Póvoa de Varzim vai deitar abaixo praça de touros
Demolição deverá acontecer no início do próximo ano. Novo equipamento multiusos quer completar “vocação turística e cultural” da cidade e tem abertura prevista para 2022. Mais de 90% das autarquias nacionais já não subsidia touradas
A morte da praça de touros da Póvoa de Varzim estava anunciada há já um ano. Mas a sua demolição – e não a reconversão, como se chegou a equacionar – é uma novidade. Depois de diversos ensaios feitos no local, a equipa projectista aconselhou a “demolição total da estrutura”, adiantou ao PÚBLICO o presidente da câmara, Aires Pereira. A “memória da praça” está, no entanto, garantida. Porque aos arquitectos responsáveis pelo projecto foi sempre dito que “a forma da praça era para manter”.
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A morte da praça de touros da Póvoa de Varzim estava anunciada há já um ano. Mas a sua demolição – e não a reconversão, como se chegou a equacionar – é uma novidade. Depois de diversos ensaios feitos no local, a equipa projectista aconselhou a “demolição total da estrutura”, adiantou ao PÚBLICO o presidente da câmara, Aires Pereira. A “memória da praça” está, no entanto, garantida. Porque aos arquitectos responsáveis pelo projecto foi sempre dito que “a forma da praça era para manter”.
A tradição local das corridas de touros e espectáculos com cavalos tem registos no século XIX, ainda em praças improvisadas do território. E há 70 anos – no dia 19 de Junho – a população viu a sua reivindicação por uma praça ganhar corpo. Ao mudar o rumo da cidade neste capítulo, quebrando com essa “cultura ancestral”, Aires Pereira sabe estar uma tomar uma decisão que não é pacífica. Mas garante não estar preocupado com isso: “Evoluímos no tempo, o comportamento da sociedade mudou.”
Nas ruas poveiras, o social-democrata tem, apesar de tudo, sentido algum “alinhamento” com esta sentença. Até porque se durante a campanha eleitoral este tema não foi debatido, o corte dos subsídios ao sector tauromáquico era já uma realidade. E um indício da postura do executivo.
A primeira viragem na “novela” aconteceu precisamente quando Aires Pereira decidiu “deixar de subsidiar as touradas”, através da cedência do espaço para dois eventos anuais. Um ano depois, em Junho de 2018, levou a Assembleia Municipal uma proposta onde reafirmava essa deliberação e apresentava um projecto de transformação da praça num espaço multiusos, o “Póvoa Arena”, com um investimento de sete milhões de euros. Só o CDS votou contra.
“Se puxarmos a cassete atrás vemos, por exemplo, que fomos dos primeiros municípios a decretar o fim da eutanásia de animais. Mesmo antes de a lei sair. Os circos com animais também. O clube de tiro”, elencou, resumindo a sua postura quanto ao assunto numa frase: “Somos contra o tratamento violento de animais.”
A Plataforma Basta de Touradas aplaude a decisão poveira, semelhante à tomada em Viana do Castelo, de fazer “um espaço que possa ser usado por toda a população e não apenas por uma minoria e duas vezes por ano”, sublinha Sérgio Caetano.
Para o coordenador da plataforma houve uma “evolução gigantesca” no país nesta matéria, com uma “tendência de decréscimo” dos municípios apoiantes de touradas a cair nos últimos “cinco ou seis anos”. Neste momento, diz citando dados da Inspecção Geral Das Actividades Culturais (IGAC), “já só 12% dos municípios ainda têm touradas”.
O trabalho da plataforma tem sido o de “sensibilização para o tema, através da informação”, sintetiza: “Havia uma falsa ideia de que as touradas moviam milhares de pessoas e de milhões de euros.” E para Sérgio Caetano a percepção não podia estar mais errada: “As touradas são um negócio falido que só sobrevive com os apoios das autarquias.” São cada vez menos as que o fazem, mas há ainda alguns milhões entregues ao sector. No pódio das cidades que mais dinheiro gastam, informa, estão “Vila Franca de Xira, Santarém e Montijo”.
Contactada pelo PÚBLICO, a PróToiro, associação que promove as touradas como património imaterial das artes e da cultura portuguesa, considera que a recuperação da praça “deve manter a sua função original e acrescentar outras actividades”. Por essa razão, o projecto apresentado, que exclui de forma “explícita e intencional” as touradas, é “uma discriminação cultural contra a liberdade de escolha dos poveiros”.
A PróToiro, que respondeu ao PÚBLICO apenas esta quarta-feira, considera que a demolição da praça de touros da Póvoa é uma “violação clara e inequívoca” das obrigações legais do município e promete que vai continuar a defender a cultura tauromáquica contra “devaneios políticos”.
Tomada a decisão de demolir a praça, inicia-se agora um processo de abertura de concurso público. Tendo em conta o “momento difícil de contratualização”, Aires Pereira admite que “ficaria muito satisfeito” se a demolição avançasse no início do próximo ano. Já a obra tem um prazo de execução previsto de 18 meses, mas pelas mesmas razões o autarca admite a sua realização em dois anos. Feitas as contas, algures em 2022 a Póvoa de Varzim estaria a inaugurar o seu novo espaço.
Será um “edifício âncora” naquela zona, acredita. Para o exterior estão pensados estabelecimentos comerciais, para o interior a construção de um “espaço multiusos” com capacidade para receber três mil pessoas e um auditório coberto. Ali poderão realizar-se “actividades desportivas, feiras ou espectáculos musicais”, exemplificou. “Não existe na Póvoa uma sala de espectáculos suficientemente grande. Esta virá complementar a vocação turística e cultural da cidade.”
Notícia actualizada às 16h52 de 19 de Junho com as declarações da PróToiro.