O futuro de Centeno no PS e o PS no futuro de Centeno
Tem-se mantido em silêncio, mas a assistir a tudo na primeira fila, uma terceira figura que pode baralhar as contas de todos os putativos candidatos a líder: Mário Centeno.
Há menos de um ano, na Batalha, o PS reuniu-se num congresso que, como todos sabiam, não implicava nenhuma mudança estrutural no partido. A liderança estava definida, o Governo estável e o futuro nas mãos de um homem de 57 anos que, além de ser primeiro-ministro, quis deixar bem claro que ainda não meteu os papéis para a reforma.
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Há menos de um ano, na Batalha, o PS reuniu-se num congresso que, como todos sabiam, não implicava nenhuma mudança estrutural no partido. A liderança estava definida, o Governo estável e o futuro nas mãos de um homem de 57 anos que, além de ser primeiro-ministro, quis deixar bem claro que ainda não meteu os papéis para a reforma.
Nessa altura - bastante improvável para abrir o capítulo da sucessão no PS -, duas figuras aproveitaram a reunião magna para marcar terreno no futuro do partido. Pedro Nuno Santos surgiu como o herdeiro da ala esquerda do PS, por oposição a Fernando Medina.
O primeiro apresentou uma moção sectorial na qual assumiu uma “visão estratégica” para a economia com o Estado a intervir como regulador e como dinamizador de “missões colectivas" e assumiu que "não é com o PSD e com o CDS” que o Estado Social pode ser protegido. O segundo foi mais moderado, defendeu haver “matérias em que o diálogo tem de ser muito transversal e abrangente” e deixou um aviso: “É essencial que o PS seja claro sobre a forma como vai traduzir os valores na vida dos cidadãos. Isso é muito mais importante do que qualquer debate feito no éter.”
Independentemente de o momento ser mais ou menos certo, Pedro Nuno Santos e Fernando Medina conseguiram colocar-se na pole position para o cenário do PS pós-António Costa. Ambos garantiram que nada acontecerá sem que os dois sejam tidos em conta. E é certo que ninguém estará em condições de questionar os currículos do (agora) ministro que garantiu o funcionamento da “geringonça” durante três anos e do autarca que sucedeu a Costa na presidência da maior câmara do país.
Mas eu diria que há alguém que ainda pode a atrapalhar a disputa entre estes herdeiros de Costa. Tem-se mantido em silêncio, mas a assistir a tudo na primeira fila, uma terceira figura capaz de baralhar as contas de todos os putativos candidatos a líder: Mário Centeno.
O futuro do ministro das Finanças, do presidente do Eurogrupo, do pai do défice mais baixo da democracia, do cabeça de lista pelo Algarve que foi disputado por várias distritais do PS, do braço-direito de Costa no Governo também irá a votos em Outubro de 2019. A política que seguiu, muito marcada pela ideia do cumprimento das metas e das cativações, vai receber um cartão verde, vermelho ou amarelo dos portugueses e isso pode traçar-lhe um destino inesperado.
Se o rumo se mantiver e o país resistir ao abrandamento sem entrar em crise, Mário Centeno terá de ser tido em conta no futuro do PS, mesmo que nunca tenha dito uma palavra sobre o assunto.
Em Março, entrevistado pela SIC e questionado sobre se iria continuar como ministro das Finanças porque isso lhe garante a presidência do Eurogrupo, se iria apostar num cargo de comissário europeu ou se preferiria ser o próximo governador do Banco de Portugal, fugiu à pergunta: "A legislatura é um compromisso de grande importância, vamos deixá-la terminar e lá mais para Setembro falaremos disso”. O silêncio, neste caso, é duplamente valioso. Porque em política tudo pode mudar demasiado depressa e porque o futuro é sempre um lugar estranho.