em forma de V

Através dos resultados dos outros estudos, verificou-se ainda que a porção da cara à volta dos olhos e das sobrancelhas é “necessária” e “suficiente” para produzir o efeito de domínio, frisa-se num comunicado da Associação para a Ciência Psicológica (nos Estados Unidos), que detém a Psychological Science.  “Os participantes avaliaram as cabeças inclinadas para baixo como mais dominantes mesmo quando só viam os olhos e as sobrancelhas, o que já não se observava quando o resto da cara era visível, mas os olhos e as sobrancelhas estavam escondidos”, lê-se.

Por que é que isto acontece? De acordo com Zachary Witkower e Jessica Tracy, quando se inclina a cabeça para baixo, as sobrancelhas aparentam ficar com uma forma em V e mais para baixo – mesmo que não se movam –, o que está associado à percepção social de domínio. “Estas mudanças na expressão das sobrancelhas causam a percepção que a cara está mais intimidante, dominante e agressiva para quem está a ver”, sublinha Zachary Witkower ao PÚBLICO.

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Na linha de cima, avatares; nas restantes linhas, imagens reais Revista Psychological Science

“Mostrámos que a inclinação da cabeça para baixo muda sistematicamente a forma como a cara é percepcionada”, concluem os autores no comunicado, sublinhando que uma cara com uma expressão neutra pode ser dominante apenas com o inclinar da cabeça. “Estes resultados sugerem que as ‘caras neutras’ podem ser bastante comunicativas. Ligeiras mudanças na posição da cabeça podem ter efeitos profundos na percepção social.”

De acordo com os autores, esta é a primeira prova de que a inclinação da cabeça pode dar a ilusão de que as sobrancelhas se posicionam mais para baixo e ficam com uma forma em V – um movimento feito pelo músculo corrugador, situado nas sobrancelhas – sem que os músculos da cara se tenham mexido. “Em suma, esta investigação dá-nos a primeira prova de que a inclinação da cabeça aumenta as percepções [sociais] de domínio ao mudar a expressão da cara sem que a musculatura facial se altere”, frisa-se no artigo.

E qual o contributo desta investigação? “Quando passamos por alguém na rua ou no local de trabalho, é frequente que as nossas expressões faciais ou comportamentos mudem”, começa por responder Zachary Witkower. “A nossa investigação sugere também que devemos ponderar como posicionar a nossa cabeça, isto porque uma pequena inclinação de dez graus no ângulo pode mudar radicalmente a forma como os outros nos vêem. Mesmo que as expressões faciais pareçam ‘neutras’ podem conter muita informação social.”

Mesmo assim, os dois cientistas sublinham que esta investigação tem limitações. Por exemplo, não se analisaram muitos ângulos da posição da cabeça. Estudaram-se sobretudo os ângulos de dez graus. Como tal, continuarão a investigar o papel da inclinação da cabeça na percepção social. Será que a posição da cabeça pode dar a ilusão de outras expressões faciais sem que se mexa um único músculo?